São Paulo, quinta-feira, 23 de setembro de 2004

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ARTES VISUAIS

Exposição no Centro Britânico traz ao Brasil 189 gravuras de nomes como Peter Blake e Gary Hume

"Paper Democracy" põe a arte inglesa em circulação em SP

JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A "democracia do papel", que ninguém se engane, não é o acesso democrático à compra de gravuras feitas por grandes nomes da arte como Tony Cragg, Damien Hirst ou Richard Hamilton. Na exposição que abre hoje no Centro Britânico, com obras destes e mais 18 artistas nascidos ou radicados no Reino Unido, o público vai ver um conjunto expressivo de trabalhos que só pôde ser trazido ao Brasil devido à facilidade de circulação de obras em papel.
Uma exposição que apresentasse pinturas, esculturas e instalações deste mesmo grupo de artistas teria um custo de frete e seguro proibitivo para os padrões brasileiros, segundo o produtor da mostra, Paulo Petrarca, que acompanhou o curador Gerard Hemsworth na peregrinação por editores, galeristas e impressores em Londres durante oito meses na busca por obras e intermediou tanto os empréstimos quanto algumas vendas.
O sentido democrático da impressão está também na disposição das obras no espaço: o curador colocou lado a lado jovens artistas e nomes consagrados "porque o suporte permite; a superfície do papel iguala todos os trabalhos", afirma Petrarca, que é marchand e consultor de arte.
Algumas das séries em exibição no Centro Britânico vieram ao Brasil para ficar, compradas por coleções particulares. A famosa e polêmica série dos irmãos Chapman "Os Desastres da Guerra", de 1999, uma recriação da série homônima de Goya que retrata atrocidades e violência de todo tipo, é um dos conjuntos que foram adquiridos por um colecionador brasileiro. O preço da série (que está completa na mostra), com 83 águas-fortes (gravura em metal), é estimado em US$ 350 mil.
A igualmente famosa série de Damien Hirst, "A Última Ceia" -que teve uma parte exibida em "A Bigger Splash: Arte Britânica da Tate de 1960 a 2003" no ano passado em São Paulo- também pode ser vista integralmente agora. As 13 impressões serigráficas em grande escala retratam rótulos de remédios que "contêm" comprimidos de omelete, cápsulas de salsicha e pastilhas de cogumelo, e são fabricados por certa indústria "Hirst" (os diversos logos trazem variações do nome do artista).
Ironizando o design gráfico da indústria farmacêutica e a iconografia religiosa, Hirst dialoga com a cultura de massa, assim como Julian Opie e Michael Craig-Martin, que dividem a sala com ele. "Relações Íntimas", de Martin, pertence à mesma "família" do painel que o artista fez na Bienal de SP em 1998, e as obras de Opie remetem aos desenhos que ele fez para o encarte de um CD do Blur.
O pop também está na mira de Peter Blake na série "Alfabeto", de 1991, e de Peter Doig em "100 Anos Atrás", uma releitura do movimento hippie e da ideologia pacifista. Ambos estão em uma sala que tematiza as apropriações; com destaque para a singela serigrafia de Gillian Wearing, que reproduz páginas do diário de uma adolescente apaixonada.
Os Chapman poderiam estar no mesmo ambiente, mas o curador preferiu inserir "Os Desastres..." na sala "Corpos e morte", com obras de Gavin Turk, Siobhán Hapaska, Tony Cragg e do novíssimo Nigel Cooke -que na gravura de aspecto mais artesanal da exposição imprime talvez o discurso mais contemporâneo.
A maioria das impressões tem uma qualidade técnica que lembra mais a indústria gráfica de ponta do que os tradicionais ateliês de gravura: de fato, em Londres, há um circuito de "printers" e "editors" especializados em arte e que trabalham com processos de impressão em 168 cores.
A última sala reúne naturezas-mortas de Patrick Caufield, retratos quase abstratos de Gary Hume e série histórica de serigrafias de Eduardo Paolozzi. Contrastando com estas estrelas da gravura, está a série "Filme de Ficção" (1991) do artista multimídia Victor Burgin, sobreposição de frames de um filme perdido de André Breton.


PAPER DEMOCRACY. Onde: Centro Brasileiro Britânico (r. Ferreira Araújo, 741, SP, tel. 0/xx/11/3039-0500). Quando: abertura hoje, às 20h; de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb. e dom., das 10h às 16h; até 10/12. Quanto: grátis.


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