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Sociólogo lamenta "vitória" do mercado
Em palestra, Francisco de Oliveira diz que política gira em falso quando partidos não representam classes
RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Aceitando a proposta do jornalista Adauto Novaes, organizador do ciclo de debates "O Esquecimento da Política", de dar
conta não apenas de uma crise
mas de uma "mutação" por que,
segundo ele, passa o Ocidente,
o sociólogo Francisco de Oliveira defendeu anteontem no
Rio sua tese de que a política
vem se tornando irrelevante, e
foi além.
Disse que a "colonização" da
política pela economia dá fim à
sociedade e, por conseqüência,
aos indivíduos, tal como os conhecíamos até aqui para além
de minar a capacidade que o
conflito político sempre teve de
corrigir, ainda que parcialmente, as assimetrias sociais e de
poder criadas pelo mercado.
O "roteiro" dessa destruição
em massa foi traçado durante
uma hora de palestra e outros
tantos minutos de diálogo, às
vezes tenso, com uma platéia
de cerca de 500 pessoas reunidas no teatro da Maison de
France, no centro do Rio.
O caminho é o seguinte. Ao
contrário do que quer a vulgata
marxista, disse Oliveira, é na
política, e não na fábrica ou no
ambiente imediato de trabalho,
que se dá o conflito de classes e
a possibilidade de restringir o
processo natural de acumulação do mercado.
Ocorre que, com o crescimento das empresas em poder
e para além dos Estados nacionais, essa arena local, em cada
país, de conflitos, se tornou enfraquecida bem como os sindicatos, que não conseguem mais
fazer frente às transnacionais.
"Estamos nos encaminhando para uma sociedade sem
controles; salvo o único que escapa de tudo, que é o mercado",
afirmou o sociólogo.
Os partidos não representam
mais classes sociais, o conflito e
a possibilidade de propostas alternativas não se dão, e a política gira em falso.
"Na ausência de política, o
que acontece? O que estamos
vendo. Uma sociedade de mônadas. Não existe mais sociedade, mas indivíduos. Nem indivíduos, mas "mônadas" sem capacidade de intervenção."
O maior exemplo recente
desse esvaziamento, afirmou o
sociólogo, foi o fato, celebrado
por muitos, de a crise política
que já dura mais de um ano não
ter afetado a economia. "Se
uma crise política não pode afetar a economia, para que serve a
política?", perguntou.
A palestra abriu o ciclo do
"Esquecimento da Política",
que reunirá, em cinco capitais
brasileiras, até o fim de setembro, intelectuais como a filósofa Marilena Chaui e os cientistas políticos Renato Lessa e
Marcelo Jasmin.
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