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No século 21, "O Bem Amado" se permite fazer sátira da esquerda
Diretor Guel Arraes diz que a chegada ao poder eliminou caráter de vítima da vertente política
Marco Nanini assume o personagem do prefeito Odorico Paraguaçu; papel consagrou Paulo Gracindo na TV em 1973
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"O Bem Amado", adaptação para o cinema da peça
"Odorico, o Bem-Amado"
que estreia em 200 salas do
país, aponta uma diferença
elementar para o texto original de Dias Gomes.
A obra é de período anterior ao regime militar -e, de
lá para cá, assistiu-se ao embaralhamento ideológico de
"direita" e "esquerda".
As atualizações no enredo,
segundo o diretor Guel Arraes, embaralham, em um
mesmo patamar, políticos
progressistas e reacionários.
"A esquerda chegou ao poder, não é mais vítima, já pode ser satirizada como a direita", diz ele à Folha.
A cartilha de uma campanha eleitoral e, depois, as trapaças que o possibilitam governar recortam a trajetória
de Odorico Paraguaçu (Marco Nanini), prefeito da pequena Sucupira.
O personagem ficou conhecido em 1973, quando virou novela da Globo, com
Paulo Gracindo no papel.
A estética que persegue
uma espécie de "barroco
pop" característica de Arraes
("Lisbela e o Prisioneiro" e
"O Auto da Compadecida")
enfatiza o viés da comédia,
ou da sátira política, não necessariamente militante.
Como aliado para fazer rir,
há o elenco de globais competentes, como Matheus
Nachtergaele, José Wilker e
Andréa Beltrão. Como adversário, uma análise ingênua,
educativa do período em que
a história se passa, entre o
início do regime militar e o
movimento das Diretas Já.
DOCUMENTÁRIO
Ao utilizar imagens documentais dessa época e no
desfecho que elege para o filme, Arraes esbarra em um
discurso sério, que entra em
contraste com a natureza do
filme -até ali divertido, empertigado.
A história, as atuações, a
direção de arte seriam suficientes nessa produção que
custou R$ 8,3 milhões, investidos por empresas privadas
e estatais -R$ 6,6 milhões do
orçamento foram reunidos
com benefício fiscal.
A dramaturgia valoriza a
comicidade de discursos de
Odorico, que Nanini potencializa, inflamado.
Também se vale de uma sinopse engenhosa: o prefeito
tem como objetivo de governo a inauguração de um cemitério na cidade; o problema é que a obra já está pronta
e ninguém morre.
Sobre a estreia em período
de campanha eleitoral, Arraes diz que isso tem a ver
com um artifício comercial
que não lhe diz respeito. "Do
ponto de vista do mercado, é
uma decisão da distribuidora, que considera o fato da
proximidade com as eleições, mas também o período
de férias."
(GUSTAVO FIORATTI)
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