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34ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO
Lágrimas dão o tom de ficção científica
"Não Me Abandone Jamais", baseado em livro de Kazuo Ishiguro, narra triângulo amoroso em contexto soturno
Ator relatou incômodo após ter lido roteiro; já atrizes protagonistas dizem até terem se divertido com filme
VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES
Se você quer se divertir, fuja de "Não Me Abandone Jamais", que passa hoje na
Mostra. São 103 minutos de
choro, introspeção e sofrimento. Se você quer pensar
sobre o sentido da vida, o papel que cada um tem na sociedade e sobre a morte, pode ser um bom programa.
O filme, baseado no romance homônimo de Kazuo
Ishiguro, acompanha a vida
de três britânicos desde que
são crianças num colégio interno no interior do país.
Lá, a disciplina é rígida.
Eles têm que comer bem e se
exercitar muito para manter
o corpo saudável.
São crianças tristes, parecem normais, até que um dia
uma professora lhes conta a
verdade. Estão sendo criadas
apenas para doarem seus órgãos aos que ficam doentes.
Na ficção de Ishiguro, esta
foi a saída encontrada pela
medicina para aumentar a
longevidade: trocar órgãos
que não funcionam.
A revelação não altera
muito a vida dos três, interpretados quando adultos por
Carey Mulligan, Keira Knightley e Andrew Garfield.
São muito amigos, vivem
sempre juntos até que Ruth
(Keira) e Tommy (Andrew)
começam um romance, o que
faz Kathy (Carey) se sentir
traída e com ciúmes.
O filme não se aprofunda
nas questões éticas nem explica a criação dos doadores.
Para o diretor, Mark Romanek, o foco está na história de
amor. "Apesar dos componentes de ficção científica, é
um triângulo amoroso entre
pessoas que conhecem seu
destino e o aceitam", disse.
Romanek é um diretor
competente, mas abusa de
clichês para ampliar o drama: fecha a câmera numa bolinha de críquete esquecida
no gramado ou em sacos
plásticos presos a cercas.
Mas o texto de Ishiguro,
preservado na adaptação,
garante uma certa qualidade
a esse filme, que, mais do que
qualquer outro, depende do
estado de espírito de quem
estiver assistindo.
O estado de espírito também determinou o efeito que
as filmagens tiveram no trio
de protagonistas.
Andrew diz que ficou deprimido. "Quando li o roteiro
pela primeira vez, senti um
incômodo. Depois, passei a
pensar muito na morte", afirmou o ator, que tem 27 anos.
DIVERSÃO
Com as mulheres foi diferente. "Fazia as cenas e depois saía com os meus amigos", disse Carey, 25.
Keira, que também tem 25
anos, diz que acha até engraçado fazer filmes tristes. "Duro é comédia. Se não dá certo
na primeira tomada, fica ainda mais difícil", afirmou.
Keira, que é uma mulher
muito bonita, aparece feia no
filme. Mas até isso ela achou
engraçado.
"Era divertido quando decidiam que roupa eu iria
usar. Eles falavam: essa ou
aquela, que cor ficará pior?"
NÃO ME ABANDONE JAMAIS
DIREÇÃO Mark Romanek
QUANDO hoje, às 0h, no Unibanco
Arteplex; amanhã, às 18h10, no
Espaço Unibanco; dia 27, às
13h30, no Cinesesc; dia 28, às
21h, no Cinemark Shopping
Eldorado; e dia 30, às 18h, no
Belas Artes
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
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