São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 2011

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CRÍTICA DRAMA

'Borboletas Negras' reconstrói vida de poeta africana suicida

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Muita gente costuma crer na ideia de que a própria vida daria um livro.
Roteiristas tendem a reagir assim também às biografias, imaginando que haja ali material para um filme. Grande artista somado a uma vida de sofrimentos é igual a obra de sucesso, supõe a fórmula.
Esse automatismo se reconhece de cara em "Borboletas Negras", que reconstitui a existência da poeta sul-africana Ingrid Jonker sob a faceta artística e política.
Após se suicidar, aos 31 anos, ela tornou-se um ícone do processo histórico de redemocratização da África do Sul. O líder negro Nelson Mandela leu um de seus poemas na abertura do Congresso em 1994.
Mulher de personalidade libertária, Jonker cresceu sob os rigores de um pai partidário da supremacia branca e indignou-se contra a divisão social racista de seu país.
De um lado, essa figura paterna, construída de maneira monocromática pelo sumido Rutger Hauer, representa o aspecto conservador e repressor que ela rebate com a sua poesia.
O fato de ele ser um parlamentar responsável pela censura reforça o enfoque sobre os efeitos destrutivos que a coerção pode causar. De outro lado, o estímulo à expressão junto ao acolhimento afetivo aparece associado ao personagem de Jack Cope, escritor mais velho que assume a função de tutela.
Mas o personagem mostra-se incapaz de conviver com a sexualidade transbordante da mulher que ama. Em contraste com essas marcadas imagens masculinas, a artista ganha todos os contornos da mártir romântica: reprimida, abandonada, anulada, torturada e, por fim, suicida.

ATUAÇÃO
A ótima Carice van Houten (de "A Espiã") entrega-se mais uma vez com toda força ao seu papel, mas é levada a retribuir com uma atuação excessiva.
Para alcançar um retrato que se impõe com base na reação emocional de seu público, a direção da holandesa Paula van der Oest ignora as vantagens da linguagem poética e simplesmente converte a personagem na principal vítima do filme.

BORBOLETAS NEGRAS
PRODUÇÃO Holanda, 2011
DIREÇÃO Paula van der Oest
COM Rutger Hauer, Carice van Houten e Liam Cunningham
ONDE Espaço Unibanco Augusta, Reserva Cultural e circuito
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO regular


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