São Paulo, sábado, 23 de julho de 2005

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TEATRO

Galpão de fábrica desativada, praças e palcos recebem experimentos de Natal, Brasília e da cidade-sede do festival

Rio Preto acolhe 8 versões de Shakespeare

VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Nem o castelo Elsinore de Hamlet nem a Verona dos Montecchio e dos Capuleto. Mas palcos, praças e galpão de fábrica desativada em São José do Rio Preto, no interior paulista. Shakespeare é acolhido em oito experimentações no Festival Internacional de Teatro, que vai até amanhã.
"Muito Barulho por Quase Nada" (2003), por exemplo, é a versão do grupo Clowns de Shakespeare, de Natal, para a comédia "Muito Barulho por Nada".
O trocadilho é uma das marcas registradas desses artistas ("Megera do Nada" é outro) que há 12 anos cometem "releituras lúdicas" da obra do bardo inglês, conforme Fernando Yamamoto, 29, que divide a última direção com Eduardo Moreira, ator do mineiro Galpão.
Doces e por vezes destrambelhadas, as duas histórias de amor de "Muito Barulho" são embaladas pela música ao vivo, também executada pelos sete atores. Shakespeare cai no forró.
"Não é regionalização, mas tem, digamos, um tempero potiguar", diz Yamamoto, que prefere a irreverência à reverência. "Não adotamos atitude museológica. Buscamos a dosagem certa para se apropriar dos elementos que têm a ver com a gente."
Há quatro anos, o grupo ergueu e passou a cuidar da Casa da Ribeira, centro cultural da área portuária e histórica de Natal, com teatro e sala de exposições.
De Brasília, a cia. Gabinete 3, dos diretores e irmãos Adriano e Fernando Guimarães, traz "Fotohamlet" para o segmento "Olho", que ocupa prédio de uma antiga fábrica de extração de óleo vegetal, território das performances e afins nos finais de noite.
"Não é um espetáculo, talvez nunca venha a ser", diz Fernando, 42. Trata-se do embrião de uma possível montagem, aqui a refletir a própria crise da Gabinete 3 diante de tantas incertezas em seus 15 anos de atividades: o fantasma da censura econômica que inviabiliza novas produções.
"Fotohamlet" resulta na preparação de cinco cenas que serão fotografadas; cenas nas quais o "suporte" para figurino e cenário são 600 rolos de papel higiênico. Em futuros convites para festivais, serão registradas mais cinco cenas, e assim sucessivamente. "O fragmento de espetáculo só existe naquele momento da performance, da fotografia. Um dia, a gente vai ter esse "Hamlet" caótico documentado, sem nunca realmente tê-lo feito", diz Fernando, que montou há pouco "Sonho de Uma Noite de Verão".

Novas possibilidades
A programação do FIT Rio Preto inclui ainda o projeto "Ser ou Não Sertão", no qual seis companhias da cidade criam possibilidades cênicas para trechos de peças de Shakespeare em espaços não-convencionais, com média de 15 minutos cada uma.
Caso de "Panis Crudelis", da cia. Ribalta! de Repertório, que elegeu "Titus Andronicus", das mais sangrentas tragédias do dramaturgo inglês. "Escolhemos a cena final, a do banquete. O general romano Titus representa o Oriente Médio; Tamora, a grande manipuladora, são os EUA; e Saturnino, um fraco oportunista, é a Inglaterra", diz a atriz e diretora Glaucia Ramires, 30. Segundo ela, o desejo da peça é poder "popularizar o entendimento e escancarar paralelos".


O jornalista Valmir Santos e a repórter-fotográfica Lenise Pinheiro viajaram a convite da organização do Festival Internacional de Teatro de Rio Preto

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