São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2010

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No século 21, "O Bem Amado" se permite fazer sátira da esquerda

Diretor Guel Arraes diz que a chegada ao poder eliminou caráter de vítima da vertente política

Marco Nanini assume o personagem do prefeito Odorico Paraguaçu; papel consagrou Paulo Gracindo na TV em 1973


COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"O Bem Amado", adaptação para o cinema da peça "Odorico, o Bem-Amado" que estreia em 200 salas do país, aponta uma diferença elementar para o texto original de Dias Gomes.
A obra é de período anterior ao regime militar -e, de lá para cá, assistiu-se ao embaralhamento ideológico de "direita" e "esquerda".
As atualizações no enredo, segundo o diretor Guel Arraes, embaralham, em um mesmo patamar, políticos progressistas e reacionários. "A esquerda chegou ao poder, não é mais vítima, já pode ser satirizada como a direita", diz ele à Folha.
A cartilha de uma campanha eleitoral e, depois, as trapaças que o possibilitam governar recortam a trajetória de Odorico Paraguaçu (Marco Nanini), prefeito da pequena Sucupira.
O personagem ficou conhecido em 1973, quando virou novela da Globo, com Paulo Gracindo no papel.
A estética que persegue uma espécie de "barroco pop" característica de Arraes ("Lisbela e o Prisioneiro" e "O Auto da Compadecida") enfatiza o viés da comédia, ou da sátira política, não necessariamente militante.
Como aliado para fazer rir, há o elenco de globais competentes, como Matheus Nachtergaele, José Wilker e Andréa Beltrão. Como adversário, uma análise ingênua, educativa do período em que a história se passa, entre o início do regime militar e o movimento das Diretas Já.

DOCUMENTÁRIO
Ao utilizar imagens documentais dessa época e no desfecho que elege para o filme, Arraes esbarra em um discurso sério, que entra em contraste com a natureza do filme -até ali divertido, empertigado.
A história, as atuações, a direção de arte seriam suficientes nessa produção que custou R$ 8,3 milhões, investidos por empresas privadas e estatais -R$ 6,6 milhões do orçamento foram reunidos com benefício fiscal.
A dramaturgia valoriza a comicidade de discursos de Odorico, que Nanini potencializa, inflamado.
Também se vale de uma sinopse engenhosa: o prefeito tem como objetivo de governo a inauguração de um cemitério na cidade; o problema é que a obra já está pronta e ninguém morre.
Sobre a estreia em período de campanha eleitoral, Arraes diz que isso tem a ver com um artifício comercial que não lhe diz respeito. "Do ponto de vista do mercado, é uma decisão da distribuidora, que considera o fato da proximidade com as eleições, mas também o período de férias." (GUSTAVO FIORATTI)

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