|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ruínas urbanas dão o tom de bienal mexicana
Mostra ressalta similaridade temática de obras produzidas hoje no mundo
Exposição em Monterrey tem brasileiros como Rochelle Costi, André Komatsu e Dora Longo Bahia; fotografia
é suporte dominante
SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL A MONTERREY
Dora Longo Bahia e Henrique Oliveira conheceram bem
o centro e a periferia. Foram
buscar pedaços de ferro velho e
ripas de madeira para as obras
que montaram na Bienal de
Monterrey, aberta em 12 de novembro. "Parece as cidades do
Texas", lembra Oliveira. "Mas a
periferia parece o Brasil."
Cidade mexicana desértica, a
duas horas da fronteira com os
Estados Unidos, Monterrey parece também o sertão, a periferia de Lima e o centro de Detroit. E essa paisagem singular e ao mesmo tempo genérica vaza para os trabalhos dos quase cem artistas desta mostra.
Estão nas fotografias, suporte dominante, os registros de lugares desencontrados, sem
foco, espaços domésticos anônimos. São obras que multiplicam o que se faz hoje no mundo, numa espécie de arte globalizada, que registra rotinas urbanas em decomposição.
"Há muitos lugares abandonados, malconstruídos", descreve Magali Lara, artista mexicana. "As cidades são muito grandes e as fotos mostram os edifícios como ruínas futuras."
César López y López fotografa os escombros de uma casa.
No Brasil, André Komatsu já levou ruínas à galeria de arte. Andrea Martínez registra quartos
de hotel. Rochelle Costi também clicou aposentos anônimos numa série que mostrou
na Bienal de São Paulo. David
Corona, mexicano, mostra canteiros de obra à noite, o mesmo
que Rogério Canella fez nas escavações do metrô paulistano.
"Existe uma proximidade",
disse à Folha, em Monterrey, o
brasileiro Agnaldo Farias, responsável pela seleção do país
no México. "Muito do que está
aqui poderia ter sido feito no
Brasil, mas isso pode acontecer
nessa época de pouca singularidade e muita qualidade."
Moda
A Bienal de Monterrey, no
parque da Fundidora, ocupa
uma antiga siderúrgica, seguindo a tendência do uso de espaços como os armazéns do cais
de Porto Alegre, na Bienal do
Mercosul, os espaços fabris do
Dia Beacon, em Nova York, ou
galpões do Liceu de Artes e Ofícios na Paralela paulistana.
"É um pouco o que está na
moda", diz Oscar Farfán, artista premiado em Monterrey por
uma série em que fotografou aldeias arrasadas em genocídios
na Guatemala.
Também estão na mostra o
registro arquitetônico, com espaços sem gente. Se a brasileira
Dora Longo Bahia usa chapas
de ferro encontradas em Monterrey para estampar seus soldados no Afeganistão, Pablo
Rasgado, mexicano, junta pedaços dos muros de uma galeria
numa composição colorida.
"As problemáticas são similares", diz Rasgado. "Mas cada
pesquisa leva a algo diferente."
O mexicano Iñaki Bonillas
exibe anotações no verso das
fotos deixadas pelo avô. Raúl
Alvarado revê memórias de infância num vídeo -universos
particulares que acabam redundantes.
"Esse uso da fotografia como
registro performático da vida
do artista começou nos anos 80
e continua", observa Osvaldo
Sánchez, curador da seleção
mexicana. "Há ideias globais
que funcionam, mas há também clichês globais: se a obra
não tiver ressonância em seu
contexto, é muito chata."
O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite da
Bienal de Monterrey.
Texto Anterior: Crítica/'Album': Som simples e voz potente vão à praia em CD divertido Próximo Texto: Frase Índice
|