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COMIDA
Lado B de Higienópolis
Nas cercanias do cemitério da Consolação, ruas escuras e ermas abrigam restaurantes badalados de várias especialidades, três deles estrelados
RACHEL BOTELHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Encostada a um cemitério,
erma e mal iluminada como
costumam ser essas vias, a rua
Mato Grosso carecia de atrativos seis anos atrás -à parte o
aluguel barato para os padrões
de Higienópolis- quando o primeiro restaurante abriu suas
portas no local. Hoje, no que
pode ser apontada como uma
verdadeira reocupação do espaço público, tornou-se o centro de um novo pólo gastronômico, capaz de concorrer com
bairros tradicionais da boa mesa, como Itaim Bibi e Jardins.
Somadas as transversais Coronel José Eusébio, Pará e Itacolomi, somente na porção
mais próxima ao cemitério da
Consolação, o "lado B" de Higienópolis reúne, por enquanto, cinco restaurantes (três dos
quais estrelados), doceria, bar,
uma loja de chocolates e uma
temakeria. Duas outras casas já
foram alugadas com o mesmo
propósito (veja no mapa).
Benny Novak, do Ici Bistrô,
pode ser considerado o líder
dessa turma. O premiado chef
não só foi o primeiro a enxergar
o potencial da região como faz
as vezes de anfitrião, recebendo
os novos vizinhos. "No início,
meu sócio não gostou do ponto,
mas eu estava voltando de uma
temporada fora, com uma
mentalidade européia e americana, onde lugares desse tipo
funcionam", conta Novak.
Aberta em junho de 2002 no
mesmo imóvel que abrigara a
boulangerie Pain de France, a
casa cedeu espaço anos mais
tarde para o AK Delicatessen,
de Andréa Kauffman. Instalado
na rua Pará, a pouco mais de
uma quadra de distância do primeiro endereço, Novak percebeu uma mudança na clientela.
"O cara do bairro não andava a
pé por ali, pegava o carro só para ir ao restaurante", diz.
No caso de Andréa, a escolha
do ponto teve uma força do acaso. "Comecei a procurar em
uma área próxima à praça Vilaboim, só que é muito cara. Até
que um dia me perdi e caí na
rua Mato Grosso. Acreditei
desde o início que ficaria legal,
mas, se não ficasse, sabia que
era o possível", recorda. Para a
chef, Higienópolis tem um público eclético, "de senhores idosos e senhoras chiquérrimas a
um pessoal "cool", ligado a arte e
moda. Além do que, está no
meio do caminho entre o centro e os Jardins. A Carla [Pernambuco] antecipou isso muitos anos atrás."
As referências à proprietária
do Carlota, primeiro restaurante de alta gastronomia a abrir as
portas no bairro, não acabam
aí. A fachada de tijolinhos brancos aparentes que se tornou
marca registrada do restaurante da rua Sergipe pode ser vista
também no Ici, no próprio AK e
no Anita, o caçula do grupo,
aberto em setembro. O branco,
aliás, predomina também nos
salões, nas paredes e nas toalhas, que fazem contraste com
as onipresentes cadeiras de
madeira em tons escuros.
Nos cardápios é que cada casa mostra sua identidade. O Ici
oferece com maestria clássicos
de bistrô, como steak tartare e
cassoulet. No La Frontera, o
que o chef Leonardo Botto define como "culinária de diversas
regiões do mundo, com influências mediterrâneas e da
cozinha sul-americana" se traduz em ceviche de peixe fresco
com mandioca cremosa grelhada, para ficar em um exemplo.
O AK é o único a assumir a faceta judaica do bairro, no uso
de ingredientes típicos dessa
culinária. "Mas o público aqui é
totalmente eclético. Os não-judeus são 70%", diz. Botto completa: "Vem gente de toda a cidade, de todas as idades. Não
tem nada de gueto".
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