|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Livros
Leon Cakoff narra suas andanças pelo mundo
Criador da Mostra de Cinema de SP lança "Ainda Temos Tempo", com 15 crônicas
Livro que será lançado nesta segunda traz textos que misturam diário de viagem com perfis de cineastas como Fellini e Luís Buñuel
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Não existisse Leon Cakoff, a
qualidade da cena cinematográfica brasileira estaria ainda
no equivalente ao filme mudo.
É muito por conta de sua Mostra Internacional de São Paulo,
neste ano em sua 30ª edição,
que o cinéfilo tupiniquim pôde
ter contato com a cinematografia iraniana pós-revolução, o
novo cinema chinês, a emergente produção da África, enfim, olhares além do evidente,
além do eixo Hollywood-Europa Ocidental.
Foi do estoicismo incansável
da diminuta e inconfundível figura que até ponta como Getúlio Vargas já fez que nasceu o
maior evento do tipo no país, a
partir de uma salinha no subsolo do Masp. Quem já se acostumou a parar tudo uma vez por
ano para poder acompanhar as
centenas de filmes que ele traz
não imagina como o esforço
hercúleo e por vezes com lances quixotescos continua ainda
hoje, 30 anos depois, na busca
por patrocínio, liberação de filmes na alfândega e apoio estatal, na lida com egos de artistas.
Cakoff já fez um filme, em co-autoria com sua mulher, Renata de Almeida, também parceira na Mostra. Ambos tiveram
filho. Posso jurar que em algum
momento ele plantou uma árvore. É apenas natural que vire
livro a experiência que ele acumulou em décadas de convivência com o mundo cinematográfico, primeiro como jornalista, depois como diretor de
festival, profissões que o levaram a visitar meio mundo.
Daí esse "Ainda Temos Tempo" (ed. Cosacnaify). São 15
crônicas, prefaciadas por Carlos Reichenbach e posfaciadas
por Arnaldo Jabor -de certa
forma nomes que representam
dois lados de um mesmo tíquete de entrada do cinema nacional-, em que o autor mistura
diário de viagem com perfis de
notáveis.
Nos diários, há uma curiosa
recorrência a países visitados
em épocas de exceção, como a
Alemanha ainda dividida, a Argentina ainda militar e a Tchecoslováquia ainda encortinada.
É quando o autor se sai melhor,
ajudado pelo distanciamento
do tempo. Nos perfis, encontros ao vivo e em cores com verbetes do cinema mundial do
quilate de Federico Fellini
(1920-1993) e Luís Buñuel
(1900-1983).
Mas o que prefiro mesmo são
os personagens anônimos, que
pipocam aqui e ali, "fellinianos", como ele descreve, como
o porteiro japonês que solta a
frase que dá título ao livro.
Fez filmes, sabe escrever, ganha a vida viajando o mundo
para ir ao cinema e escolher os
melhores para mostrar aos
"amigos", hoje centenas de milhares de pessoas que freqüentam a sua mostra todos os anos.
Um homem invejável, com um
livro admirável.
AINDA TEMOS TEMPO
Autor: Leon Cakoff
Editora: Cosacnaify
Quanto: R$ 39 (176 págs.)
Lançamento: segunda, às 19h, no Unibanco Arteplex (r. Frei Caneca, 569, 3º
piso, tel. 0/xx/11/3742-2365)
Texto Anterior: Vitrine Próximo Texto: Artes plásticas: Von Poser mostra imagens captadas a bordo de dirigível Índice
|