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Lançamento homenageia Jean Vigo e Paulo Emílio
Evento reúne o crítico Antonio Candido e Luce Vigo, filha do diretor francês
Viúva de Paulo Emílio Sales Gomes, Lygia Fagundes Telles diz que crítico e diretor francês tinham "vocação e paixão" como lemas
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
"Paulo Emílio era do contra,
sempre diferente dos outros."
Assim o professor Antonio
Candido, 91, -decano da crítica
literária nacional, pensador cuja obra se confunde com a consolidação da USP e autor de um
dos cânones dos estudos de interpretação do Brasil ("Formação da Literatura Brasileira")-
se referiu anteontem a outro
ensaísta proeminente que tem
seu nome intimamente ligado
ao desenvolvimento do cinema
nacional, o escritor Paulo Emílio Sales Gomes.
O depoimento pessoal foi dado no Cinesesc, no lançamento
da "Caixa Paulo Emílio", coedição Cosac Naify e Edições Sesc
SP que reúne dois ensaios clássicos de Paulo Emílio sobre o
cineasta Jean Vigo ("Vigo, Vulgo Almereyda" e "Jean Vigo"),
além de dois DVDs com a filmografia completa do diretor
francês.
Também participaram do
evento Luce Vigo, filha do cineasta que veio especialmente
da França, a escritora Lygia Fagundes Telles e Carlos Augusto
Calil, secretário municipal da
Cultura, que conviveu com
Paulo Emílio e teve um papel
essencial na recuperação dos
originais de "Vigo, Vulgo Almereyda", um trabalho extenso e
minucioso que já teve uma edição anterior no início dos anos
90 -o texto traça um perfil do
pai de Vigo, o anarquista francês Almereyda (1883-1917).
Antonio Candido falou com
autoridade sobre Paulo Emílio
(1916-1977), com quem ajudou
a criar a partir dos anos 40 a Cinemateca Brasileira (em seus
primórdios era o Clube de Cinema de São Paulo). Além de
amigos, os dois nesse período
também foram colegas na antológica revista "Clima". Para
Candido, o colega "tinha a capacidade de criar o escândalo
construtivo. Foi o amigo mais
fascinante que tive na vida".
Para o crítico, Paulo Emílio e
Vigo tinham muito em comum,
ressaltando a "conjunção espiritual" entre os dois. "Foi o encontro de um grande inconformado e heterodoxo com outro
grande inconformado e heterodoxo. Uma linda conjunção de
dois grandes revoltados e heterodoxos."
Viúva de Paulo Emílio, Lygia
Fagundes Telles disse que os lemas do escritor e de Jean Vigo
eram "a vocação e a paixão".
Luce Vigo recordou que tinha
três anos quando seu pai morreu e disse que ficou "muito
emocionada ao descobrir seu
pai pela obra de Paulo Emílio".
Calil lembrou que Vigo
(1905-1934), diretor dos clássicos "Zero em Comportamento"
e "O Atalante", foi um dos precursores da nouvelle vague e
influenciou especialmente
François Truffaut, outro cineasta rebelde que traduziu em
sua obra os problemas com a
orfandade.
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