São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 2005

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CRÍTICA

Músico domina a técnica, mas lhe falta maturidade

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BUENOS AIRES

Tomando como base o que se ouviu na última segunda-feira em Buenos Aires, o pianista chinês Lang Lang deve levantar a platéia da Sala São Paulo no sábado. O público culto do teatro Colón não se conteve e começou a aplaudi-lo efusivamente ao final do primeiro movimento do "Concerto nš 1" de Tchaikovski.
Méritos para tanto certamente não faltaram ao jovem artista. Lang tem uma sonoridade bonita e domina a técnica com grande segurança, ao ponto de fazer as dificílimas oitavas da obra do compositor russo parecerem de execução corriqueira.
Contudo, os mais exigentes talvez não se rendam a ele por Lang padecer de um mal que o tempo há de curar: o excesso de juventude. Nascido em 1982, o pianista ainda não temperou com a maturidade o deslumbramento consigo próprio, e, por vezes, em vez de colocar seu virtuosismo a serviço da música, parece tentado a fazer o contrário -como se verificou no bis, uma releitura idiossincrática da "Rapsódia Húngara", de Liszt, na qual os fogos de artifício eliminaram qualquer possibilidade de profundidade.
Profundidade que se verificou na regência de Jiri Belohlavek à frente da USB/Verbier Festival Orchestra, uma daquelas orquestras jovens que até parecem adultas pela excelência de seu fazer musical.
Na abertura da ópera "A Noiva Vendida", de Smetana, Belohlavek produziu milagres de transparência, auxiliado, por certo, pela acústica translúcida do teatro Colón -de uma transparência infelizmente inigualada do lado lusófono da bacia do Prata.
Na sétima sinfonia de Dvorák, regida de cor, Belohlávek mais uma vez brilhou, revelando uma profundidade que a partitura original do compositor tcheco talvez nem contenha, e redimindo, de vez, a pobre trompa que havia falhado no mais célebre tema do concerto de Tchaikovski.
Pena, apenas, que a Belohlavek tenha faltado o sentido de medida na duração do espetáculo. Pois os três bis que ele deu depois do concerto revelaram-se rasos e despropositados e acabaram roubando do espetáculo algo de sua grandeza.
(IFP)

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