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Projeto resgata samba paulista em 12 discos
Os quatro primeiros volumes já estão nas lojas e ganham série de shows no Sesc
Veteranos da cena, parte dos sambistas registrados nunca havia gravado um álbum; alguns morreram antes de concluir o trabalho
MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Por alguma perversidade histórica, quase sempre que se refere ao samba feito em São Paulo, palavras como "túmulo",
"injustiçado", "obscuro" ou
"desprezado" vêm enganchadas na mesma frase. Na melhor
das hipóteses, fala-se em "resistência" ou "resgate".
A série "Memória do Samba
Paulista" trata desse segundo
caso. Em 12 CDs -quatro deles
já nas lojas (veja quadro), os outros a ser lançados em duas levas, no ano que vem-, registra
material inédito ou pouco conhecido de compositores paulistas ligados aos primórdios do
gênero, antes de o formato carioca dominar a cena por aqui.
Dedicados ao compositor
Toniquinho Batuqueiro, à Velha Guarda da Unidos do Peruche e aos grupos Embaixada do
Samba Paulistano e Tias do
Samba Paulista, os quatro primeiros CDs ganham, a partir de
hoje, seus respectivos shows no
Sesc Santana.
O músico Renato Dias, 38,
que concebeu o projeto junto
com T. Kaçula e Guga Stroeter,
lembra que, originalmente, a
manifestação do samba paulista não tem a ver com escolas de
samba, mas com os cordões
carnavalescos.
"Na década de 60, por uma
fragilidade de quem estava no
comando, copiou-se o modelo
do Rio", diz. "Foi Faria Lima,
um prefeito carioca que governou São Paulo a partir de 1965,
que determinou que só investiria no nosso carnaval se ele imitasse o do Rio de Janeiro."
Dias integra o Kolombolo
Diá Piratinga, grêmio recreativo que se dedica, desde 2002, a
preservar a cultura tradicional
do samba paulista.
Urgência
O projeto dos CDs começou a
ser gravado em 2005, menos de
seis meses após a primeira reunião de seus idealizadores. Foi
bancado pela ONG Sambatá, da
qual Stroeter é presidente.
"Era urgente. Esses compositores já estão em idade avançada e não dava tempo de pensar
em Lei Rouanet ou projetos
que precisassem ser aprovados", diz Dias. "Mesmo com essa pressa, perdemos grandes
nomes durante o processo, como Mestre Feijoada, Dona Zefinha, Hélio Bagunça, Valter
Cardoso, Denise Camargo e
Xangô da Vila Maria."
Denise Camargo chegou a
gravar seu álbum para a série.
Xangô da Vila Maria, não. Morreu duas semanas depois de selecionar o repertório daquele
que seria seu disco de estreia,
aos 85 anos. As canções do artista estarão no CD dedicado à
Velha Guarda da Vila Maria,
sua escola do coração.
Os próximos volumes da série são dedicados aos veteranos
Tio Mário da Santa Maria, Ideval Anselmo e Zelão, Denise
Camargo, João Borba e às velhas guardas das escolas Rosas
de Ouro, Nenê de Vila Matilde,
Vai-Vai e Unidos de Vila Maria.
"Todos os discos já estão gravados", diz Dias. "Somos a Motown do samba paulista."
MEMÓRIA DO SAMBA
PAULISTA
Quando: de hoje a sáb., às 21h; dom., às
19h30
Onde: Sesc Santana (av. Luiz Dumont
Villares, 579, tel. 0/xx/11/2971-8700)
Quanto: R$ 4 a R$ 16
Classificação: 12 anos
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