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Plástica digital
Globo usa programa de computador para embelezar cenas e rejuvenescer atrizes, como Regina Duarte, que tem 59 anos e interpreta personagem entre 45 e 50 na novela "Páginas da Vida"
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Como Regina Duarte consegue, à beira dos 60 anos, ter a
pele tão lisinha e sem rugas que
vemos em "Páginas da Vida"?
O segredo atende pelo nome
de Baselight. Não se trata de
um creme caríssimo, plástica
ou botox, e sim de um programa de computador comprado
pela Globo numa feira de tecnologia de Las Vegas. Não é um
tratamento na pele da atriz,
mas em sua imagem no vídeo.
O software é bem mais do
que um cirurgião plástico digital. Tem múltiplas funções para
melhorar a qualidade das imagens, dentre as quais a correção
de luz e cores. "Sinhá Moça", a
atual novela das seis, tem "cara" de cinema graças a ele.
O rejuvenescimento é só
uma das armas do software,
mas não a menos importante
para "Páginas da Vida", uma
vez que Helena, a heroína interpretada por Regina Duarte,
tem entre 45 e 50 anos, enquanto a namoradinha do Brasil completou 59 em fevereiro.
Era algo que a simples maquiagem não poderia ter resolvido.
Para remoçar a atriz, o Baselight cria uma espécie de "máscara" virtual a partir de seu rosto, com imperfeições corrigidas. O operador do computador, então, escolhe pontos de
"tracking" ("seguindo a pista",
em tradução literal), que podem ser, por exemplo, os olhos.
É como se ele desse a ordem:
"os olhos da máscara devem
perseguir os da atriz". Assim, a
"máscara" digital se move de
acordo com os movimentos do
rosto da personagem em cena.
O uso do Baselight para melhorar a aparência das heroínas
pode ser comparado ao que o
software Photoshop faz nas fotografias, de acordo com Marcelo Siqueira, diretor de efeitos
especiais da Casablanca, a
maior empresa de finalização
de filmes do país. O programa é
utilizado por revistas masculinas para apagar, nas fotos, celulites, estrias e outros "inconvenientes" das mulheres nuas.
"O tratamento para melhorar a imagem é realizado há
muito tempo na publicidade e
no cinema. Na televisão, era
mais difícil, em razão da pressa
nas gravações. Isso agora está
mais fácil com esses novos softwares", afirma Siqueira, que
trabalhou nos filmes "Se Eu
Fosse Você" e "Deus É Brasileiro", entre outros.
A estréia do Baselight na Globo foi em "Sinhá Moça", focada
no efeito "cara de cinema". Em
"Páginas da Vida", veio o rejuvenescimento, além de outros
tratamentos para "harmonizar" cores e iluminação.
O programa é empregado na
pós-produção, ou seja, as cenas
são gravadas e editadas normalmente e, só no fim do processo, passam pelo software. O
interessante é que os elementos da cena podem ser trabalhados separadamente. Não é
um filtro ao qual a cena é submetida por completo. Uma
atriz pode ter a pele rejuvenescida enquanto o ator que contracena com ela permanece
com seu rosto "original". Adivinhar quem passou e quem não
passou pelo Baselight pode ser
um jogo divertido para o espectador de "Páginas da Vida". Será que as espinhas de Thiago
Lacerda sumiram de um capítulo para outro "na vida real"
ou graças ao Baselight?
A Globo não dá detalhes sobre o uso do software. Quando
questionado sobre seu efeito
rejuvenescedor, Jayme Monjardim, diretor de "Páginas da
Vida", respondeu, por e-mail:
"Nossa preocupação é que as
imagens sejam sempre bonitas
e agradáveis ao olhar. A estética
da novela é um conjunto de fatores, começa pela iluminação
no estúdio ou nas externas,
passa pela caracterização dos
personagens, pelo enquadramento das câmeras até chegar
ao uso do Baselight".
O autor, Manoel Carlos, diz
que foi consultado sobre o uso
do software e aprovou a idéia.
"Todos os recursos à nossa disposição devem ser usados, e o
Jayme os usa de maneira equilibrada. Imagens bonitas merecem o melhor tratamento para
chegarem ainda mais bonitas
para o público."
A Folha o questionou sobre a
necessidade de tornar Regina
Duarte mais moça para interpretar Helena. "Ela também
está muito bem e bonita pessoalmente, conforme tenho
visto quando me encontro com
ela", se limitou a responder.
Ricardo Waddington, diretor
de "Sinhá Moça", disse que o
software "é justo com a beleza
de nossas atrizes". "A imagem
do vídeo era muito dura, cruel.
É evidente que o tratamento
favorece as atrizes, como já
acontecia no cinema. O Baselight faz justiça com nossas
atrizes, que já são lindas."
Ele afirma que o uso do software é resultado de três anos
de pesquisa na Globo. "Não
basta existir o programa, é preciso saber usá-lo. Nossa equipe
foi treinada em Las Vegas pelos
fabricantes do software."
Marcelo Siqueira lembra que
a ferramenta terá de ser aperfeiçoada com a mudança para a
TV digital. "A nitidez será
maior do que a dos aparelhos
atuais, e os truques de hoje seriam notados pelo público."
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