São Paulo, domingo, 23 de maio de 2010

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Lost e o fim da TV

EUA assistem hoje ao final da série que foi um dos maiores fenômenos da história da televisão; programa marca transição para a imagem do futuro aliada à internet

Paul Popper/Popperfoto/Getty Images/Divulgação
Montagem realizada com foto de família norte-americana diante de aparelho de TV, em1954, e imagem de "Lost" com cientista do Dharma, projeto que estuda os mistérios da ilha

LAURA MATTOS
DE SÃO PAULO

O que vai ao ar nesta noite na TV dos EUA não é só o último episódio de uma das séries mais caras e de maior audiência de todos os tempos. O fim de "Lost" é o marco da transição entre a televisão do passado e a do futuro. Os distribuidores da série armaram uma estratégia inédita para tentar reduzir o acesso pirata ao desfecho - que, assim como qualquer episódio de séries de sucesso, vai ao ar ao vivo na internet e em poucas horas surge legendado em várias línguas.
A Disney fez acordo com TVs da Europa, de Israel e do Canadá para veicular o final simultaneamente aos EUA. Outros 59 países, Brasil inclusive, assistirão no máximo 48 horas depois, um recorde - a espera antes era entre seis meses e um ano. Empresas de TV atiram para todos os lados tentando manter o seu poder diante do crescimento da internet e do surgimento de novas mídias.
No Brasil não é diferente. Hoje, enquanto o segredo de "Lost" é revelado, os dotes artísticos da ex-BBB Sabrina Sato serão vistos em 3D pelos primeiros compradores de TVs com essa tecnologia.
A Rede TV! se anuncia como a primeira TV aberta do mundo a transmitir ao vivo em 3D. Será no "Pânico", a partir das 21h. A operação segue com o "Superpop" e sábado tem futebol, que deve ser o maior filão da TV em 3D.
"Não dá para ignorar o crescimento da internet e achar que não ofenderá nosso mercado. Daqui a pouco a maior TV do Brasil vai faturar menos do que o maior portal de internet do país", aposta Kalled Adib, superintendente de operações da RedeTV!. Na Inglaterra, a publicidade na internet superou a da TV em 2008. No Brasil, a TV aberta ainda concentra mais de 60% do mercado (contra menos de 5% da internet). Nossa TV convencional, como na maior parte do mundo, segue em situação confortável.
Segundo o Ibope, o brasileiro via 4 horas e 37 minutos de TV por dia em 2001 e passou a 5 horas e 18 minutos em 2009. E, por enquanto, é o seu conteúdo que mobiliza o público, no velho televisor ou outras mídias.

A QUALQUER HORA
Mas outros dados impressionam. O número de pessoas ligadas em DVD e videogame em 2009 superou a audiência da Band e RedeTV!. O mercado também já considera urgente o lançamento de uma medição de audiência de programas vistos em outras mídias, como celular, miniTV, iPod e internet ou gravados pelo telespectador. O horário nobre dos EUA vive fenômeno curioso. Com a alta concorrência das 21h, o espectador vê um programa no momento em que é transmitido e grava outro para assistir na sequência. Com isso, a programação das 22h passou a disputar com a das 21h.
A Folha apurou que o Ibope tem cem aparelhos (chamados DIB6) que serão instalados em televisores até o fim do ano para medir a audiência de programas gravados. O instituto fornecerá, além da audiência em tempo real, a "over night", no dia seguinte, e a acumulada por uma semana ou mais. Em uma segunda fase, o DIB6 será instalado em computadores para medir o acesso de programas em portais.
O Ibope negocia com TVs e o mercado publicitário se a audiência dos programas somará TVs e computadores ou se os resultados serão divulgados separadamente. A grande equação é saber o quanto continuar investindo no modelo convencional, ainda responsável pelo sustento da indústria, e quanto focar em novos negócios.
Na MTV brasileira, todos os programas são pensados para o televisor e outras mídias. Alguns trazem na tela da TV comentários feitos pelo público na internet. Um novo portal será lançado com vídeos já exibidos na TV. Na estreia da novela "Passione", na segunda, uma personagem surgiu vendo um evento esportivo pelo iPhone. A cena é simbólica do quanto mesmo a Globo, apesar de líder, sabe que não pode navegar contra a corrente.


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