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Waldick Soriano coloca sertão baiano no mapa
Documentário teve sessão aberta em praça de Caetité, cidade natal do cantor
Mais de 10% da população da cidade baiana, de 50 mil habitantes, foi à pré-estreia do filme de Patrícia Pillar sobre astro morto em 2008
MARCUS PRETO
ENVIADO ESPECIAL A CAETITÉ (BA)
Já era a quinta ou sexta pergunta que começava exatamente do mesmo jeito. "Oi, Patrícia.
Eu também gostaria de dizer,
como cidadão caetiteense, que
é um orgulho para a nossa cidade poder contar aqui com a presença ilustre da maior atriz
brasileira dos tempos de agora.
Uma das maiores. O que eu
queria saber era se..."
A dúvida era o de menos. O
que importava de fato para
aqueles jornalistas, e isso eles
deixavam escapar em cada tremida nervosa de voz, era fazer o
tal agradecimento.
Diretora do filme "Waldick
Soriano - Sempre no Meu Coração", ela, "a maior atriz brasileira dos tempos de agora", estava incluindo a desconhecida
Caetité no mapa do Brasil. Era
mais ou menos isso o que eles
queriam dizer. Ver documentada em filme a história do filho
mais famoso daquela terra fazia
com que cada um ali se sentisse
também lembrado, representado, importante, vivo. E isso fazia um bem danado para a autoestima da cidade toda.
Era uma noite gelada de
quinta-feira, 13 de agosto último. Estavam, os jornalistas e
Patrícia Pillar, em uma coletiva
de imprensa no anfiteatro da
Casa Anísio Teixeira, no Centro de Caetité. Para chegar ali, a
atriz/diretora teve que viajar
por quase 12 horas.
Primeiro, um voo do Rio, onde mora, a Salvador. Depois,
outro, em avião de 30 lugares,
até Vitória da Conquista, interior da Bahia. Por fim, enfrentou mais de quatro horas em
uma van numa estrada tão esburacada que o velocímetro
não ultrapassava os 30 km/h.
A viagem sofrida tinha um
sentido emocional. Depois de
algumas exibições em festivais
e em canais de TV a cabo, seu
filme sobre Waldick Soriano
(1933-2008) finalmente ganharia os cinemas -mas só os de
São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza. Nada mais
justo que a cidade do documentado fosse a escolhida para a
pré-estreia, em sessão ao ar livre na Praça da Catedral.
"Não sei quantas pessoas vieram, não. A gente estava cuidando aqui, mas não conseguiu
contar", (não) informava um
policial, pouco antes da projeção. Seu colega dava o palpite:
"Pelo que eu vejo tem aqui
umas 6.000 pessoas, porque a
praça está bem lotadona".
Se o chute dele estava mesmo
certo, mais de 10% da cidade
-Caetité tem aproximadamente 50 mil habitantes- haviam baixado ali para ver o filme. O filme? "Patrícia, cadê você, eu vim aqui só pra te ver!"
Quem puxava o coro, que repercutia em toda a praça, era o
grupo de meninas que chegou
bem cedo para ficar mais perto
do palco. "A gente queria tirar
uma foto com a Flora, me leva
lá?", pedia uma delas, mostrando a câmera digital e cartazes
com a foto da atriz, a quem quer
que tivesse alguma pinta de estar envolvido com o evento.
Flora, no caso, é o nome da vilã
interpretada por Pillar na última novela das oito.
Depois de um pequeno discurso da diretora, que, tímida,
resumiu sua relação com Waldick e "os mistérios que rondaram nossos silêncios e eu nunca quis quebrar", o vozeirão do
cantor toma a praça, enquanto
sua imagem surge na tela -redonda- lá no alto.
O coro foi murchando, as câmeras entraram nas bolsas, as
fotos de Flora foram para o
chão. Caetité fez silêncio. Era
hora de se assistir no cinema.
O jornalista MARCUS PRETO viajou a convite da produção do filme
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