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CRÍTICA
Músico domina a técnica, mas lhe falta maturidade
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BUENOS AIRES
Tomando como base o que se
ouviu na última segunda-feira em
Buenos Aires, o pianista chinês
Lang Lang deve levantar a platéia
da Sala São Paulo no sábado. O
público culto do teatro Colón não
se conteve e começou a aplaudi-lo
efusivamente ao final do primeiro
movimento do "Concerto nš 1" de
Tchaikovski.
Méritos para tanto certamente
não faltaram ao jovem artista.
Lang tem uma sonoridade bonita
e domina a técnica com grande
segurança, ao ponto de fazer as
dificílimas oitavas da obra do
compositor russo parecerem de
execução corriqueira.
Contudo, os mais exigentes talvez não se rendam a ele por Lang
padecer de um mal que o tempo
há de curar: o excesso de juventude. Nascido em 1982, o pianista
ainda não temperou com a maturidade o deslumbramento consigo próprio, e, por vezes, em vez de
colocar seu virtuosismo a serviço
da música, parece tentado a fazer
o contrário -como se verificou
no bis, uma releitura idiossincrática da "Rapsódia Húngara", de
Liszt, na qual os fogos de artifício
eliminaram qualquer possibilidade de profundidade.
Profundidade que se verificou
na regência de Jiri Belohlavek à
frente da USB/Verbier Festival
Orchestra, uma daquelas orquestras jovens que até parecem adultas pela excelência de seu fazer
musical.
Na abertura da ópera "A Noiva
Vendida", de Smetana, Belohlavek produziu milagres de transparência, auxiliado, por certo, pela acústica translúcida do teatro
Colón -de uma transparência
infelizmente inigualada do lado
lusófono da bacia do Prata.
Na sétima sinfonia de Dvorák,
regida de cor, Belohlávek mais
uma vez brilhou, revelando uma
profundidade que a partitura original do compositor tcheco talvez
nem contenha, e redimindo, de
vez, a pobre trompa que havia falhado no mais célebre tema do
concerto de Tchaikovski.
Pena, apenas, que a Belohlavek
tenha faltado o sentido de medida
na duração do espetáculo. Pois os
três bis que ele deu depois do concerto revelaram-se rasos e despropositados e acabaram roubando do espetáculo algo de sua
grandeza.
(IFP)
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