São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 2011

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Bob Wilson volta ao palco com Beckett

Encenador americano se apresenta em Porto Alegre em "A Última Gravação de Krapp", do dramaturgo irlandês

Ele afirma que prefere dirigir, mas que às vezes quer sentir como é estar dentro de seu próprio trabalho

FABIO CYPRIANO
CRÍTICO DA FOLHA

O encenador norte-americano Bob Wilson nunca estudou teatro e, mesmo assim, é uma das figuras fundamentais da arte no século 20, que continua com todo o vigor no início do século 21. "É justamente porque não estudei teatro que pude ser tão experimental", afirmou Wilson à Folha, anteontem, na casa de uma amiga, onde se hospedava, nos Jardins, em São Paulo.
Hoje, ele está em Porto Alegre para a apresentação de "A Última Gravação de Krapp", de Samuel Beckett, uma das poucas peças criadas nos últimos anos nas quais dirige e atua. "Prefiro dirigir. Atuar cansa emocionalmente e sempre me frustro porque sou muito rigoroso comigo mesmo, além se ser muito lento para aprender", diz sorrindo.
No entanto, a cada dez anos, Wilson tem retornado aos palcos para sentir "como é estar dentro de meu próprio trabalho". Nos anos 1990, ele encenou "Hamlet", de Shakespeare, mas transformou o texto num monólogo, representando todos os personagens.

SEPTUAGENÁRIO
Agora, no texto de Beckett (1906-89), que estreou há dois anos, na Itália, ele representa um homem de 70 anos, Krapp, que ouve fitas com sua própria voz, gravadas quando jovem. A peça é considerada uma autobiografia do dramaturgo irlandês.
Beckett chegou a assistir à primeira encenação de Wilson na Europa, em 1971, "Deafman Glance", e a elogiou porque disse que ele sabia lidar com o nonsense.
O espetáculo também foi enaltecido por outra figura-chave do teatro no século 20, o dramaturgo franco-romeno Eugène Ionesco (1909-94): "Ele foi além de Beckett porque em sua obra o silêncio é um silêncio que fala".
"Depois do monólogo do Hamlet, pensei em várias peças, mas decidi pelo texto de Beckett porque ele trata de um homem de 70 anos que reflete sobre sua própria vida, e eu estou com 70 anos."

IMÓVEL
No entanto, como é corrente nos espetáculos Wilson, o texto não é a parte mais valorizada. "Eu procuro trabalhar em como sentir na forma", diz o diretor, que permanece imóvel nos primeiros 20 minutos do espetáculo.
Esse estilo de valorizar a forma, a construção da imagem, é o que o diferencia de grande parte da produção norte-americana no teatro, em dramaturgos como Tennessee Williams (1911-83) ou Edward Albee. "Eles pensam demais, difícil é não pensar nada", afirma Wilson.

A ÚLTIMA GRAVAÇÃO DE KRAPP
ONDE Theatro São Pedro (praça Marechal Deodoro, s/nº, Porto Alegre; tel. 0/xx/51/3226-2940)
QUANDO hoje e amanhã, às 21h; dom., às 18h
QUANTO R$ 40 (ingressos esgotados)
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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