São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 2005

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TEATRO

Montagem com Luís Gustavo e Marisa Orth inaugura amanhã programação regular do Fecomercio, na Bela Vista

"Misery" "ressuscita" suspense nos palcos

JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dos mais de 70 espetáculos em cartaz em São Paulo, nenhum pertence à categoria do terror psicológico/suspense. Ou nenhum pertencia. Quase sempre associado às telas do cinema, o gênero ganha amanhã um representante no palco. Trata-se de "Misery", baseado na obra de Stephen King.
Escolhida para dar início à programação fixa do teatro Fecomercio, inaugurado em agosto de 2004 na Bela Vista, a montagem orçada em R$ 250 mil traz Luís Gustavo e Marisa Orth sob a direção do espanhol Ricard Reguant.
"Na Espanha, fiz 15 peças de mistério, suspense ou policial. Mas, pelo que me contou a Marília [Toledo, produtora da peça], não há uma tradição desse tipo de teatro aqui no Brasil. Penso que com Stephen King se pode, ao menos, dar ao público uma forma diferente de ver teatro. Não é bom que todos vejam sempre Shakespeare, Eurípides, comédia ou musical", diz Reguant, que readaptou o texto a partir de uma versão do inglês Simon Moore e o dirigiu em cidades espanholas.
Na adaptação de "Misery" ("Louca Obsessão") para o cinema, que rendeu a Kathy Bates o Oscar de melhor atriz, e em qualquer obra cinematográfica do gênero, a tensão fica a cargo dos closes, dos cortes de câmera, de expressões minimalistas e da trilha sonora. E no teatro, como se dá?
"Os truques são sempre um problema. É difícil encontrar o efeito perfeito para quando se corta o pé [de Paul Sheldon] ou para que o ambiente e a música envolvam o público", desconversa Reguant. "Não pretendemos fazer um espetáculo de grandes efeitos. Não é uma superprodução, não é "O Fantasma da Ópera" nem "A Bela e a Fera". O público vem para ver o trabalho dos atores", avisa Marília Toledo.
Em relação às montagens de "Misery" na Europa, a brasileira é mais breve. Tem uma hora e 40 minutos de duração, o que, segundo Reguant, cria um clima mais aterrorizante.
"Quando a peça estreou em Londres, durava quase três horas. Simon era muito fiel ao romance. O que ocorria era que a parte da tensão, do mistério e do suspense se diluía e ia se perdendo", diz.
Conciso também foi o tempo de ensaio da montagem: seis semanas. O que é pouco para os padrões brasileiros, para o diretor espanhol, é "surpreendente".
"Aqui se leva três meses para montar um espetáculo, o que na Europa é impossível. Arruina-se o produtor. Sempre monto em quatro semanas", compara.
Acostumado a fazer teatro com leitura de mesa e sucessivos ensaios, Luís Gustavo diz estar vivendo uma experiência nova. "O Ricard levanta a peça numa semana, marca em outra, ensaia em três e abre o pano. Você fica um pouco desfalcado de domínio. O que vem pela frente você mata, mas não é uma coisa que está vendo antes de matar", diz o ator.

Da comédia ao suspense
"Eu não quero falar do "Sai de Baixo". Foram seis anos, não é justo que a gente fique carregando esse estigma para o resto da vida. Sempre fui ligado à comédia, mas fiz outras coisas, fiz teatro com o Plínio Marcos", diz Luís Gustavo, que, como Marisa Orth, tenta desgrudar de sua imagem o rótulo da comédia.
"Eu achava, quando comecei, que eu era uma atriz dramática. Foi uma surpresa para mim a comédia. Ao contrário do que se pensa, com a TV eu aprendi que eu era uma boa atriz de comédia. E acho que sou mesmo, não estou jogando isso fora", diz a atriz.
Orth interpreta a enfermeira psicopata Annie Wilkes, "fã número um" do escritor Paul Sheldon. Após sofrer um acidente de carro, Paul é socorrido por Annie, que o priva de liberdade e o obriga a "ressuscitar" a personagem Misery em seu romance.
"É um papel difícil, que oscila de emoção para caramba. Se fosse um papel de ópera, a Annie teria uma escala do grave para o agudo. Como todo papel muito ousado, a canastrice está do lado. É um risco enorme. Não tem coisa que mais morra de medo do que [ser] aquela louca malfeita. Você vê o Jack Nicholson em "O Iluminado" -não estou querendo, em nenhum momento, me comparar a ele. Eu diria que ele faz uma canastrice, mas é de uma coragem."


Misery
Quando:
estréia hoje, às 21h30; sex., às 21h30, sáb., às 21h, e dom., às 19h; até 25 de setembro
Onde: teatro Fecomercio (r. Dr. Plínio Barreto, 285, Bela Vista, SP, tel. 0/xx/11/ 3188-4149)
Quanto: R$ 60


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