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LIVROS
ROMANCE
Nova obra do americano chega ao Brasil antes de ser lançada nos EUA
Em "Desvarios", Auster traduz a linguagem de Woody Allen
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Se você é fã daquele Paul Auster de livros como "A Trilogia
de Nova York" ou o recente "Noite do Oráculo", com seus duplos
misteriosos, suas pistas falsas e
desvios entre a ficção e a realidade, talvez estranhe este "Desvarios no Brooklyn", que sai no Brasil alguns meses antes de ser lançado nos EUA.
O romance parece, em muitos
momentos, uma versão escrita de
um filme de Woody Allen -às
vezes até um Woody Allen tentando ser Bergman (como afirma
um personagem em determinada
passagem, "eu já tinha visto tudo
aquilo no cinema e sabia que jeito
devia ter").
Talvez seja compreensível que,
depois do 11 de Setembro -mencionado de modo rápido e eficaz
na narrativa-, tudo esteja diferente e Auster tenha se sentido
tentado a retomar em sua obra
uma busca profundamente enraizada na sociedade americana e, ao
que tudo indica, bastante comprometida: a busca da felicidade.
O resultado é tocante e, ao mesmo
tempo, muito irregular. Alguns
dos "defeitos" saltam aos olhos de
modo tão evidente que o livro poderia ser usado com facilidade em
um hipotético curso sobre como
cortes tornam um texto melhor.
A história é contada em primeira pessoa pelo corretor de seguros
aposentado Nathan Glass. Após
enfrentar um câncer de pulmão e
certo de que não conseguiria viver
por muito tempo, ele se muda para o Brooklyn para, sozinho, esperar pelo fim.
Ali, o velho judeu começa a escrever pequenas histórias e casos
de que recordava, reencontra um
sobrinho, acredita estar apaixonado pela garçonete latina de um
restaurante próximo, conhece um
ex-presidiário que se transformara em dono de um sebo especializado em livros raros, torna-se pai
provisório de uma menina de 9
anos e vê uma existência que julgava sem sentido adquirir inúmeros propósitos.
Auster dá a impressão de querer
levar seu protagonista-escritor a
recriar algumas das trilhas de seu
xará Nathan Zuckerman, genial
invenção de Philip Roth, que vem
construindo em uma série de romances escritos nas últimas décadas uma meticulosa história da vida (muito) privada dos EUA.
Aí, porém, tudo se complica. Seja nas intervenções e comentários
dos dois autores fictícios a respeito dos fatos que contam (daqueles
"defeitos" apenas citados acima,
este é um dos mais graves do texto), seja no procedimento de apanhar um assunto e tentar destrinchar suas conexões e conseqüências até o limite, para ficar só em
dois exemplos, a comparação não
é nada favorável a ele. A julgar,
contudo, pela decisão que Nathan
Glass toma no final de "Desvarios
no Brooklyn" (e é desnecessário
antecipá-la aos futuros leitores),
fica a expectativa de que seus talentos narrativos ainda virão a ser
muito aprimorados.
Adriano Schwartz é professor de arte,
literatura e cultura no Brasil da Escola de
Artes, Ciências e Humanidades da USP-Leste e organizador de "Memórias do
Presente" (Publifolha)
Desvarios no Brooklyn
Autor: Paul Auster
Tradução: Beth Vieira
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 45 (328 págs.)
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