São Paulo, domingo, 23 de agosto de 2009

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Waldick Soriano coloca sertão baiano no mapa

Documentário teve sessão aberta em praça de Caetité, cidade natal do cantor

Mais de 10% da população da cidade baiana, de 50 mil habitantes, foi à pré-estreia do filme de Patrícia Pillar sobre astro morto em 2008


MARCUS PRETO
ENVIADO ESPECIAL A CAETITÉ (BA)

Já era a quinta ou sexta pergunta que começava exatamente do mesmo jeito. "Oi, Patrícia. Eu também gostaria de dizer, como cidadão caetiteense, que é um orgulho para a nossa cidade poder contar aqui com a presença ilustre da maior atriz brasileira dos tempos de agora. Uma das maiores. O que eu queria saber era se..." A dúvida era o de menos. O que importava de fato para aqueles jornalistas, e isso eles deixavam escapar em cada tremida nervosa de voz, era fazer o tal agradecimento.
Diretora do filme "Waldick Soriano - Sempre no Meu Coração", ela, "a maior atriz brasileira dos tempos de agora", estava incluindo a desconhecida Caetité no mapa do Brasil. Era mais ou menos isso o que eles queriam dizer. Ver documentada em filme a história do filho mais famoso daquela terra fazia com que cada um ali se sentisse também lembrado, representado, importante, vivo. E isso fazia um bem danado para a autoestima da cidade toda.
Era uma noite gelada de quinta-feira, 13 de agosto último. Estavam, os jornalistas e Patrícia Pillar, em uma coletiva de imprensa no anfiteatro da Casa Anísio Teixeira, no Centro de Caetité. Para chegar ali, a atriz/diretora teve que viajar por quase 12 horas.
Primeiro, um voo do Rio, onde mora, a Salvador. Depois, outro, em avião de 30 lugares, até Vitória da Conquista, interior da Bahia. Por fim, enfrentou mais de quatro horas em uma van numa estrada tão esburacada que o velocímetro não ultrapassava os 30 km/h.
A viagem sofrida tinha um sentido emocional. Depois de algumas exibições em festivais e em canais de TV a cabo, seu filme sobre Waldick Soriano (1933-2008) finalmente ganharia os cinemas -mas só os de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza. Nada mais justo que a cidade do documentado fosse a escolhida para a pré-estreia, em sessão ao ar livre na Praça da Catedral.
"Não sei quantas pessoas vieram, não. A gente estava cuidando aqui, mas não conseguiu contar", (não) informava um policial, pouco antes da projeção. Seu colega dava o palpite: "Pelo que eu vejo tem aqui umas 6.000 pessoas, porque a praça está bem lotadona".
Se o chute dele estava mesmo certo, mais de 10% da cidade -Caetité tem aproximadamente 50 mil habitantes- haviam baixado ali para ver o filme. O filme? "Patrícia, cadê você, eu vim aqui só pra te ver!" Quem puxava o coro, que repercutia em toda a praça, era o grupo de meninas que chegou bem cedo para ficar mais perto do palco. "A gente queria tirar uma foto com a Flora, me leva lá?", pedia uma delas, mostrando a câmera digital e cartazes com a foto da atriz, a quem quer que tivesse alguma pinta de estar envolvido com o evento.
Flora, no caso, é o nome da vilã interpretada por Pillar na última novela das oito. Depois de um pequeno discurso da diretora, que, tímida, resumiu sua relação com Waldick e "os mistérios que rondaram nossos silêncios e eu nunca quis quebrar", o vozeirão do cantor toma a praça, enquanto sua imagem surge na tela -redonda- lá no alto. O coro foi murchando, as câmeras entraram nas bolsas, as fotos de Flora foram para o chão. Caetité fez silêncio. Era hora de se assistir no cinema.

O jornalista MARCUS PRETO viajou a convite da produção do filme



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