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ARTES VISUAIS
Exposição no Centro Britânico traz ao Brasil 189 gravuras de nomes como Peter Blake e Gary Hume
"Paper Democracy" põe a arte inglesa em circulação em SP
JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A "democracia do papel", que
ninguém se engane, não é o acesso democrático à compra de gravuras feitas por grandes nomes da
arte como Tony Cragg, Damien
Hirst ou Richard Hamilton. Na
exposição que abre hoje no Centro Britânico, com obras destes e
mais 18 artistas nascidos ou radicados no Reino Unido, o público
vai ver um conjunto expressivo de
trabalhos que só pôde ser trazido
ao Brasil devido à facilidade de
circulação de obras em papel.
Uma exposição que apresentasse pinturas, esculturas e instalações deste mesmo grupo de artistas teria um custo de frete e seguro
proibitivo para os padrões brasileiros, segundo o produtor da
mostra, Paulo Petrarca, que
acompanhou o curador Gerard
Hemsworth na peregrinação por
editores, galeristas e impressores
em Londres durante oito meses
na busca por obras e intermediou
tanto os empréstimos quanto algumas vendas.
O sentido democrático da impressão está também na disposição das obras no espaço: o curador colocou lado a lado jovens artistas e nomes consagrados "porque o suporte permite; a superfície do papel iguala todos os trabalhos", afirma Petrarca, que é marchand e consultor de arte.
Algumas das séries em exibição
no Centro Britânico vieram ao
Brasil para ficar, compradas por
coleções particulares. A famosa e
polêmica série dos irmãos Chapman "Os Desastres da Guerra", de
1999, uma recriação da série homônima de Goya que retrata atrocidades e violência de todo tipo, é
um dos conjuntos que foram adquiridos por um colecionador
brasileiro. O preço da série (que
está completa na mostra), com 83
águas-fortes (gravura em metal),
é estimado em US$ 350 mil.
A igualmente famosa série de
Damien Hirst, "A Última Ceia"
-que teve uma parte exibida em
"A Bigger Splash: Arte Britânica
da Tate de 1960 a 2003" no ano
passado em São Paulo- também
pode ser vista integralmente agora. As 13 impressões serigráficas
em grande escala retratam rótulos
de remédios que "contêm" comprimidos de omelete, cápsulas de
salsicha e pastilhas de cogumelo, e
são fabricados por certa indústria
"Hirst" (os diversos logos trazem
variações do nome do artista).
Ironizando o design gráfico da
indústria farmacêutica e a iconografia religiosa, Hirst dialoga com
a cultura de massa, assim como
Julian Opie e Michael Craig-Martin, que dividem a sala com ele.
"Relações Íntimas", de Martin,
pertence à mesma "família" do
painel que o artista fez na Bienal
de SP em 1998, e as obras de Opie
remetem aos desenhos que ele fez
para o encarte de um CD do Blur.
O pop também está na mira de
Peter Blake na série "Alfabeto", de
1991, e de Peter Doig em "100
Anos Atrás", uma releitura do
movimento hippie e da ideologia
pacifista. Ambos estão em uma
sala que tematiza as apropriações;
com destaque para a singela serigrafia de Gillian Wearing, que reproduz páginas do diário de uma
adolescente apaixonada.
Os Chapman poderiam estar no
mesmo ambiente, mas o curador
preferiu inserir "Os Desastres..."
na sala "Corpos e morte", com
obras de Gavin Turk, Siobhán
Hapaska, Tony Cragg e do novíssimo Nigel Cooke -que na gravura de aspecto mais artesanal da
exposição imprime talvez o discurso mais contemporâneo.
A maioria das impressões tem
uma qualidade técnica que lembra mais a indústria gráfica de
ponta do que os tradicionais ateliês de gravura: de fato, em Londres, há um circuito de "printers"
e "editors" especializados em arte
e que trabalham com processos
de impressão em 168 cores.
A última sala reúne naturezas-mortas de Patrick Caufield, retratos quase abstratos de Gary Hume
e série histórica de serigrafias de
Eduardo Paolozzi. Contrastando
com estas estrelas da gravura, está
a série "Filme de Ficção" (1991) do
artista multimídia Victor Burgin,
sobreposição de frames de um filme perdido de André Breton.
PAPER DEMOCRACY. Onde: Centro
Brasileiro Britânico (r. Ferreira Araújo,
741, SP, tel. 0/xx/11/3039-0500).
Quando: abertura hoje, às 20h; de seg. a
sex., das 10h às 19h; sáb. e dom., das 10h
às 16h; até 10/12. Quanto: grátis.
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