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Filme de Jabor abre hoje Festival do Rio
"A Suprema Felicidade", retorno do cineasta ao set depois de 20 anos, presta homenagem ao espírito carioca
"Sou um romântico", diz diretor que, na tela, deixa de lado a acidez; "fiz o filme pensando apenas no espectador"
ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO
Foram 20 anos de ausência do set. Foram também 20
anos de textos escritos no calor da hora e críticas ácidas
aos governos e ao país. Da soma dessas duas experiências
surgiu "A Suprema Felicidade", o longa-metragem que
marca a volta de Arnaldo Jabor, 69 anos, ao cinema.
O filme, que chega às telas
de todo país em 29 de outubro, será exibido hoje à noite,
em sessão de gala, no Cine
Odeon, na abertura do Festival do Rio, que vai até o dia 7.
Ao retornar para detrás
das câmeras, o diretor de
"Toda Nudez Será Castigada" (1973) e "Eu Sei que Vou
Te Amar" (1986) surge envolto em certo saudosismo -do
cinema e também do país.
O comentarista feroz dá lugar, na tela, ao romântico desejoso de falar sobre o amor,
ao cronista que idealiza um
certo espírito carioca.
"A realidade eu tenho todo
dia. Vejo as coisas ruins, criticáveis, e escrevo sobre elas.
Isso te envenena a alma", diz
Jabor. "Fiz esse filme em busca do prazer da obra de arte."
TIPOS FELLINIANOS
O filme é, à la "Amarcord",
de Fellini, uma volta à infância do diretor. No Rio dos
anos 1940, o menino Paulo,
que seguiremos dos oito aos
18 anos, vê a cidade e as vidas adultas correrem por
seus olhos de maneira cômica, dramática, escrachada.
"Os filmes atuais são obcecados pelo enredo. O que tem
de felliniano no meu filme é
que as sequências se somam,
sem que uma explique, necessariamente, a outra", diz.
"São vários os enredos."
Atores como Marco Nanini, Dan Stulbach, Mariana Lima, Ary Fontoura, Elke Maravilha e João Miguel desfilarão pelo filme em papéis que
crescem e encolhem. Jabor tirou, de sua caixinha de lembranças, o capitão obcecado
por aviões, o pipoqueiro galanteador, a mãe de santo, as
prostitutas, os sambistas, os
padres caricatos.
"Nestes tempos pós-utópicos, os diretores me parecem
um pouco perdidos, tentando falar dos grandes temas.
Decidi falar sobre o que eu
sei", diz. "A busca da felicidade atravessa épocas."
Jabor não se vê saudosista.
Acha, ao contrário, que fez
um filme colado à realidade.
Essa característica, segundo
ele, se deve ao jornalismo.
"O jornalismo foi uma das
melhores coisas que me
aconteceram. Ele me livrou
do cinema, que estava me
enlouquecendo, me colocou
no mundo", diz.
"Eu tinha ganho uma Palma de Ouro [de atriz, para
Fernanda Torres, por "Eu Sei
que Vou te Amar"] e, de repente, não tinha dinheiro para comer. Pior: estava vendo
meus amigos morrerem",
diz, referindo-se a Glauber
Rocha, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman.
Talvez por isso, ao voltar
para o set, ele tenha ido atrás
da suprema felicidade.
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