São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 2006

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Sociólogo lamenta "vitória" do mercado

Em palestra, Francisco de Oliveira diz que política gira em falso quando partidos não representam classes

RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Aceitando a proposta do jornalista Adauto Novaes, organizador do ciclo de debates "O Esquecimento da Política", de dar conta não apenas de uma crise mas de uma "mutação" por que, segundo ele, passa o Ocidente, o sociólogo Francisco de Oliveira defendeu anteontem no Rio sua tese de que a política vem se tornando irrelevante, e foi além.
Disse que a "colonização" da política pela economia dá fim à sociedade e, por conseqüência, aos indivíduos, tal como os conhecíamos até aqui para além de minar a capacidade que o conflito político sempre teve de corrigir, ainda que parcialmente, as assimetrias sociais e de poder criadas pelo mercado.
O "roteiro" dessa destruição em massa foi traçado durante uma hora de palestra e outros tantos minutos de diálogo, às vezes tenso, com uma platéia de cerca de 500 pessoas reunidas no teatro da Maison de France, no centro do Rio.
O caminho é o seguinte. Ao contrário do que quer a vulgata marxista, disse Oliveira, é na política, e não na fábrica ou no ambiente imediato de trabalho, que se dá o conflito de classes e a possibilidade de restringir o processo natural de acumulação do mercado.
Ocorre que, com o crescimento das empresas em poder e para além dos Estados nacionais, essa arena local, em cada país, de conflitos, se tornou enfraquecida bem como os sindicatos, que não conseguem mais fazer frente às transnacionais.
"Estamos nos encaminhando para uma sociedade sem controles; salvo o único que escapa de tudo, que é o mercado", afirmou o sociólogo.
Os partidos não representam mais classes sociais, o conflito e a possibilidade de propostas alternativas não se dão, e a política gira em falso.
"Na ausência de política, o que acontece? O que estamos vendo. Uma sociedade de mônadas. Não existe mais sociedade, mas indivíduos. Nem indivíduos, mas "mônadas" sem capacidade de intervenção."
O maior exemplo recente desse esvaziamento, afirmou o sociólogo, foi o fato, celebrado por muitos, de a crise política que já dura mais de um ano não ter afetado a economia. "Se uma crise política não pode afetar a economia, para que serve a política?", perguntou.
A palestra abriu o ciclo do "Esquecimento da Política", que reunirá, em cinco capitais brasileiras, até o fim de setembro, intelectuais como a filósofa Marilena Chaui e os cientistas políticos Renato Lessa e Marcelo Jasmin.


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