São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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TIM FESTIVAL

Líder do grupo Mundo Livre S/A diz que "direito é coisa que muda"; primeira noite no Rio também teve Strokes e Jamie Lidell

Protesto contra armas marca abertura do Tim Festival

ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

A primeira noite do Tim Festival, anteontem no MAM do Rio, foi marcada pela impecável estréia da banda americana The Strokes em palcos brasileiros e por um protesto dos pernambucanos do Mundo Livre S/A.
Na antevéspera do referendo sobre a comercialização de armas no país, o engajado grupo fez defesa do "sim" ao tocar uma cover da música "Guns of Brixton", dos punks britânicos do Clash, no show que abriu as apresentações do palco principal.
Quando terminou, o vocalista Fred 04 disse que a alusão às armas do título da canção não deveria ser mal-entendida. "Liberdade é coisa que muda com o tempo", afirmou o cantor, entre aplausos empolgados do público, que estava apático até então. "Há cem anos, os donos de escravos diziam: "Fodam-se os abolicionistas. Eu tenho o direito de ter meus escravos". Direito é coisa que muda. A sociedade está mudando."
A banda, no entanto, foi vista por um público reduzido. O palco principal, que teve esgotados seus 4.000 ingressos, ficou lotado apenas a partir do segundo show, do Kings of Leon, que fez uma performance tradicional de rock, sem surpresas.
O público só começou a comparecer em peso a partir da meia-noite, um dos motivos que justificaram o atraso de uma hora no início das apresentações do palco Tim Lab, onde tocava a primeira atração, o multiinstrumentista brasileiro Maurício Takara.
Enquanto isso, no mesmo horário, o Tim Village, área de convivência, era tomada por quem saía do palco de jazz e por aqueles que chegavam para os shows da madrugada. Alguns pagaram R$ 10 apenas para ter acesso ao espaço e assistir aos DJs Xerxes e Marky.
"Estou achando legal, mas nada demais", disse a cenógrafa Cláudia Alencar, 45, que estava acompanhando a filha, Elisa Faulhaber, 22, no show dos Strokes, sobre a estrutura do festival. "Lá fora, no lounge [Village], faz um tremendo calor, e aqui [Tim Lab], esse frio." O ar-condicionado, regulado em temperatura "polar", afugentava o público do espaço e foi motivo de reclamações.

Surpresas
No palco principal o show do Strokes fazia a platéia pular, cantando todos os seus hits (leia texto ao lado). Entre os tradicionais fãs roqueiros, de 20 e poucos anos, misturava-se um público variado, formado por gente de todas as idades. O professor Miro Oliveira, 40, estava no show a pedido do filho, Breno Freire Oliveira, 12. "Ele veio aqui para escrever um texto para o jornalzinho da escola dele", disse Miro.
Se o palco principal correu conforme as expectativas, a noite teve seus momentos inusitados, principalmente no palco Tim Lab, onde tocou o soulman eletrônico Jamie Lidell. O inglês controlava uma mesa de som, além de diversas imagens projetadas no telão, com a ajuda de um assistente mascarado e surpreendeu o minguado público.
Em seguida, o show do cantor, ex-modelo e diretor de cinema Vincent Gallo não causou tanta empolgação. O som baixo e o vocal embolado tornavam impossível entender o que ele cantava. Gallo pediu diversas vezes para a produção aumentar o volume do microfone, mas não adiantou. Foi uma apresentação melancólica, mais propícia para uma estrutura intimista, como a dos palcos de jazz. O resultado foi que parte do público impaciente assobiava, outros pediam silêncio.
Celebridades como Caetano Veloso, Luana Piovani e Daniella Cicarelli circulavam pelo festival. "Achei o [Jamie] Lidell meio monótono. "Brown Bunny" [dirigido por Gallo] é o melhor filme que vi nos últimos tempos. Gosto do clima dele, cantando assim meio desafinado", afirmou Caetano.
A etapa carioca do Tim Festival termina hoje, com as apresentações de Elvis Costello, Television e Morcheeba.
(ADRIANA FERREIRA SILVA, BRUNO YUTAKA SAITO, TEREZA NOVAES)

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