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DVDS
COLEÇÃO
"Ninotchka" se destaca em final de carreira da diva do cinema americano
Caixa enfoca Garbo, mito da época de ouro de Hollywood
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Quer conhecer um pouco da
época de ouro do "star
system" hollywoodiano? Veja os
filmes de Greta Garbo. Ela encarna a "estrela de cinema" em seus
aspectos mais luminosos e sombrios. O rosto de traços impecáveis não escondia suas limitações
como atriz. O fato de ser um símbolo sexual nunca se desprendeu
da frieza necessária para a fabricação do mito além do humano.
Se os produtores concebiam os
filmes especialmente para ela
-mais do que isso, para que seu
rosto fosse projetado nas proporções gigantes da tela de cinema-,
também não permitiam qualquer
fuga do padrão de beleza, de classe e de "majestade" encarnado
por ela. Não por acaso, Garbo fez
seu último filme em 1941, aos 36
anos, e jamais voltou a atuar até
sua morte, aos 85 anos.
A majestade de "star" orienta
toda a trajetória de Greta Garbo
no cinema. O segundo volume da
coleção dedicada à atriz que a
Warner acaba de lançar em DVD
só confirma essas características.
São três longas: "Anna Karenina"
(1935), de Clarence Brown, "A
Dama das Camélias" (1936), de
George Cukor, e "Ninotchka"
(1939), de Ernst Lubitsch. Os dois
primeiros, clássicos no sentido
mais restrito do termo. O último,
não por acaso o melhor, um clássico no sentido mais amplo. Nele,
Garbo se dá ao luxo de arranhar
um pouco sua "persona" ao participar de uma comédia. Mesmo
assim, uma comédia que explora
a sisudez de sua imagem.
Greta Garbo nasceu Greta Louisa Gustafsson, em 1905, na Suécia.
Quando ela tinha 14 anos, seu pai
morreu sem deixar meios para a
família se sustentar, e a menina
precisou ir à luta. Começou a trabalhar em uma loja de departamentos e, como era muito bonita,
passou a vestir os modelos da loja
e a trabalhar como modelo. Acabou em um pequeno comercial
para o cinema dessa mesma loja.
A partir daí, sua carreira deslanchou. Foi parar em Hollywood.
Os três filmes da coleção já representam o final de sua carreira.
"Anna Karenina" e "A Dama das
Camélias" são devidamente inspirados em romances de autores
consagrados pela grande literatura (Leon Tolstói e Alexandre Dumas), em que ela contracena com
atores de porte e em que sua personagem ganha o inexorável fim
trágico. São também trabalhos
um tanto engessados pela característica máxima do cinema americano da época: as filmagens em
estúdio, duramente limitadas por
questões técnicas. Típicos "veículos" para Garbo, que não vão
muito além desse horizonte.
Mas, em "Ninotchka", não.
Nesse filme, "Garbo ri". Não por
acaso, todo o bem-sucedido
"marketing" do filme foi baseado
nessa frase. De fato, "Ninotchka"
é o supra-sumo da comédia americana, um dos grandes momentos do cinema de Ernst Lubitsch.
Ninotchka, o personagem de
Garbo, é uma agente soviética enviada a Paris para recuperar três
oficiais que "se perderam" por lá,
seduzidos pelas graças do capitalismo. Ela é a rigidez em pessoa:
dorme com uma fotografia do camarada Lênin na cabeceira e morre de culpa por pagar diárias de
hotel que poderiam ajudar a vida
de muitos camponeses na sua terra. Mas Ninotchka também não
estará imune à ação do sedutor
Leon (Melvin Douglas). Sai de sua
boca uma das grandes frases de
sedução do cinema: "É meia-noite, Ninotchka. Metade de Paris está fazendo amor com a outra metade". Como resistir?
Quando, enfim, Greta Garbo
solta uma sonora gargalhada, um
mito se desarma franca e saborosamente diante do espectador deliciado. Um daqueles momentos
preciosos do cinema.
Coleção Greta Garbo - Volume 2
Anna Karenina
A Dama das Camélias
Ninotchka
Distribuidora: Warner; R$ 90, em
média (a caixa)
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