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Capitão Presença se lança à criação coletiva
ALEXANDRE MATIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Enquanto as luxuosas instalações do hotel Marriott recebem, em Copacabana, no Rio de
Janeiro, a cúpula mundial do
conhecimento compartilhado
ao redor de sua grife mais reluzente - a marca Creative Commons-, um informal baixo clero deste mesmo setor reúne-se
em Ipanema, numa pequena
loja de quadrinhos, roupas e
acessórios alternativos, para
celebrar a entrada no mainstream de seu produto mais bem
recebido pelo mercado: o super-herói Capitão Presença.
"As Aventuras do Capitão
Presença" (Conrad) não apenas
consagra a inspiração coletiva
instigada em toda uma geração
de cartunistas como oficializa a
carreira de Arnaldo Branco, o
pai do personagem, que se
criou na internet e aos poucos
come pelas beiradas do sistema: tornou-se colaborador fixo
da revista "Bizz" e transpôs a
revista independente "F." para
a mesma Conrad que agora o
publica em livro.
Natural que este lançamento
acontecesse sob o manto de seu
personagem mais popular, o
herbífumo voador que reacende a questão das drogas no imaginário coletivo brasileiro -em
seu caso, especificamente, a
maconha. Enquanto nomes
que se tornaram referências canábicas tupiniquins, como Gil,
D2 ou Gabeira, hoje pigarreiam
antes de começar a falar do assunto (sem contar as pára-quedistas Soninha e Luana Piovani, que, sem querer, levantaram
e deram bandeira ao mesmo
tempo), o Capitão Presença esfrega na cara a familiaridade
não apenas com a maconha,
mas com o submundo da droga
que o Brasil alimenta e finge
não alimentar.
E não apenas do ponto de vista legal mas também social, medicinal, artístico ou rotineiro.
Afinal, não custa lembrar que o
único superpoder do personagem é ter maconha na hora em
que as pessoas precisam de maconha. Olha como o malandro
carioca foi se reinventar...
Não é mero humor feito para
quem usa drogas, como o excesso de obviedade parece supor. Este, tal como seus em pares de outras eras (Freak Brothers, Cheech & Chong e Wood
& Stock), é só mais um elemento de crítica a este suposto público-alvo.
Isso, claro, sem o mínimo pudor ou formalismo intelectual,
no humor sempre amargo de
Arnaldo Branco, que logo criou
toda uma fauna ao redor do
personagem.
Mas o que une o encontro de
Copacabana com o happy hour
em Ipanema é o fato de o personagem ser um exemplo de conhecimento compartilhado e
produção coletiva.
Criado em duas tiras, Presença ganhou vôo próprio e passou
a ser redesenhado por cartunistas e ilustradores de sua geração que, a despeito (ou justamente por causa) das drogas,
passaram a criar o personagem
de forma coletiva -e assim
Branco publicou o personagem
(e o livro) na licença Creative
Commons. E, enquanto no
iCommons se discute generosidade intelectual em palestras e
workshops, esta mesma generosidade é celebrada, à brasileira, sem tanta teoria e com mais
diversão- e longe, embora a
menos de um bairro de distância, dos gringos.
AS AVENTURAS DO CAPITÃO PRESENÇA
Editora: Conrad
Quanto: R$ 25 (144 págs)
Lançamento: hoje, às 19h, no La Cucaracha (r. Teixeira de Melo, 31-H, Ipanema, Rio, tel. 0/xx/21/2522-0103)
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