São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMIDA

Lado B de Higienópolis

Nas cercanias do cemitério da Consolação, ruas escuras e ermas abrigam restaurantes badalados de várias especialidades, três deles estrelados

RACHEL BOTELHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Encostada a um cemitério, erma e mal iluminada como costumam ser essas vias, a rua Mato Grosso carecia de atrativos seis anos atrás -à parte o aluguel barato para os padrões de Higienópolis- quando o primeiro restaurante abriu suas portas no local. Hoje, no que pode ser apontada como uma verdadeira reocupação do espaço público, tornou-se o centro de um novo pólo gastronômico, capaz de concorrer com bairros tradicionais da boa mesa, como Itaim Bibi e Jardins.
Somadas as transversais Coronel José Eusébio, Pará e Itacolomi, somente na porção mais próxima ao cemitério da Consolação, o "lado B" de Higienópolis reúne, por enquanto, cinco restaurantes (três dos quais estrelados), doceria, bar, uma loja de chocolates e uma temakeria. Duas outras casas já foram alugadas com o mesmo propósito (veja no mapa).
Benny Novak, do Ici Bistrô, pode ser considerado o líder dessa turma. O premiado chef não só foi o primeiro a enxergar o potencial da região como faz as vezes de anfitrião, recebendo os novos vizinhos. "No início, meu sócio não gostou do ponto, mas eu estava voltando de uma temporada fora, com uma mentalidade européia e americana, onde lugares desse tipo funcionam", conta Novak.
Aberta em junho de 2002 no mesmo imóvel que abrigara a boulangerie Pain de France, a casa cedeu espaço anos mais tarde para o AK Delicatessen, de Andréa Kauffman. Instalado na rua Pará, a pouco mais de uma quadra de distância do primeiro endereço, Novak percebeu uma mudança na clientela. "O cara do bairro não andava a pé por ali, pegava o carro só para ir ao restaurante", diz.
No caso de Andréa, a escolha do ponto teve uma força do acaso. "Comecei a procurar em uma área próxima à praça Vilaboim, só que é muito cara. Até que um dia me perdi e caí na rua Mato Grosso. Acreditei desde o início que ficaria legal, mas, se não ficasse, sabia que era o possível", recorda. Para a chef, Higienópolis tem um público eclético, "de senhores idosos e senhoras chiquérrimas a um pessoal "cool", ligado a arte e moda. Além do que, está no meio do caminho entre o centro e os Jardins. A Carla [Pernambuco] antecipou isso muitos anos atrás."
As referências à proprietária do Carlota, primeiro restaurante de alta gastronomia a abrir as portas no bairro, não acabam aí. A fachada de tijolinhos brancos aparentes que se tornou marca registrada do restaurante da rua Sergipe pode ser vista também no Ici, no próprio AK e no Anita, o caçula do grupo, aberto em setembro. O branco, aliás, predomina também nos salões, nas paredes e nas toalhas, que fazem contraste com as onipresentes cadeiras de madeira em tons escuros.
Nos cardápios é que cada casa mostra sua identidade. O Ici oferece com maestria clássicos de bistrô, como steak tartare e cassoulet. No La Frontera, o que o chef Leonardo Botto define como "culinária de diversas regiões do mundo, com influências mediterrâneas e da cozinha sul-americana" se traduz em ceviche de peixe fresco com mandioca cremosa grelhada, para ficar em um exemplo.
O AK é o único a assumir a faceta judaica do bairro, no uso de ingredientes típicos dessa culinária. "Mas o público aqui é totalmente eclético. Os não-judeus são 70%", diz. Botto completa: "Vem gente de toda a cidade, de todas as idades. Não tem nada de gueto".


Texto Anterior: Bom e barato
Próximo Texto: Música: Melodia leva balanço ao "Especial MTV"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.