São Paulo, segunda-feira, 23 de novembro de 2009

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Ruínas urbanas dão o tom de bienal mexicana

Mostra ressalta similaridade temática de obras produzidas hoje no mundo

Exposição em Monterrey tem brasileiros como Rochelle Costi, André Komatsu e Dora Longo Bahia; fotografia é suporte dominante

SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL A MONTERREY

Dora Longo Bahia e Henrique Oliveira conheceram bem o centro e a periferia. Foram buscar pedaços de ferro velho e ripas de madeira para as obras que montaram na Bienal de Monterrey, aberta em 12 de novembro. "Parece as cidades do Texas", lembra Oliveira. "Mas a periferia parece o Brasil."
Cidade mexicana desértica, a duas horas da fronteira com os Estados Unidos, Monterrey parece também o sertão, a periferia de Lima e o centro de Detroit. E essa paisagem singular e ao mesmo tempo genérica vaza para os trabalhos dos quase cem artistas desta mostra.
Estão nas fotografias, suporte dominante, os registros de lugares desencontrados, sem foco, espaços domésticos anônimos. São obras que multiplicam o que se faz hoje no mundo, numa espécie de arte globalizada, que registra rotinas urbanas em decomposição. "Há muitos lugares abandonados, malconstruídos", descreve Magali Lara, artista mexicana. "As cidades são muito grandes e as fotos mostram os edifícios como ruínas futuras."
César López y López fotografa os escombros de uma casa.
No Brasil, André Komatsu já levou ruínas à galeria de arte. Andrea Martínez registra quartos de hotel. Rochelle Costi também clicou aposentos anônimos numa série que mostrou na Bienal de São Paulo. David Corona, mexicano, mostra canteiros de obra à noite, o mesmo que Rogério Canella fez nas escavações do metrô paulistano.
"Existe uma proximidade", disse à Folha, em Monterrey, o brasileiro Agnaldo Farias, responsável pela seleção do país no México. "Muito do que está aqui poderia ter sido feito no Brasil, mas isso pode acontecer nessa época de pouca singularidade e muita qualidade."

Moda
A Bienal de Monterrey, no parque da Fundidora, ocupa uma antiga siderúrgica, seguindo a tendência do uso de espaços como os armazéns do cais de Porto Alegre, na Bienal do Mercosul, os espaços fabris do Dia Beacon, em Nova York, ou galpões do Liceu de Artes e Ofícios na Paralela paulistana.
"É um pouco o que está na moda", diz Oscar Farfán, artista premiado em Monterrey por uma série em que fotografou aldeias arrasadas em genocídios na Guatemala.
Também estão na mostra o registro arquitetônico, com espaços sem gente. Se a brasileira Dora Longo Bahia usa chapas de ferro encontradas em Monterrey para estampar seus soldados no Afeganistão, Pablo Rasgado, mexicano, junta pedaços dos muros de uma galeria numa composição colorida.
"As problemáticas são similares", diz Rasgado. "Mas cada pesquisa leva a algo diferente."
O mexicano Iñaki Bonillas exibe anotações no verso das fotos deixadas pelo avô. Raúl Alvarado revê memórias de infância num vídeo -universos particulares que acabam redundantes.
"Esse uso da fotografia como registro performático da vida do artista começou nos anos 80 e continua", observa Osvaldo Sánchez, curador da seleção mexicana. "Há ideias globais que funcionam, mas há também clichês globais: se a obra não tiver ressonância em seu contexto, é muito chata."


O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite da Bienal de Monterrey.


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