LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Não chega a merecer "eureca!" a idéia de juntar uma cantora, dois violonistas e um repertório no qual o violão é o protagonista. Muito mais do que o conceito, o que sustenta "O Violão e o Samba" é a qualidade dos artistas -em especial os instrumentistas- e das 12 músicas.
Cláudio Jorge e Carlinhos Sete Cordas deixam mais exposta neste CD a virtude que mostram nos tantos outros de que participam: um grande talento voltado para o conjunto, não para o exibicionismo. Cláudio, além de ótimo compositor, é o violonista que comanda a banda de Martinho da Vila.
Carlinhos é, hoje, o sete-cordas mais requisitado pelos cantores e produtores de samba. Dorina pode não ser uma intérprete exuberante, de vastos recursos, mas sempre se entrega com muita paixão e conhecimento de causa aos sambas. O CD começa, inclusive, com uma música que tem forte ligação com sua vida: "Samba do Irajá" (Nei Lopes) reverencia o bairro carioca em que ela cresceu. A gravação com os violões apenas dedilhados, sem batidas, é muito feliz.
"Zuela de Oxum" (Moacyr Luz/Martinho da Vila) é outro destaque, também por causa da leveza que Cláudio e Carlinhos dão a um samba de marcação forte, tentador para excessos.
Dorina fica à vontade para, praticamente, recitar a letra. Ainda nos melhores momentos, "De Qualquer Maneira" ganha o apoio das vozes emocionadas dos violonistas.
É uma das principais composições de Candeia, feita depois que um tiro o deixou paraplégico: "Sentado em trono de rei/ Ou aqui nesta cadeira/ (...) Enquanto houver samba na veia/ Empunharei meu violão".
Duas faixas são inferiores por razões que quase independem dos três artistas. A versão de "Tudo se Transformou" fica acanhada diante de outras do passado, principalmente a do autor, Paulinho da Viola.
Já "Cordas de Aço" também padece da falta da emoção original, que sobra na gravação de Cartola.