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MÚSICA
Filme "No Direction Home", de Martin Scorsese, registra o período mais criativo do compositor, entre 1961 e 1966
Scorsese invade privacidade de Bob Dylan
CIAR BYRNE
DO "INDEPENDENT"
Bob Dylan, 65, rompeu décadas
de silêncio para falar sobre os
anos mais importantes de sua carreira, num longa dirigido por
Martin Scorsese. O filme vai mostrar, pela primeira vez, o momento em que Dylan foi tachado de
"Judas" em show em 1966.
"No Direction Home" conta a
história dos anos criativos mais
importantes de Dylan, entre 1961
e 1966, e mostra o cantor e compositor, conhecido por prezar sua
privacidade, falando sobre sua infância, relacionamentos e música.
O filme inclui imagens até agora
inéditas das performances de
Dylan, além de entrevistas com
outros artistas cujas vidas estiveram ligadas à sua, como Allen
Ginsberg e Joan Baez, com quem
teve uma relação romântica.
Com 3h30 de duração, o filme
será exibido em duas partes, em
dois dias consecutivos, pela BBC,
no Reino Unido, e, nos EUA, pela
PBS. Scorsese, que se descreve como grande fã de Dylan, não se
reuniu com este enquanto fazia o
filme. O músico lhe concedeu
controle total sobre a edição final.
O empresário de Dylan, Jeff Rosen, conduziu a entrevista, que
durou dez horas em 2000, tendo
sido feita ao longo de uma semana. Mas o perfeccionista Scorsese
só concluiu o filme agora. Não é a
primeira vez que o diretor filma o
compositor. Em 1978, dirigiu "O
Último Concerto de Rock" ("The
Last Waltz"), filme sobre o concerto de despedida da The Band,
que teve a participação de Dylan.
Scorsese disse: "Tive o privilégio
de filmá-lo em "The Last Waltz".
Admirei e curti suas muitas transformações musicais. Não existe
outro artista musical que teça
suas influências tão densamente,
criando algo tão pessoal e único".
Um dos temas importantes do
filme é o ultraje expresso pelos fãs
da música folk acústica de Dylan
quando este introduziu um som
de rock elétrico em seus shows.
O momento do grito de "Judas"
aconteceu num concerto em 17/
5/1966 no Free Trade Hall, em
Manchester, quando, depois de
tocar música folk acústica na primeira parte do show, Dylan apresentou sua banda e passou a fazer
um som elétrico. Scorsese teve
acesso a raras imagens filmadas,
fitas e fotos do arquivo de Dylan,
incluindo as imagens filmadas
por Murray Lerner documentando as apresentações de Dylan no
Festival Folk de Newport entre
1963 e 1965 e o documentário de
D.A. Pennebaker "Don't Look
Back", de 1967, baseado na turnê
de Bob Dylan no Reino Unido.
O documentário será exibido
pela BBC2 em 26 e 27/9 como parte da programação Arena, em comemoração do 30º aniversário da
emissora. Anthony Wall, diretor
da série Arena, disse que o filme é
uma crônica dos anos 1960.
"Assistir ao momento em que
gritaram "Judas" é algo desconcertante", diz Wall. Na época, Dylan
reagiu com uma performance arrasadora de "Like a Rolling Stone". Desde então, diversas pessoas já reivindicaram a responsabilidade pelo grito. "Todas as noites, em todo o país, Dylan fazia a
primeira parte do show acústico,
e todos o chamavam de gênio, e
então ele apresentava o grupo que
iria se tornar a The Band, e o som
deles era muito alto."
"Eles foram a primeira banda
moderna de rock. Metade do público aderia à idéia e metade vaiava. O período de 1961 a 1966 foi
uma época de grande turbulência.
Scorsese parece ter pego essa passagem para o som elétrico como
metáfora para mostrar as transformações da década."
Tradução de Clara Allain
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