São Paulo, sábado, 23 de julho de 2005

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MÚSICA

Filme "No Direction Home", de Martin Scorsese, registra o período mais criativo do compositor, entre 1961 e 1966

Scorsese invade privacidade de Bob Dylan

CIAR BYRNE
DO "INDEPENDENT"

Bob Dylan, 65, rompeu décadas de silêncio para falar sobre os anos mais importantes de sua carreira, num longa dirigido por Martin Scorsese. O filme vai mostrar, pela primeira vez, o momento em que Dylan foi tachado de "Judas" em show em 1966.
"No Direction Home" conta a história dos anos criativos mais importantes de Dylan, entre 1961 e 1966, e mostra o cantor e compositor, conhecido por prezar sua privacidade, falando sobre sua infância, relacionamentos e música.
O filme inclui imagens até agora inéditas das performances de Dylan, além de entrevistas com outros artistas cujas vidas estiveram ligadas à sua, como Allen Ginsberg e Joan Baez, com quem teve uma relação romântica.
Com 3h30 de duração, o filme será exibido em duas partes, em dois dias consecutivos, pela BBC, no Reino Unido, e, nos EUA, pela PBS. Scorsese, que se descreve como grande fã de Dylan, não se reuniu com este enquanto fazia o filme. O músico lhe concedeu controle total sobre a edição final.
O empresário de Dylan, Jeff Rosen, conduziu a entrevista, que durou dez horas em 2000, tendo sido feita ao longo de uma semana. Mas o perfeccionista Scorsese só concluiu o filme agora. Não é a primeira vez que o diretor filma o compositor. Em 1978, dirigiu "O Último Concerto de Rock" ("The Last Waltz"), filme sobre o concerto de despedida da The Band, que teve a participação de Dylan.
Scorsese disse: "Tive o privilégio de filmá-lo em "The Last Waltz". Admirei e curti suas muitas transformações musicais. Não existe outro artista musical que teça suas influências tão densamente, criando algo tão pessoal e único".
Um dos temas importantes do filme é o ultraje expresso pelos fãs da música folk acústica de Dylan quando este introduziu um som de rock elétrico em seus shows.
O momento do grito de "Judas" aconteceu num concerto em 17/ 5/1966 no Free Trade Hall, em Manchester, quando, depois de tocar música folk acústica na primeira parte do show, Dylan apresentou sua banda e passou a fazer um som elétrico. Scorsese teve acesso a raras imagens filmadas, fitas e fotos do arquivo de Dylan, incluindo as imagens filmadas por Murray Lerner documentando as apresentações de Dylan no Festival Folk de Newport entre 1963 e 1965 e o documentário de D.A. Pennebaker "Don't Look Back", de 1967, baseado na turnê de Bob Dylan no Reino Unido.
O documentário será exibido pela BBC2 em 26 e 27/9 como parte da programação Arena, em comemoração do 30º aniversário da emissora. Anthony Wall, diretor da série Arena, disse que o filme é uma crônica dos anos 1960.
"Assistir ao momento em que gritaram "Judas" é algo desconcertante", diz Wall. Na época, Dylan reagiu com uma performance arrasadora de "Like a Rolling Stone". Desde então, diversas pessoas já reivindicaram a responsabilidade pelo grito. "Todas as noites, em todo o país, Dylan fazia a primeira parte do show acústico, e todos o chamavam de gênio, e então ele apresentava o grupo que iria se tornar a The Band, e o som deles era muito alto."
"Eles foram a primeira banda moderna de rock. Metade do público aderia à idéia e metade vaiava. O período de 1961 a 1966 foi uma época de grande turbulência. Scorsese parece ter pego essa passagem para o som elétrico como metáfora para mostrar as transformações da década."


Tradução de Clara Allain

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