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TEATRO
Galpão de fábrica desativada, praças e palcos recebem experimentos de Natal, Brasília e da cidade-sede do festival
Rio Preto acolhe 8 versões de Shakespeare
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Nem o castelo Elsinore de Hamlet nem a Verona dos Montecchio
e dos Capuleto. Mas palcos, praças e galpão de fábrica desativada
em São José do Rio Preto, no interior paulista. Shakespeare é acolhido em oito experimentações no
Festival Internacional de Teatro,
que vai até amanhã.
"Muito Barulho por Quase Nada" (2003), por exemplo, é a versão do grupo Clowns de Shakespeare, de Natal, para a comédia
"Muito Barulho por Nada".
O trocadilho é uma das marcas
registradas desses artistas ("Megera do Nada" é outro) que há 12
anos cometem "releituras lúdicas" da obra do bardo inglês, conforme Fernando Yamamoto, 29,
que divide a última direção com
Eduardo Moreira, ator do mineiro Galpão.
Doces e por vezes destrambelhadas, as duas histórias de amor
de "Muito Barulho" são embaladas pela música ao vivo, também
executada pelos sete atores. Shakespeare cai no forró.
"Não é regionalização, mas tem,
digamos, um tempero potiguar",
diz Yamamoto, que prefere a irreverência à reverência. "Não adotamos atitude museológica. Buscamos a dosagem certa para se
apropriar dos elementos que têm
a ver com a gente."
Há quatro anos, o grupo ergueu
e passou a cuidar da Casa da Ribeira, centro cultural da área portuária e histórica de Natal, com
teatro e sala de exposições.
De Brasília, a cia. Gabinete 3,
dos diretores e irmãos Adriano e
Fernando Guimarães, traz "Fotohamlet" para o segmento "Olho",
que ocupa prédio de uma antiga
fábrica de extração de óleo vegetal, território das performances e
afins nos finais de noite.
"Não é um espetáculo, talvez
nunca venha a ser", diz Fernando,
42. Trata-se do embrião de uma
possível montagem, aqui a refletir
a própria crise da Gabinete 3
diante de tantas incertezas em
seus 15 anos de atividades: o fantasma da censura econômica que
inviabiliza novas produções.
"Fotohamlet" resulta na preparação de cinco cenas que serão fotografadas; cenas nas quais o "suporte" para figurino e cenário são
600 rolos de papel higiênico. Em
futuros convites para festivais, serão registradas mais cinco cenas,
e assim sucessivamente. "O fragmento de espetáculo só existe naquele momento da performance,
da fotografia. Um dia, a gente vai
ter esse "Hamlet" caótico documentado, sem nunca realmente
tê-lo feito", diz Fernando, que
montou há pouco "Sonho de
Uma Noite de Verão".
Novas possibilidades
A programação do FIT Rio Preto inclui ainda o projeto "Ser ou
Não Sertão", no qual seis companhias da cidade criam possibilidades cênicas para trechos de peças
de Shakespeare em espaços não-convencionais, com média de 15
minutos cada uma.
Caso de "Panis Crudelis", da cia.
Ribalta! de Repertório, que elegeu
"Titus Andronicus", das mais
sangrentas tragédias do dramaturgo inglês. "Escolhemos a cena
final, a do banquete. O general romano Titus representa o Oriente
Médio; Tamora, a grande manipuladora, são os EUA; e Saturnino, um fraco oportunista, é a Inglaterra", diz a atriz e diretora
Glaucia Ramires, 30. Segundo ela,
o desejo da peça é poder "popularizar o entendimento e escancarar
paralelos".
O jornalista Valmir Santos e a repórter-fotográfica Lenise Pinheiro viajaram a convite da organização do Festival Internacional de Teatro de Rio Preto
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