São Paulo, quarta-feira, 23 de junho de 2004

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Sinfonia do humor

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Maurício Pereira (esq.) e Hugo Possolo em ensaio de "Os Reis do Riso", que estréia hoje em São Paulo


Banda Sinfônica e Parlapatões homenageiam o cancioneiro nacional em "Os Reis do Riso"

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um concerto sinfônico não harmoniza com gargalhadas, venham elas da audiência ou dos músicos. Tampouco se concebe a figura de um maestro à caça de um dos sapatos que lhe foi retirado em plena fuzarca.
Tudo isso acontece em "Os Reis do Riso", projeto no qual a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo recebe os Parlapatões, Patifes e Paspalhões. Trata-se de encontro inusitado, mas a calhar com o trabalho que o maestro Abel Rocha desenvolve desde o início do ano à frente da banda.
Recentemente, o grupo recebeu como solista convidado o multiinstrumentista Egberto Gismonti. Também fez incursão pela música barroca com o quinteto de clarinetistas Sujeito a Guincho. Agora, fecha o semestre ao lado dos Parlapatões numa homenagem à sina do bom humor no cancioneiro nacional.
"Espero que o público compactue com essa experiência, mais um exemplo da diversidade da Banda Sinfônica", diz Rocha, 42, que já fez a direção musical de montagens da trupe, como em "Pantagruel" (2001).
O ator e palhaço Hugo Possolo, 42, assina o roteiro de "Os Reis do Riso". Ele dispensa panoramas históricos em favor de "toda e mais ampla licença poética que qualquer comediante teria".
Daí o "samba do crioulo doido", para citar o título da composição de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta (1923-68), um dos homenageados. A lista do repertório é peculiar e deve chegar a cerca de 20 nomes: Mamonas Assassinas, Lamartine Babo, Noel Rosa, Chico Buarque, Alvarenga e Ranchinho etc.
Num dos quadros, a referência é o bairro da Bela Vista, o popular Bexiga, justamente onde fica o Sérgio Cardoso, endereço das apresentações de hoje a domingo.
Adoniran Barbosa, com seu "Samba do Bixiga", e Língua de Trapo, com "Conchetta", dão liga às versões "ítalo-paulistanas" do elenco, misto de opereta e teatro de revista, referências assumidas ainda nos figurinos predominantemente em preto-e-branco e na cenografia (cortinas laterais, ribalta iluminada, enfeites que emolduram o palco, projeções de imagens e até o buraco do "ponto" está lá, com o dito cujo oculto na boca do proscênio, a "assoprar" as falas dos atores quando na iminência de um "branco").
Dono de teatralidade nata em suas bandas (Os Mulheres Negras e Fanzine) ou na carreira solo, o músico e compositor Maurício Pereira investe pela primeira vez como ator, ainda que toque um ou outro instrumento, além de cantar, como os demais colegas. "Sou familiar a esse tipo de experimentação e sinto-me estimulado com o "timing" humorístico dos Parlapatões", diz Pereira, 44.
A pianista e cravista Stella Almeida, que toca na Banda Sinfônica desde a fundação, há quase 15 anos, diz não conhecer bem o "métier" teatral, mas está se divertindo. "Antes de ser musicista tradicional, fui bailarina", conta Almeida, 41, redespertada para o jogo de cena.
Participar do projeto exige fôlego redobrado dos músicos (foram escalados 37 dos 84 integrantes da Banda Sinfônica). Em dois arranjos de Miguel Briamonte (maestro do musical "Chicago"), os instrumentistas bradam contra o regente ("A Revolta na Banda") e promovem um racha do grupo ("Abundância: Concerto para Duas Bandas e Conjuntinho").
Esses momentos de ponta-cabeça farão a alegria do elenco formado ainda por Raul Barretto, Claudinei Brandão, Henrique Stroeter, Andrezza Massei, Nô Stopa e Hélio Pottes, nomes que transitam entre o teatro e o circo. E, como é Parlapatões, haverá brecha para os cacos ("cacofonia"?), gíria para quando um ator improvisa sobre o texto original em busca de efeito cômico.

OS REIS DO RISO. Composições e arranjos: Miguel Briamonte. Roteiro e direção: Hugo Possolo. Regência: Abel Rocha. Com Banda Sinfônica do Estado e Parlapatões, Patifes e Paspalhões. Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, Bela Vista, São Paulo, tel. 0/xx/11/ 288-0136). Quando: estréia hoje; qua. a sáb., às 21h; dom., às 19h; até 27/6. Quanto: R$ 20.


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