São Paulo, sábado, 23 de julho de 2011

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Richter tem retrospectiva na Pinacoteca

Artista alemão que desconstrói linguagem da pintura e da fotografia tem conjunto de telas exposto em São Paulo

Mostra reúne cerca de 30 obras, entre elas abstrações coloridas e pinturas feitas a partir de imagens fotográficas

DE SÃO PAULO

Gerhard Richter, 79, desdenha da exatidão do mundo moderno. Sua obra fica no intervalo entre a pintura e a fotografia, tratando as duas técnicas como iguais, e não rivais, num processo que tem como fim a representação.
É por isso que esse artista alemão, um dos nomes mais fortes da arte do século 20 e que abre hoje retrospectiva na Pinacoteca do Estado, não se desvencilha desses dois processos em tudo que faz.
Pinta quadros a partir de fotografias, fotografa suas pinturas, depois expande e contrai as composições que se formam ao acaso na tela.
São formas esmaecidas. Tudo parece borrado, como se escapasse aos contornos. A figura é transmutada, "distorcida", "ajustada", nas palavras de críticos acostumados a descrever sua obra.
Logo na entrada da mostra, está uma coleção de 128 fotografias de uma de suas telas, esmiuçando as pinceladas, vistas de cima e de lado, ampliadas e desfocadas.
É como se Richter enxergasse a própria obra como paisagem a devassar, o real que se torna abstrato quando alvo de um olhar aguçado.
Num processo parecido, ele fotografa e amplia a mistura de cores numa paleta diminuta, expandindo uma gota de cor em abstração de tons berrantes que se encontram.
"Ele não busca uma composição. Como isso vem de uma fotografia, é uma composição encontrada", diz Dietmar Elger, biógrafo de Richter. "É o vazio, a não composição ou a decomposição."
Richter acaba tratando figuras e abstrações da mesma forma. Uma orquídea, por exemplo, é pintada a partir de uma fotografia, sendo a tela depois fotografada e impressa de novo, numa extensão do processo fotográfico à lógica por trás da pintura.
Seu tio Rudi, morto na Segunda Guerra, aparece numa pintura surrupiada de um retrato que dita a composição, o acaso da visão do obturador transposto para a tela.
Tudo parece ser assunto para Richter, basta ser imagem. Mesmo quando faz só pintura, ele busca uma ilusão fotográfica. Seus monocromos cinzentos dão a impressão de profundidade, como se descortinassem um espaço por trás do plano da tela.
Em busca de abstrações reais, Richter também fez telas para compor outros quadros, obras destinadas a ser só parte de um todo maior, como se nas camadas da tinta quisesse desvelar os vários níveis de visão do real. (SILAS MARTÍ)

GERHARD RICHTER
QUANDO abre hoje, às 11h; de ter. a dom., das 10h às 18h; até 21/8
ONDE Pinacoteca (pça. da Luz, 2, tel. 0/xx/11/3324-1000)
QUANTO R$ 6




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