São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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DVDS

COLEÇÃO

"Ninotchka" se destaca em final de carreira da diva do cinema americano

Caixa enfoca Garbo, mito da época de ouro de Hollywood

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Quer conhecer um pouco da época de ouro do "star system" hollywoodiano? Veja os filmes de Greta Garbo. Ela encarna a "estrela de cinema" em seus aspectos mais luminosos e sombrios. O rosto de traços impecáveis não escondia suas limitações como atriz. O fato de ser um símbolo sexual nunca se desprendeu da frieza necessária para a fabricação do mito além do humano.
Se os produtores concebiam os filmes especialmente para ela -mais do que isso, para que seu rosto fosse projetado nas proporções gigantes da tela de cinema-, também não permitiam qualquer fuga do padrão de beleza, de classe e de "majestade" encarnado por ela. Não por acaso, Garbo fez seu último filme em 1941, aos 36 anos, e jamais voltou a atuar até sua morte, aos 85 anos.
A majestade de "star" orienta toda a trajetória de Greta Garbo no cinema. O segundo volume da coleção dedicada à atriz que a Warner acaba de lançar em DVD só confirma essas características. São três longas: "Anna Karenina" (1935), de Clarence Brown, "A Dama das Camélias" (1936), de George Cukor, e "Ninotchka" (1939), de Ernst Lubitsch. Os dois primeiros, clássicos no sentido mais restrito do termo. O último, não por acaso o melhor, um clássico no sentido mais amplo. Nele, Garbo se dá ao luxo de arranhar um pouco sua "persona" ao participar de uma comédia. Mesmo assim, uma comédia que explora a sisudez de sua imagem.
Greta Garbo nasceu Greta Louisa Gustafsson, em 1905, na Suécia. Quando ela tinha 14 anos, seu pai morreu sem deixar meios para a família se sustentar, e a menina precisou ir à luta. Começou a trabalhar em uma loja de departamentos e, como era muito bonita, passou a vestir os modelos da loja e a trabalhar como modelo. Acabou em um pequeno comercial para o cinema dessa mesma loja. A partir daí, sua carreira deslanchou. Foi parar em Hollywood.
Os três filmes da coleção já representam o final de sua carreira. "Anna Karenina" e "A Dama das Camélias" são devidamente inspirados em romances de autores consagrados pela grande literatura (Leon Tolstói e Alexandre Dumas), em que ela contracena com atores de porte e em que sua personagem ganha o inexorável fim trágico. São também trabalhos um tanto engessados pela característica máxima do cinema americano da época: as filmagens em estúdio, duramente limitadas por questões técnicas. Típicos "veículos" para Garbo, que não vão muito além desse horizonte.
Mas, em "Ninotchka", não. Nesse filme, "Garbo ri". Não por acaso, todo o bem-sucedido "marketing" do filme foi baseado nessa frase. De fato, "Ninotchka" é o supra-sumo da comédia americana, um dos grandes momentos do cinema de Ernst Lubitsch.
Ninotchka, o personagem de Garbo, é uma agente soviética enviada a Paris para recuperar três oficiais que "se perderam" por lá, seduzidos pelas graças do capitalismo. Ela é a rigidez em pessoa: dorme com uma fotografia do camarada Lênin na cabeceira e morre de culpa por pagar diárias de hotel que poderiam ajudar a vida de muitos camponeses na sua terra. Mas Ninotchka também não estará imune à ação do sedutor Leon (Melvin Douglas). Sai de sua boca uma das grandes frases de sedução do cinema: "É meia-noite, Ninotchka. Metade de Paris está fazendo amor com a outra metade". Como resistir?
Quando, enfim, Greta Garbo solta uma sonora gargalhada, um mito se desarma franca e saborosamente diante do espectador deliciado. Um daqueles momentos preciosos do cinema.


Coleção Greta Garbo - Volume 2
Anna Karenina   
A Dama das Camélias   
Ninotchka     
Distribuidora:
Warner; R$ 90, em média (a caixa)



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