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ANÁLISE
O Apocalipse perto de você
MARCO CHIARETTI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
O cinema sempre gostou do
fim do mundo. Há momentos
em que este amor aumenta
muito, como parece ser o caso
desta temporada. Época de crise, medo da gripe. E lá vai o
mundo para o beleléu.
Essa mania de acabar com
tudo não é prerrogativa cinematográfica, diga-se. Surpreende que o mundo ainda exista,
dada a abundância de sinais, indícios e profecias.
A Bíblia é, no
final das contas, uma coleção
de livros sobre o "the end" e a
revelação do recomeço. O que o
cinema faz é exagerar nos efeitos e reunir-nos na sala escura,
assustados.
O mundo vai acabar, sabemos todos. Só muda a data e o
jeito de terminar. Em 2012, por
exemplo. Coisa dos maias, que
profetizaram o fim para 21 de
dezembro daquele ano, prato
cheio para um filme repleto de
efeitos especiais. Para os maias,
diga-se, seu mundo acabou antes. Mel Gibson filmou.
Houve outras datas fatídicas
antes dessa -e haverá outras
depois. Até hoje, como se pode
concluir pela leitura deste jornal, os profetas do Apocalipse
não acertaram. Na Idade Média, por exemplo, a data fatídica
caía no ano mil, e o medo varreu a Europa, com milhões
pensando no assunto.
O mundo
não acabou. Alguns séculos depois, Nostradamus anunciou o
horror tomando cuidado para
que não se entendesse nada.
Sempre é citado. No século 19,
houve uma epidemia de apocalipses revelados. Por sorte, o
anjo não desceu, e sobrevivemos. Em 1999, disseram que
tudo que conhecíamos iria dançar com o bug do milênio. Nem
a TV a cabo caiu.
Além da questão da data, há o
tema da forma. Como vai acabar? Para os mais lidos, em um
suspiro. Com água, como nos
dilúvios universais vários? Há
50 anos, o mundo terminava
em fogo, com uma explosão termonuclear pertinho de você.
Havia o espectro das bombas
de cobalto, definitivas, ultraradioativas (como em "Doutor
Fantástico"). "O Dia Seguinte",
de 83, parecia documentário,
de tão realista. De lá pra cá, a
moda passou um pouco, mas a
Bomba está sempre por aí.
Pestes vivem acabando com
os humanos (bichos e plantas
costumam sobreviver).
Há
também o eterno ciclo dos corpos celestes. Volta e meia, um
cometa ou asteroide bate em
nós. "Impacto Profundo" e "Armageddon" lembram "Ragnarok", best-seller do final do século 19. Dependendo do tamanho da coisa, não sobra ninguém. Nem nada. C'est fini.
E se não forem bombas, bichos e asteroides, pode ser o clima, aliens malvados, aliens insensíveis, "nanorobots" devoradores de planetas, explosões
solares, buracos negros artificiais, nuvens estelares sem nada pra fazer, inteligências artificiais ultrainteligentes. O menu é amplo.
De todo modo, daqui a 4 ou 5
bilhões de anos, o Sol terá acabado de queimar tudo o que puder e vai explodir, crescendo
até o tamanho da órbita de Júpiter, ou por aí. A Terra, a esfera
azul, vai torrar. Mesmo. Mas
ainda falta algum tempo.
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