São Paulo, terça-feira, 23 de agosto de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Falta ousadia à geração 60, diz Erasmo

Em entrevista à Folha, autor do álbum "Sexo" diz que artistas precisam contribuir com temas mais relevantes

Cantor, que lançou "Rock'n'Roll" há dois anos, afirma que não vai recorrer às "drogas" para encerrar trilogia

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

"Sexo". Este é o nome do novo CD de Erasmo Carlos. E é em torno dessa temática que se desenrolam todas as letras, escritas pelo próprio ou com parceiros como Arnaldo Antunes, Adriana Calcanhotto e Nelson Motta.
Em entrevista à Folha, Erasmo diz que sente falta desse ingrediente em outros artistas de sua geração.

 


Folha - "Kamasutra", música que abre o novo CD , é uma lista cantada de posições sexuais. Já testou todas elas?
Erasmo Carlos -
[rindo] Não todas. E eu jamais imaginava esses nomes engraçados. Fui procurar no Google e cheguei à conclusão que a gente faz quase todas elas, só não sabe como chamam. Nem o Arnaldo [Antunes], que fez a letra, conhece todas elas.

Como aconteceram as parcerias. Você sugeriu aos letristas do que elas deveriam tratar?
Não interferi em nada. Cada um viu o sexo a seu modo. Sexo é uma coisa muito grande, não é só pornografia. O Big Bang foi o primeiro sexo no universo, que gerou vida na Terra e onde mais quer que ela exista em outros planetas. A natureza toda tem sexo. E, se ele é considerado tabu até hoje, isso é por problemas da sociedade.

Um disco como o seu pretende enfrentar essa sociedade?
Nem pensei nisso. Mas sexo é uma coisa linda e importante como o ar que a gente respira. E, no entanto, é mal tratado nas escolas, nos lares. Os filhos não podem perguntar sobre o assunto aos pais, como se sexo não fosse uma coisa profunda como português ou matemática. Afinal, o máximo prazer que o ser humano pode alcançar é o orgasmo.

Você chega a citar o seu Big Bang pessoal em uma música.
Imaginei um espermatozoide pensando naquilo. Ele quer viver, quer ganhar a corrida, o prêmio dele é a vida. E isso é uma sorte. Porque ele pode estar vindo para uma punheta, para o sexo anal, para um orgasmo noturno. Ele foi ejetado na corrida. Não sabe, mas quer viver.

Sandy deu uma declaração que causou polêmica sobre sexo anal, dizendo que havia prazer nessa área. O que achou dessa declaração?
Prefiro não comentar a declaração da Sandy, mas dizer o que eu acho. Já constatei que existe muito prazer em sexo anal. Quando fiz, as mulheres gostaram muito. Mas jamais forcei. Os limites do homem, quem impõe, é a mulher. Sou o que ela quiser que eu seja. Ela pede, eu faço.

Isso não combina com aquele cantor que "tem que manter a fama de mau". A "fama de mau" é uma camuflagem para o homem romântico?
Isso de fama de mau vem da minha atitude na música, do meu porte físico, da minha cara. Tudo acaba levando para esse lado. Mas eu posso ser bom também. E esse íntimo eu mostro bastante, mas ninguém olha muito para ele.

Caetano Veloso também fez um disco bem sexual, "Cê" (2006). Está faltando essa mesma pegada nos trabalhos mais recentes de artistas da sua geração, como Chico Buarque e Roberto Carlos?
Não falta só sexo, mas muita coisa. Falta ousadia. E ousadia não é fazer um disco só de palavrão. É abordar os temas com mais sinceridade, para que sejam discutidos. Isso é uma boa contribuição. Agora a pessoa que só faz músicas românticas, falando do bem, não está contribuindo tanto. Fica meio irrelevante.

Você fez "Rock'n'Roll" há dois anos. Agora, "Sexo". Vai completar a tríade com "Drogas" ou o tema é proibido?
Não é que seja proibido. Mas não sou sincero em falar disso porque não transo mais [drogas]. O mundo mudou e esse slogan ficou datado, dos anos 60, quando as drogas estavam chegando. Era uma loucura, uma moda. Era experiência. Não se sabia os efeitos. Perdi muitos amigos.

JOÃO PEREIRA COUTINHO
O colunista está em férias


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Frases
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.