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Grife "Gullane Brothers" renova ares do cinema
Produtora de irmãos prova que é possível viver de filmes no país, sem reclamar
Com parcerias internacionais e projetos para cinema e TV, dupla se firma no mercado e representa o lado positivo da "geração das leis de incentivo"
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles são a cara renovada do
cinema brasileiro. Os irmãos
Caio, 33, e Fabiano Gullane, 35,
produzem filmes sem reclamar
-da sorte, de dinheiro, das estatais, do governo. Ou seja, passam longe das lamúrias repetidas à exaustão por dez entre
dez profissionais da área.
Há mais de uma década na
estrada, a dupla esperou até
2000 para colocar pela primeira vez a assinatura Gullane Filmes na produção de um longa.
O título era "Bicho de Sete
Cabeças", premiada estréia da
diretora Laís Bodanzky, que no
Festival de Brasília amealhou
sete troféus Candango e não fez
feio na bilheteria.
A experiência consolidou um
palpite da dupla, que, antes trabalhando para outros produtores, viu muitos filmes morrerem na praia. "Nós percebemos
que não adianta nada gastar
uma energia gigantesca na produção do filme e não gastar a
mesma energia para lançá-lo",
afirma Fabiano.
Fabriqueta
Hoje, a Gullane Filmes azeita
sua máquina. É uma fabriqueta
de projetos que ocupa três sobrados na Vila Mariana, zona
sul de São Paulo, com 15 profissionais contratados.
Os Gullane estão expandindo
sua atuação para a TV. Fecharam a produção de um telefilme (para a Sony) e uma série
(para a HBO). E apostam cada
vez mais em parcerias internacionais como o melhor caminho para afirmar o Brasil no
mapa-múndi do cinema.
Para o novo longa de Bodanzky, "União Fraterna", eles
acertaram a co-produção do selo franco-alemão Arte. Agora,
tentam um acordo (em outro
projeto) com os também "brothers" Bob e Harvey Weinstein,
os irmãos produtores norte-americanos que chacoalharam
o mercado com o selo Miramax.
Quando cita a teia de contatos da Gullane Filmes -que vai
dos Weinstein à empresa argentina Patagonik, com quem
os brasileiros negociam uma
produção na Amazônia-, Caio
Gullane estufa o peito. "Não temos nem poupança nem herança. Chegamos aqui trabalhando duro", afirma.
Quando entraram para o curso de cinema na Faap, os Gullane já acumulavam anos de trabalho como produtores. Não
exatamente de cinema.
Aos 14, Fabiano encontrou
trabalho na empresa de dublagem BKS e começou a transportar para a produção de festas sua experiência profissional
com aparatos de som e luz.
Caio também era adolescente quando foi trabalhar como
ator, no auge da moda dos "telegramas ao vivo". Passou a febre
do delivery de mensagens, Caio
se cansou "das micagens" e foi
produzir eventos empresariais.
Os Gullane encararam cedo o
mercado de trabalho por vontade de incrementar as próprias finanças. Fabiano tinha 13
anos, e Caio, 11, quando o pai
deles morreu. "Minha mãe foi
uma figura genial. Não tivemos
nenhuma necessidade básica.
Mas, por outro lado, não havia
mesada", conta Caio.
Professor
A precocidade da experiência
profissional ficou clara quando
Caio se viu contratando o próprio professor. Ainda aluno da
Faap, ele foi trabalhar na produção de "Os Matadores"
(1997), primeiro longa de Beto
Brant. "Chamei meu professor
para ser o técnico de som do filme. Aí percebi que a coisa tinha
acelerado", afirma.
Antes da aceleração, Caio e
Fabiano se exercitaram no formato do curta-metragem. Até
porque não havia muito mais a
fazer. No início dos anos 90, a
produção de longas no Brasil
caiu quase a zero, depois do fechamento da Embrafilme pelo
presidente Fernando Collor de
Mello (1990-92) e antes que se
disseminasse o uso das leis
Rouanet (1991) e do Audiovisual (1993), que financiam a
produção de filmes com dinheiro de Imposto de Renda.
"Somos a geração que cresceu com as leis", diz Fabiano.
Cresceu e agora vê esse mecanismo de produção ser bombardeado com críticas de diversos lados, sobretudo pelo volume de dinheiro de "benefício
fiscal" que circula hoje no setor
e pelo constante avanço nos orçamentos dos filmes. Uma novíssima geração de candidatos
a produtores advoga que o filme barato é não só possível,
mas necessário.
"O discurso radical do filme
sem orçamento vira as costas
para a estrutura que o cinema
demanda. Se todos os filmes forem feitos sem dinheiro, os laboratórios fecham", diz Caio.
Na Gullane Filmes, dizem os
irmãos produtores, o propósito
é "não se fechar nem num estilo
de filmes nem num modo único
de produção".
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