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São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2003

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"Depois que filmei, acabou", diz Carbonari

EUGÊNIO PUPPO
JEAN-CLAUDE BERNARDET
ESPECIAIS PARA A FOLHA

Um dos pioneiros na interface do cinema com o jornalismo, Primo Carbonari, 84, hoje, não dá entrevistas.
O recolhimento é um cuidado que Regina Carbonari adota para preservar o pai de possíveis dissabores em consequência de suas declarações, que continuam carregadas de ênfase, juízos definitivos e sentimentos extremados, embora, às vezes, careçam de precisão, quando invocam memórias distantes.
Os trechos a seguir fazem parte de uma conversa com o produtor Eugênio Puppo, 38, e o crítico Jean-Claude Bernardet, 64, autorizada (pela filha) e conduzida (pelo pai) como uma exceção.

Pergunta - Qual é sua origem?
Primo Carbonari -
Nasci na Barra Funda. Por parte do meu pai, os Carbonari foram ditadores. Foi um Carbonari quem cortou a cabeça da rainha da França, Maria Antonieta. Havia Carbonari também em Veneza. Os que vieram para o Brasil eram maçons. Por parte da minha mãe, eram sicilianos. Dos que vieram para o Brasil, uma parte foi trabalhar na Matarazzo, outra foi fazer estaleiro no Rio.

Pergunta - Quais são as coisas mais importantes que filmou?
Carbonari -
A morte de Getúlio Vargas (1883-1954), não é importante? A morte de Costa e Silva (1899-1969), não é importante? A morte dos generais, de todos os governadores.

Pergunta - As mortes são as coisas mais importantes?
Carbonari -
Por uma razão só, as mortes fazem parte de uma história.

Pergunta - Que filmagem lhe deu mais prazer?
Carbonari -
Depois de filmado, para mim, acabou. Começo a pensar em outra coisa.

Pergunta - Mas não há uma de que goste mais?
Carbonari -
Tive 60 prêmios do Instituto Nacional de Cinema Educativo, o que você quer mais? Derrotei todos. Tudo o que vocês podem imaginar na vida eu tive. Glórias, nunca tive derrota. Minha única derrota foi quando Collor de Mello assumiu a Presidência. Por uma razão só, ele estava muito ligado com o pessoal de TV. A única pessoa que segurava a situação entre a TV e o cinema era eu. Perdi naquele dia da extinção da Embrafilme... Tinha 65 empregados. Tive de vender propriedades, perdi US$ 30 milhões.


Eugênio Puppo é produtor de cinema; e Jean-Claude Bernardet é cineasta e crítico

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