São Paulo, sexta-feira, 23 de junho de 2006

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Capitão Presença se lança à criação coletiva

ALEXANDRE MATIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Enquanto as luxuosas instalações do hotel Marriott recebem, em Copacabana, no Rio de Janeiro, a cúpula mundial do conhecimento compartilhado ao redor de sua grife mais reluzente - a marca Creative Commons-, um informal baixo clero deste mesmo setor reúne-se em Ipanema, numa pequena loja de quadrinhos, roupas e acessórios alternativos, para celebrar a entrada no mainstream de seu produto mais bem recebido pelo mercado: o super-herói Capitão Presença.
"As Aventuras do Capitão Presença" (Conrad) não apenas consagra a inspiração coletiva instigada em toda uma geração de cartunistas como oficializa a carreira de Arnaldo Branco, o pai do personagem, que se criou na internet e aos poucos come pelas beiradas do sistema: tornou-se colaborador fixo da revista "Bizz" e transpôs a revista independente "F." para a mesma Conrad que agora o publica em livro.
Natural que este lançamento acontecesse sob o manto de seu personagem mais popular, o herbífumo voador que reacende a questão das drogas no imaginário coletivo brasileiro -em seu caso, especificamente, a maconha. Enquanto nomes que se tornaram referências canábicas tupiniquins, como Gil, D2 ou Gabeira, hoje pigarreiam antes de começar a falar do assunto (sem contar as pára-quedistas Soninha e Luana Piovani, que, sem querer, levantaram e deram bandeira ao mesmo tempo), o Capitão Presença esfrega na cara a familiaridade não apenas com a maconha, mas com o submundo da droga que o Brasil alimenta e finge não alimentar.
E não apenas do ponto de vista legal mas também social, medicinal, artístico ou rotineiro. Afinal, não custa lembrar que o único superpoder do personagem é ter maconha na hora em que as pessoas precisam de maconha. Olha como o malandro carioca foi se reinventar...
Não é mero humor feito para quem usa drogas, como o excesso de obviedade parece supor. Este, tal como seus em pares de outras eras (Freak Brothers, Cheech & Chong e Wood & Stock), é só mais um elemento de crítica a este suposto público-alvo. Isso, claro, sem o mínimo pudor ou formalismo intelectual, no humor sempre amargo de Arnaldo Branco, que logo criou toda uma fauna ao redor do personagem.
Mas o que une o encontro de Copacabana com o happy hour em Ipanema é o fato de o personagem ser um exemplo de conhecimento compartilhado e produção coletiva.
Criado em duas tiras, Presença ganhou vôo próprio e passou a ser redesenhado por cartunistas e ilustradores de sua geração que, a despeito (ou justamente por causa) das drogas, passaram a criar o personagem de forma coletiva -e assim Branco publicou o personagem (e o livro) na licença Creative Commons. E, enquanto no iCommons se discute generosidade intelectual em palestras e workshops, esta mesma generosidade é celebrada, à brasileira, sem tanta teoria e com mais diversão- e longe, embora a menos de um bairro de distância, dos gringos.


AS AVENTURAS DO CAPITÃO PRESENÇA
Editora:
Conrad
Quanto: R$ 25 (144 págs)
Lançamento: hoje, às 19h, no La Cucaracha (r. Teixeira de Melo, 31-H, Ipanema, Rio, tel. 0/xx/21/2522-0103)


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