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TEATRO
Montagem com Luís Gustavo e Marisa Orth inaugura amanhã programação regular do Fecomercio, na Bela Vista
"Misery" "ressuscita" suspense nos palcos
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dos mais de 70 espetáculos em
cartaz em São Paulo, nenhum
pertence à categoria do terror psicológico/suspense. Ou nenhum
pertencia. Quase sempre associado às telas do cinema, o gênero
ganha amanhã um representante
no palco. Trata-se de "Misery",
baseado na obra de Stephen King.
Escolhida para dar início à programação fixa do teatro Fecomercio, inaugurado em agosto de
2004 na Bela Vista, a montagem
orçada em R$ 250 mil traz Luís
Gustavo e Marisa Orth sob a direção do espanhol Ricard Reguant.
"Na Espanha, fiz 15 peças de
mistério, suspense ou policial.
Mas, pelo que me contou a Marília [Toledo, produtora da peça],
não há uma tradição desse tipo de
teatro aqui no Brasil. Penso que
com Stephen King se pode, ao
menos, dar ao público uma forma
diferente de ver teatro. Não é bom
que todos vejam sempre Shakespeare, Eurípides, comédia ou musical", diz Reguant, que readaptou
o texto a partir de uma versão do
inglês Simon Moore e o dirigiu
em cidades espanholas.
Na adaptação de "Misery"
("Louca Obsessão") para o cinema, que rendeu a Kathy Bates o
Oscar de melhor atriz, e em qualquer obra cinematográfica do gênero, a tensão fica a cargo dos closes, dos cortes de câmera, de expressões minimalistas e da trilha
sonora. E no teatro, como se dá?
"Os truques são sempre um
problema. É difícil encontrar o
efeito perfeito para quando se
corta o pé [de Paul Sheldon] ou
para que o ambiente e a música
envolvam o público", desconversa Reguant. "Não pretendemos
fazer um espetáculo de grandes
efeitos. Não é uma superprodução, não é "O Fantasma da Ópera"
nem "A Bela e a Fera". O público
vem para ver o trabalho dos atores", avisa Marília Toledo.
Em relação às montagens de
"Misery" na Europa, a brasileira é
mais breve. Tem uma hora e 40
minutos de duração, o que, segundo Reguant, cria um clima
mais aterrorizante.
"Quando a peça estreou em
Londres, durava quase três horas.
Simon era muito fiel ao romance.
O que ocorria era que a parte da
tensão, do mistério e do suspense
se diluía e ia se perdendo", diz.
Conciso também foi o tempo de
ensaio da montagem: seis semanas. O que é pouco para os padrões brasileiros, para o diretor
espanhol, é "surpreendente".
"Aqui se leva três meses para
montar um espetáculo, o que na
Europa é impossível. Arruina-se o
produtor. Sempre monto em quatro semanas", compara.
Acostumado a fazer teatro com
leitura de mesa e sucessivos ensaios, Luís Gustavo diz estar vivendo uma experiência nova. "O
Ricard levanta a peça numa semana, marca em outra, ensaia em
três e abre o pano. Você fica um
pouco desfalcado de domínio. O
que vem pela frente você mata,
mas não é uma coisa que está vendo antes de matar", diz o ator.
Da comédia ao suspense
"Eu não quero falar do "Sai de
Baixo". Foram seis anos, não é justo que a gente fique carregando
esse estigma para o resto da vida.
Sempre fui ligado à comédia, mas
fiz outras coisas, fiz teatro com o
Plínio Marcos", diz Luís Gustavo,
que, como Marisa Orth, tenta desgrudar de sua imagem o rótulo da
comédia.
"Eu achava, quando comecei,
que eu era uma atriz dramática.
Foi uma surpresa para mim a comédia. Ao contrário do que se
pensa, com a TV eu aprendi que
eu era uma boa atriz de comédia.
E acho que sou mesmo, não estou
jogando isso fora", diz a atriz.
Orth interpreta a enfermeira
psicopata Annie Wilkes, "fã número um" do escritor Paul Sheldon. Após sofrer um acidente de
carro, Paul é socorrido por Annie,
que o priva de liberdade e o obriga
a "ressuscitar" a personagem Misery em seu romance.
"É um papel difícil, que oscila de
emoção para caramba. Se fosse
um papel de ópera, a Annie teria
uma escala do grave para o agudo.
Como todo papel muito ousado, a
canastrice está do lado. É um risco
enorme. Não tem coisa que mais
morra de medo do que [ser]
aquela louca malfeita. Você vê o
Jack Nicholson em "O Iluminado"
-não estou querendo, em nenhum momento, me comparar a
ele. Eu diria que ele faz uma canastrice, mas é de uma coragem."
Misery
Quando: estréia hoje, às 21h30; sex., às
21h30, sáb., às 21h, e dom., às 19h; até 25
de setembro
Onde: teatro Fecomercio (r. Dr. Plínio
Barreto, 285, Bela Vista, SP, tel. 0/xx/11/
3188-4149)
Quanto: R$ 60
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