São Paulo, quinta-feira, 23 de setembro de 2004

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MÚSICA

Autor do mais bem-sucedido álbum de eletrônica, produtor norte-americano se apresenta como DJ em festa no Rio

Moby ataca Bush, finaliza CD e vem ao Brasil

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

Autor de um álbum que vendeu mais de 10 milhões de cópias e proprietário de uma casa de chá em Nova York, Moby ultimamente está ocupado com basicamente dois assuntos: finalizar o próximo disco e atacar George W. Bush.
"Para mim, ele é o mais estúpido e o mais corrupto presidente da história dos Estados Unidos", afirma o DJ e produtor em entrevista por e-mail à Folha.
Nascido em 11 de setembro de 1965, no Harlem, Richard Melville Hall, que há cinco anos, com "Play", criou o mais bem-sucedido comercialmente disco da história da música eletrônica, se mostra quase resignado quanto a uma possível vitória de Bush nas eleições de novembro. "Acho que ou os norte-americanos são ignorantes ou escolhem ser ignorantes. Muitos vão votar nele apenas porque enxergam em Bush um bom modelo paterno."
Política é assunto quase onipresente nas conversas de Moby tanto em entrevistas quanto no diário que atualiza em seu site, www.moby.com. E ele volta a ser notícia quente no Brasil porque desembarca no Rio de Janeiro no próximo final de semana, como atração de uma festa da marca de roupas Diesel, no hotel Glória.
Será evento fechado, para 1.300 convidados da empresa -entre eles Fernanda Torres, Miguel Falabella e Rodrigo Santoro-, mas não um show: Moby se apresentará como DJ, tocando entre 1h30 e 3h30 de sábado para domingo.
Horas depois de tocar por aqui, ele volta a Nova York, onde finaliza o que será o sucessor de "18" (2002), que deve sair no ano que vem. "Já tenho umas 150 canções preparadas. Será um disco new wave e melódico", diz, e bem diferente da linhagem soul/gospel de seus dois últimos álbuns. "Realmente não soa em nada como "Play" ou "18". E será um disco completamente livre de samples."

A vingança do nerd
Multiinstrumentista, Moby é também artista multifacetado. Está no ramo desde 1980, quando começou tocando rock numa banda chamada Vatican Commandos. No final dos anos 80, passou a produzir música eletrônica e, em 1991, utilizando sample da música-tema da série "Twin Peaks", de David Lynch, teve o primeiro sucesso com o hit "Go".
Entre 1995 e 1997, lançou três discos ("Everything Is Wrong", "Animal Rights e "I Like to Score"). Nenhum teve grande suporte da gravadora e, sem conseguir alcançar vendagens altas, Moby foi demitido. Sem muitos recursos, fez uma viagem pelo sul dos EUA onde teve contato com vários cantores de soul e blues. Dali surgiu a inspiração para "Play".
"Não sei como aconteceu todo aquele sucesso, pois é apenas um disco produzido no meu apartamento. É irônico: um pequeno álbum, feito por um cara pequeno, num apartamento pequeno tornou-se tão grande. A indústria da música tem cometido uma série de erros e tratado mal os artistas. Espero que agora, que esse sistema está se desfigurando, as gravadoras se dêem conta de que devem nos respeitar mais."
Mas há um fator que ajuda a explicar o sucesso de "Play". O disco, na época que foi lançado, não começou vendendo bem. Moby então licenciou todas as músicas do álbum para comerciais, filmes e seriados de TV. "Play" passou a ser tocado e ouvido em todos os lugares. E explodiu nas lojas do mundo inteiro. Sobre a "tática", ele rebate: "Nunca licenciei canções para vender produtos relacionados a animais e a tabaco ou que eu não usaria".
Vegetariano, Moby abriu em 2002 uma casa de chá em Nova York, a Teany. "Vou lá todos os dias. É um lugar simples e pequeno, como eu. Chá orgânico é um drinque milagroso, tem mais vitaminas e antioxidantes do que qualquer outro alimento."
Assumidamente um "nerd" musical e social, Moby é também religioso. "Adoro os ensinamentos de Cristo, que nos encorajam a sermos amáveis e misericordiosos. Mas eu nunca entraria numa discussão por causa de religião."

No Brasil
Moby diz que em seu set tocará "disco music e house alegre, divertida". Está é a segunda vez que ele vem ao país -em maio de 1993, ao lado, entre outros, do duo inglês Altern 8 e do americano Mark Kamins- ele protagonizou aquela que é considerada a primeira rave de grande porte do país, a "The Dance Party", ocorrida num galpão na al. Eduardo Prado, centro de São Paulo, para quase 3.000 pessoas.
O DJ paulista Mau Mau, que participou da festa, conta: "Na época, era estranho para o público esse tipo de música e de festa. O Moby tocou utilizando uma bateria eletrônica e teclados".
A rave passou também por Curitiba e Porto Alegre, e Moby foi vítima de uma gafe. Os produtores do evento organizaram um almoço de boas-vindas aos DJs, e levaram todos a uma... churrascaria. Moby ficou ofendido e depois disso não fez questão nenhuma em interagir com o restante do grupo. "Ele é simpático, mas muito tímido", diz Mau Mau.


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