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Mônica Bergamo
bergamo@folhasp.com.br
Ana Ottoni Fotografia
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Deborah Secco caracterizada como Bruna Surfistinha
Meu nome é Bruna
Escolhida para ser Bruna Surfistinha no cinema, Deborah Secco diz que ambas foram rejeitadas na infância, mas tinham força para "ser alguém" e "criar a própria história"
A partir de setembro, a atriz
Deborah Secco, 29, passará oito
semanas na pele da ex-prostituta Bruna Surfistinha para filmar o longa "O Doce Veneno do
Escorpião". O filme, da produtora TvZero, é inspirado no livro homônimo de Bruna, que
conta as desventuras sexuais da
adolescente de classe média alta que foge de casa e ganha a vida como garota de programa.
"Mas é só inspirado: 60% das
cenas com clientes, por exemplo, tirei de entrevistas que fiz
com a própria Bruna", diz o diretor Marcus Baldini. Deborah
falou à coluna.
FOLHA - Por que aceitou o papel?
DEBORAH SECCO - Eu queria que,
quando fizesse um filme com
uma grande distribuição, uma
grande visibilidade -diferente
dos que já fiz, que foram totalmente globais, como "Casseta
& Planeta", "Xuxa" e tal-, fosse
com uma oportunidade de interpretação. Que eu pudesse
doar minha vida a ele, ao personagem, à criação. A imagem
que eu tinha do filme, de fora,
antes de conhecê-los [os produtores], era a de que tentavam
copiar a Bruna Surfistinha.
Quando eu conversei com o
Marcus [Baldini, diretor do filme], percebi que a visão dele
era parecida com a minha. Era a
de fazer a Bruna do filme, e não
uma réplica. Esse com certeza é
um personagem com diversas
curvas que vai ser um grande
desafio para mim.
FOLHA - É a sua estreia no cinema?
DEBORAH - Acho que sim. Eu já
fiz filmes como "A Cartomante", que não teve uma grande
distribuição, e esses filmes
muito globais. Queria trabalhar
com uma galera que ama o cinema. Quero aprender com
eles. Eu aqui sou estreante.
FOLHA - Já leu o livro da Bruna?
DEBORAH SECCO - Não li e não
quero ler. Prefiro ler o roteiro e
tê-lo como ponto de criação.
Não quero conhecê-la [a Bruna], senão a gente entra na imitação. Ela e o livro vão me trazer uma Bruna diferente daquela que vou ser [no cinema].
Se um dia tiver de conhecê-la,
que seja depois do filme.
FOLHA - O que você tem em comum com a personagem?
DEBORAH - A minha história de
vida é muito parecida. Eu era a
menina feia da família, a minha
irmã era muito mais bonita. Fui
rejeitada pelos meninos do colégio, era aquela que sentava na
última carteira e que ninguém
queria. Demorei para dar o meu
primeiro beijo. Teve toda essa
história de rejeição que eu acho
que a nossa Bruna, a Bruna personagem, tem muito. E uma
força que eu também desconhecia, que eu tinha e que ela
tem. Ou eu não teria chegado
aonde cheguei, não teria conseguido, aos oito anos, sair escondida de casa e procurar produtor de elenco para trabalhar.
Não teria saído do menos dez e
me achar 20. Ela teve uma rejeição igual e uma vontade de
ser aceita, de ser alguém, de
criar a própria história.
FOLHA - E como foi essa história
aos oito anos de idade?
DEBORAH - Eu morava em Jacarepaguá [no Rio] e perto de casa
tinha uma agência de publicidade. Andei sozinha até lá e falei que queria ser atriz. Por sorte do destino, enquanto estava
lá, uma menina, que ia fazer comercial no dia seguinte, ligou
dizendo que não podia, que estava com febre. Liguei pra minha mãe: "Mãe, eu tô aqui e tenho um comercial para fazer
amanhã. Eu já falei que posso".
Minha mãe tinha perdido uma
filha de cinco anos e sempre foi
da teoria: "Viva o máximo. Se
você quer isso, a gente vai. Se
você morrer depois de amanhã,
não vou ficar com a culpa de
que não te deixei ser feliz".
FOLHA - Por que se achava feia?
DEBORAH - Eu era a menina da
perna fina, cheia de espinha.
Meus apelidos eram Pernalonga, Olívia Palito, Chokito. Era
aquela que não tinha peito, braço fino. Eu vejo as minhas fotos
e falo: "Era "feia que doía'".
FOLHA - E hoje, se acha bonita?
DEBORAH - Esta coisa de estar
na TV te torna mais incrível do
que você é. Se eu fosse uma não
famosa, uma advogada, passaria numa boate normalmente,
como a minha irmã passa. Não
tenho bundão, peitão, não sou a
Viviane Araújo, essas mulheres
gostosonas.
FOLHA - Mas posou duas vezes para a "Playboy".
DEBORAH - Fiz alguns papeis
sensuais que me deram essa
credibilidade.
FOLHA - Na novela "A Favorita",
você interpretou a Maria do Céu,
que vai para um bordel. A Betina, de
"Paraíso Tropical", era prostituta. E
agora você vai ser a Bruna. Não tem
receio de ficar vinculada a esse tipo
de personagem?
DEBORAH- Tenho 13 novelas.
Fiz três mulheres sensuais, fiz a
mocinha. A Betina foi uma participação de três capítulos, não
deu pra criar um personagem.
E a Maria do Céu não chegou a
se prostituir.
FOLHA - O livro da Bruna relata excentricidades sexuais, como o "golden shower" [urinar sobre o parceiro]. Como filmar esse tipo de cena?
DEBORAH - Acho que, se a gente
não fizer um filme pornô, que é
quando você reproduz efetivamente
o sexo... dependendo da iluminação,
da forma que vai filmar... o ator não
tem que ter essas limitações. Mas jamais faria um filme pornô.
FOLHA - Bruna encontrou na prostituição uma maneira de sair da vida
que tinha. Passou algo parecido pela
sua cabeça na adolescência?
DEBORAH - Nunca. Até porque,
na minha casa, eles aceitavam
todos os meus sonhos. Se eu tivesse de fugir para ser atriz, fugiria com certeza. Mas voltaria.
Minha mãe sabia da loucura
que criei. Com seis anos, eu ficava pedindo dinheiro, fingindo que era mendiga, chorando
melhor do que os meninos de
rua. Fingi um mês que eu tinha
perdido a memória para a minha família toda. Eu testava
meu poder de convencimento.
Minha mãe via que, se eu não
fosse isso, ia ser esquizofrênica.
FOLHA - Pedia dinheiro na rua?
DEBORAH - A gente morava em
um condomínio e no caminho
para a natação tinha um ponto
onde ficavam os meninos de
rua. Eu ia lá, pegava roupas emprestadas, passava carvão na
cara. E chorava muito fácil.
Quando eu chegava, era uma
alegria. Eles diziam: "Pô, a menina vai conseguir dinheiro pra
gente". Passava alguém e dizia
pra minha mãe: "Sua filha tá lá
no sinal pedindo dinheiro". Ela
dizia: "Ah, eu sei. Deixa, daqui a
pouco ela volta".
FOLHA - A Bruna fez fama por causa de um blog. Hoje, muitas celebridades utilizam a internet para falar
da vida pessoal. E você?
DEBORAH - Eu tento esconder a
minha vida. Procuro fazer com
que coisas importantes da minha vida sejam só minhas.
FOLHA - Quais tipos de coisas?
DEBORAH - Meu casamento, por
exemplo.
FOLHA - Saíram várias reportagens
dizendo que você queria engravidar
antes de fazer a próxima novela do
Gilberto Braga, em 2010.
DEBORAH - Não sei de onde veio
isso. Nem se eu quisesse, não dá
tempo. E ainda tem a possibilidade de ter [a minissérie] "Decamerão" no ano que vem.
FOLHA - E como é o casamento à
distância [o marido da atriz, Roger
Flores, joga futebol no Qatar]?
DEBORAH - Ótimo. A gente está
superfeliz. É só isso que eu falo.
Podem falar o que quiserem.
Aprendi com o tempo que me
faz mal ler depois e saber que
eu falei aquilo por falta de força.
FOLHA - O diretor do filme diz que
"arrependimento" é uma palavra
que não está no universo da personagem da Bruna. E no seu?
DEBORAH - Tem uma frase no
filme que traduz exatamente o
meu não arrependimento: "Só
sendo o que eu fui, hoje eu posso ser quem eu sou".
Reportagem LEANDRO NOMURA
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