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João Moreira Salles lança "Santiago"
Filme será exibido na seção "Mestres" do Festival Internacional de Documentários de Amsterdã, que começa nesta noite
Produção demorou 14 anos para ser elaborada e mostra imagens e sons que o diretor captou em um mergulho em sua própria infância
AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A AMSTERDÃ
Depois de 14 anos de elaboração, o mais pessoal documentário de João Moreira Salles,
"Santiago", tem lançamento
mundial amanhã dentro da
mostra informativa "Mestres"
do Festival Internacional de
Documentários de Amsterdã.
O principal evento do mundo
dedicado à produção não-ficcional começa na noite de hoje
com a projeção do documentário holandês "Quatro Elementos", de Jiska Rickels.
Complexo, original e reflexivo, "Santiago" pode ser definido como um documentário sobre um filme inacabado. Em
1992, estreando como cineasta,
João Moreira Salles rodou um
retrato de Santiago, o mordomo aposentado da família Moreira Salles no Rio de Janeiro.
Insatisfeito com o material registrado, deixou-o de lado.
Infância
Uma década e alguns clássicos depois ("Notícias de uma
Guerra Particular"; "Nelson
Freire"; "Entreatos"), João voltou a se debruçar sobre os sons
e imagens que captara num
mergulho em sua própria infância. Convidou para estudar
as novas possibilidades de
montagem do material ninguém menos que Eduardo Escorel, cineasta, montador e
coordenador do curso de pós-graduação em documentário
da Fundação Getúlio Vargas.
A parceira com Escorel estabelece uma ponte invisível entre "Santiago" e outro documentário por ele montado:
"Cabra Marcado para Morrer",
de Eduardo Coutinho. "Cabra"
trata de um filme interrompido
pela história. "Santiago", de um
documentário interrompido
pela insatisfação. Um filme inacabado por razões públicas.
Outro, por motivos eminentemente privados.
Passado e presente
"Santiago" é tanto autobiográfico quanto autocrítico. Ao
mesmo tempo que revisita o
passado familiar de João Moreira Salles, o filme discute as
alternativas, desafios e limitações do material por ele registrado como cineasta iniciante.
Mais que um documentário
que problematiza um projeto
antigo ou o presente, "Santiago" reflete sobre o processo que
une dois filmes -o passado,
inacabado, e o atual, que critica,
nega e remodela o primeiro.
O novo documentário de
João Moreira Salles será exibido fora de concurso dentro de
uma nova seção reservada a
obras inéditas de grandes nomes do documentário contemporâneo. A seu lado, entre outros, o americano Spike Lee, os
russos Alexander Sokúrov e
Marina Goldovskaya e os britânicos Nick Broomfield, Leslie
Woodhead e Michael Apted.
Além de "Santiago", quatro
outros documentários brasileiros participam do IDFA-2006.
Dois foram selecionados para a
competição de médias-metragens. São "Diário de Naná", de
Paschoal Samora, e "Meu Primeiro Contato", de Mari Correa da Silva Rimaud e Kumaré Ikpeng.
O curta "Saba", de Gregório
Graziosi e Thereza Menezes,
está na mostra "Paradocs" de
obras experimentais, enquanto
o curta "Maré Capoeira", de
Paola Barreto Leblanc, passa
no ciclo de documentários para
crianças.
Dezoito documentários internacionais concorrem ao
Prêmio Joris Ivens de melhor
longa-metragem. Desembarcam aqui com forte repercussão em seus países de origem títulos como o americano "Jesus
Camp", de Heidi Ewing e Rachel Grady, e o sueco "O Planeta", de Johan Soderberg, Michael Stenberg e Linus Torell.
Mostras especiais destacam
a atual produção chinesa e o cinema intimista do americano
Alain Berliner, além do tradicional foco na produção holandesa e de outras seções regulares, totalizando um programa
de mais de 250 títulos. A 19ª
edição da "Cannes do documentário" será encerrada no
dia 3 de dezembro.
O articulista AMIR LABAKI está em Amsterdã
como membro do "board" do festival.
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