São Paulo, sábado, 23 de setembro de 2006

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Livros

Leon Cakoff narra suas andanças pelo mundo

Criador da Mostra de Cinema de SP lança "Ainda Temos Tempo", com 15 crônicas

Livro que será lançado nesta segunda traz textos que misturam diário de viagem com perfis de cineastas como Fellini e Luís Buñuel


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Não existisse Leon Cakoff, a qualidade da cena cinematográfica brasileira estaria ainda no equivalente ao filme mudo.
É muito por conta de sua Mostra Internacional de São Paulo, neste ano em sua 30ª edição, que o cinéfilo tupiniquim pôde ter contato com a cinematografia iraniana pós-revolução, o novo cinema chinês, a emergente produção da África, enfim, olhares além do evidente, além do eixo Hollywood-Europa Ocidental.
Foi do estoicismo incansável da diminuta e inconfundível figura que até ponta como Getúlio Vargas já fez que nasceu o maior evento do tipo no país, a partir de uma salinha no subsolo do Masp. Quem já se acostumou a parar tudo uma vez por ano para poder acompanhar as centenas de filmes que ele traz não imagina como o esforço hercúleo e por vezes com lances quixotescos continua ainda hoje, 30 anos depois, na busca por patrocínio, liberação de filmes na alfândega e apoio estatal, na lida com egos de artistas.
Cakoff já fez um filme, em co-autoria com sua mulher, Renata de Almeida, também parceira na Mostra. Ambos tiveram filho. Posso jurar que em algum momento ele plantou uma árvore. É apenas natural que vire livro a experiência que ele acumulou em décadas de convivência com o mundo cinematográfico, primeiro como jornalista, depois como diretor de festival, profissões que o levaram a visitar meio mundo.
Daí esse "Ainda Temos Tempo" (ed. Cosacnaify). São 15 crônicas, prefaciadas por Carlos Reichenbach e posfaciadas por Arnaldo Jabor -de certa forma nomes que representam dois lados de um mesmo tíquete de entrada do cinema nacional-, em que o autor mistura diário de viagem com perfis de notáveis.
Nos diários, há uma curiosa recorrência a países visitados em épocas de exceção, como a Alemanha ainda dividida, a Argentina ainda militar e a Tchecoslováquia ainda encortinada.
É quando o autor se sai melhor, ajudado pelo distanciamento do tempo. Nos perfis, encontros ao vivo e em cores com verbetes do cinema mundial do quilate de Federico Fellini (1920-1993) e Luís Buñuel (1900-1983).
Mas o que prefiro mesmo são os personagens anônimos, que pipocam aqui e ali, "fellinianos", como ele descreve, como o porteiro japonês que solta a frase que dá título ao livro.
Fez filmes, sabe escrever, ganha a vida viajando o mundo para ir ao cinema e escolher os melhores para mostrar aos "amigos", hoje centenas de milhares de pessoas que freqüentam a sua mostra todos os anos.
Um homem invejável, com um livro admirável.


AINDA TEMOS TEMPO
Autor:
Leon Cakoff
Editora: Cosacnaify
Quanto: R$ 39 (176 págs.)
Lançamento: segunda, às 19h, no Unibanco Arteplex (r. Frei Caneca, 569, 3º piso, tel. 0/xx/11/3742-2365)


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