São Paulo, terça-feira, 23 de outubro de 2007

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Crítica/"Glória ao Cineasta"

Como diretor em crise, Kitano busca o cômico, mas faz filme aborrecido

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Takeshi Kitano é um cineasta em crise tentando desesperadamente transformar esse momento em matéria de criação. Ator em quase todos os seus filmes -em geral, na pele de personagens violentos como o samurai cego de "Zatoichi" (2003)-, em seus dois longas mais recentes Kitano fez de sua própria persona o personagem principal.
"Glória ao Cineasta" é a resposta às críticas que recebeu por "Takeshi's" (2005). Seu filme anterior era uma brincadeira com o tipo mais popular do ator-diretor, Beat Takeshi, seu pseudônimo como astro cômico da TV japonesa a partir dos anos 70. No Festival de Veneza, "Takeshi's" foi considerado autocentrado e repetitivo. "Glória ao Cineasta" mostra um diretor disposto a experimentar. É o pretexto para vários esquetes em que Kitano se reinventa de forma desastrada.
Tenta gêneros como um filme de época que aspira ao Oscar, um filme de terror de olho no "remake" hollywoodiano, e, ainda, um drama intimista à moda de Yasujiro Ozu -provavelmente a maior antítese do estilo de Kitano, e por isso o episódio mais divertido.
Passados os esquetes, porém, o filme segue um caminho absurdo, em tese cômico, mas em geral só aborrecido, com duas mulheres em busca de enriquecer. As "gags", aqui, remetem aos programas de TV de Kitano, e, se as intenções do autor -relativizar ou pôr em xeque sua reputação como cineasta que ganhou no Ocidente- são interessantes, fica difícil, para quem não conhece tais programas, embarcar na viagem.
Conclusão: "Glória ao Cineasta", de um Kitano em crise consigo mesmo, não é assim um "8".


GLÓRIA AO CINEASTA
Produção:
Japão
Direção: Takeshi Kitano
Com: Takeshi Kitano, Tohru Emori
Quando: hoje, 19h, no Unibanco Arteplex 2; amanhã, 12h30, no Arteplex 3; dia 30, 16h30, no Belas Artes
Avaliação: regular


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