|
Texto Anterior | Índice
Imagem real inspirou tela, revelou pintor
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Edvard Munch foi o primeiro
artista escandinavo a obter reconhecimento internacional e
também o dono de uma prolífica produção que inclui cerca de
mil telas e centenas de gravuras. Sua obra foi uma das sínteses da aversão de uma geração
de artistas que revoltou-se no
final do século 19 contra a ditadura do figurativismo na tradição acadêmica.
Apontado como o primeiro
grande nome do expressionismo alemão -viveu em Berlim
entre 1892 e 1895-, Munch é
também um caso exemplar de
personagem martirizado pela
visão escatológica da vida, pelo
pessimismo e pela melancolia.
"O Grito", em suas três versões semelhantes, retrata um
personagem esquálido, com as
duas mãos tapando os ouvidos,
a boca aberta em forma oval e,
ao fundo, um céu formado por
faixas espessas com predominância de vermelho e amarelo.
Em seu diário, Munch disse
ter se inspirado em cena que
presenciou durante uma caminhada nas imediações de Cristiania, nome pelo qual em 1893
era conhecida a cidade de Oslo.
As cores, freqüentes no horizonte dos crepúsculos de outono nos países nórdicos, foram
em 2003 atribuídas, por astrônomos americanos, aos efeitos
de uma explosão vulcânica
ocorrida na Indonésia.
Mas em termos estéticos o
detalhe é idiota e irrelevante. O
que vale é a forma econômica
com que Munch trabalha com
seus traços espessos, de modo a
"reconstruir" uma cena em que
os acadêmicos registrariam
uma infinidade de detalhes.
Essa "simplificação" da percepção da paisagem e do personagem que a ocupa também
está presente em telas de Gauguin e Toulouse-Lautrec.
A biografia do pintor apresenta traços também bastante
fortes. A tuberculose que matou a mãe e uma das irmãs, a
demência de uma outra irmã, o
niilismo sexual dos pintores
com quem conviveu na Alemanha e o alcoolismo que o levou
à internação na Dinamarca.
A partir de 1910, fixado novamente na Noruega, falou-se
bem menos dele e de seu trabalho, que prosseguiu de forma
incessante até sua morte em
1944, aos 80 anos, sem ligar para o fato de, em 1937, o nazismo
tê-lo enquadrado na chamada
"arte degenerada".
Teve tempo de legar a produção mantida em seu estúdio à
Prefeitura de Oslo. Ela foi a base do acervo para a abertura,
em 1963, do Museu Munch, onde ontem uma versão de "O
Grito" foi roubada.
Texto Anterior: Ilustrada: Ladrões levam quadro "O Grito" à luz do dia Índice
|