São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 2006 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Beatles animam Cirque du Soleil
Produtor George Martin cria "Love", um ótimo mix de samples que é trilha para novo espetáculo da trupe
ALEXANDRE MATIAS COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Nem Paul McCartney, nem Ringo Starr, nem Yoko Ono participaram do novo produto que leva a chancela oficial dos Beatles. O disco "Love", que chega às lojas do mundo inteiro nesta semana, mais do que uma coletânea é um "medley" gigantesco, em que o produtor George Martin e seu filho Giles repassam a carreira da banda inglesa como trilha sonora do novo espetáculo do Cirque du Soleil, em Las Vegas (EUA). Mas mesmo com forte tendência à pieguice, os Beatles mais uma vez fazem jus à sua fama de topo do pop. O produtor de todas as gravações do grupo deixou de lado obviedades como temas orquestrados, regravações com novos intérpretes e novas composições para fazer uma homenagem à altura de seu legado. É um conceito incrível, e mais incrível é a forma como ele funciona. "Love" é uma sinfonia de samples de diferentes fases da carreira do grupo, que entrelaçam canções umas às outras, criando um fluxo coeso de sentimento e informação. É o conceito de "mashup" que, desta vez, parte de um dos agentes do principal movimento cultural do século 20. O resultado é inacreditável. Com maior ênfase no período posterior a 1966, quando os quatro desistiram de fazer shows ao vivo para se dedicar e existir apenas nos sulcos dos discos de vinil, "Love" é a versão de Martin para o "Anthology". Sem medo dos fãs, o produtor optou pela "heresia" e interferiu no passado do grupo. Não podia ter sido mais feliz. Aula musical Para quem gosta de cultura pop, "Love" é "a" aula sobre Beatles para ser dada aos iniciantes e uma cápsula do tempo sobre a importância histórica do grupo. A base de "Tomorrow Never Knows" serve de apoio para o vocal de "Within You Without You", ressaltando a influência indiana na psicodelia. "Strawberry Fields Forever" passa por suas diferentes versões -da demo ao violão à versão final- em um só take, numa clara alusão ao passo mais ousado do grupo. "For the Benefit of Mr. Kite!" descamba na segunda parte de "I Want You (She's So Heavy)" e o violão de "Blackbird" serve como introdução para "Yesterday"; o solo de "Taxman" entra em "Drive My Car" e o final de "Come Together" se mistura ao de "Dear Prudence". Exemplos felizes destes transplantes musicais estão por todo o disco. Já para o fã dos Beatles, o disco é um sonho. Não importa o quão brega (ou não) possa ser o musical circense com personagens das canções se juntando à história da banda. Sozinha, a trilha é uma montanha-russa de sensações novíssimas, criadas a partir de velhos sabores. No imenso "mashup" de pai e filho Martin, os Beatles não só surgem como o principal legado cultural do século passado, mas como visionários sônicos, que abandonaram a performance ao vivo para abraçar as infinitas possibilidades do som gravado -abrindo uma fronteira cuja exploração assistimos até hoje. LOVE Artista: The Beatles Lançamento: EMI Quanto: R$ 40, em média Texto Anterior: Esculturas de Elisa Bracher são um convite à passagem Próximo Texto: George Harrison ganha homenagem Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |