São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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DISCOS/LANÇAMENTOS

Gravadoras recuperam álbuns raros de Gal Costa, Elizeth Cardoso e Sergio Mendes

Epidemia de relançamentos

DA REPORTAGEM LOCAL

Até há pouco desprezado pelas gravadoras como fonte de lucro, o catálogo vira ponte da salvação em tempo de crise de mercado, de novos talentos e de voracidade dos piratas sobre os "últimos lançamentos". Ao menos 54 discos originais de gravadoras e artistas diversos (a maioria deles inédita em CD ou fora de catálogo há anos) estão chegando às lojas neste agosto.
Vedete é a reedição, pela primeira vez reproduzindo a arte gráfica original do LP de 1958, do álbum "Canção do Amor Demais", em que a cantora Elizeth Cardoso propulsionava a nascente bossa nova, apresentando o violão de João Gilberto em "Chega de Saudade" e "Outra Vez".
Esse título integra o início das reedições do catálogo da Eldorado, que havia sido abandonado com a desestruturação de sua distribuidora. A Sony agora assumiu a distribuição, e entre os primeiros discos recuperados (leia lista completa à esquerda) destacam-se um semi-inédito do sambista maranhense Antonio Vieira, "Compositor Popular" (99), um dos pontos culminantes da carreira de Zizi Possi, "Sobre Todas as Coisas" (91), e a celebradíssima (e já fora de catálogo) estréia do violonista Yamandú Costa, de 2001.
No quesito raridade compete com Elizeth Cardoso uma das glórias do samba-jazz dos anos 60, o álbum "Você Ainda Não Ouviu Nada!" (64), de Sergio Mendes & Bossa Rio, ressuscitado pelo selo carioca Dubas. A BMG foi na onda e recupera três saborosos títulos da fase "easy listening" do músico bossa-novista, radicado desde os anos 60 nos Estados Unidos.
Com eles, a BMG dá continuidade à série "RCA Original", reforçada também por oito regulares CDs de Alcione, que refazem a história da sambista nos anos 80.
A Sony faz o mesmo por Djavan (com destaque para "Luz", de 82, e "Coisa de Acender", de 92). Garante que remasterizou os discos, mas seu jeitão gráfico e sonoro é o mesmo com que eles já circulavam em CD há não muito tempo. A omissão das datas originais, hábito nefasto da Sony, permanece.
Da Universal, a série "Tudo" focaliza desta vez Gal Costa, relançando o essencial da obra da cantora tropicalista, com realce para os fundamentais "Gal Costa" e "Gal" (ambos de 69), "Legal" (70), "Fatal" (71), "Índia" (73), "Cantar" (74) e "Gal Canta Caymmi" (76). A gravadora derrapa ao se esquecer, numa série denominada "Tudo", de dois títulos de seu catálogo em que a cantora desempenha papel fundamental: os coletivos "Temporada de Verão" (74) e "Doces Bárbaros" (76).
Na lanterninha vem a EMI, que recupera trabalhos de quilate como "Quero Voltar pra Bahia" (70), de Paulo Diniz, e dois volumes de "Sax Voz", de Elizeth Cardoso com o recém-morto saxofonista Moacyr Silva. Apesar disso, a série "Dois em Um" peca pelo desrespeito dos projetos gráficos originais dos discos e pela precariedade de informações básicas como datas originais de edição.
O que fica também, da enxurrada de relançamentos, é o fuzuê geral nos preços praticados pelas gravadoras. Partem da discrepância compreensível entre os R$ 11 prometidos pela EMI na feiosa série "Dois em Um" e os R$ 26 das cuidadosas reedições de Sergio Mendes. E chegam ao samba da gravadora louca -Alcione por R$ 15, Gal Costa por R$ 20, Djavan por R$ 24... Vá entender.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


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