São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2008

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32ª MOSTRA EM SP

Crítica/"Canção de Baal"

Longa de estréia de Helena Ignez revê Brecht em tom antropofágico e marginal

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

"C anção de Baal", primeiro longa de Helena Ignez, musa do cinema novo, é uma versão antropofágica e marginal de "Baal", peça de juventude de Bertolt Brecht.
E é a voz do próprio Brecht que abre esse filme belo e insólito, respondendo ao interrogatório a que foi submetido nos anos 50 pelo Comitê de Atividades Anti-Americanas.
Escolha certeira. A caça às bruxas hoje não tem como alvo o comunismo, mas a arte que escapa aos parâmetros do mercado. O Baal do título (Carlos Careqa) é um poeta e trovador que, para manter sua independência, rejeita um mecenas.
Anárquico, lúbrico, bêbado, Baal prefere cantar em cabarés e tavernas, em meio ao lúmpen. Sua poesia é francamente grossa e libidinosa: "Meu nome é Baal,/ meu canto e minha poesia/ eu faço com meu pau".
Helena Ignez fez um filme de baixíssimo orçamento e alta liberdade narrativa, buscando fundir as potências do cinema, do teatro e da música. A ação se passa em qualquer lugar, a "mise-en-scène" rejeita toda e qualquer intenção naturalista.
Imagens a reter: Djin Sganzerla duplicada por sobreposição, a silhueta de Baal contra o poente, Simone Spoladore (Sofia, trágica amante camponesa) nua na água, a se dissolver. Já o poeta, libertário e hedonista, se consome em seu próprio fogo. "Canção de Baal" é, ao mesmo tempo, uma tragédia e uma celebração.

CANÇÃO DE BAAL
Quando: última sessão hoje, às 14h, no Unibanco Arteplex 4
Classificação: não indicado a menores de 14 anos
Avaliação: bom



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