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"Ela se metia na pele de seus projetos"
Depois da parceria com Le Corbusier, Charlotte Perriand fez objetos no Japão e projetou apartamento no Rio
Mobiliário de residência de seu marido, Jacques Martin, no Rio, está reproduzido na mostra da Escola da Cidade
DE SÃO PAULO
Demorou para Charlotte
Perriand se desvencilhar da
sombra de Le Corbusier, mas
a associação com a obra do
arquiteto ajudou a romper
barreiras num mundo ainda
dominado pelos homens.
Não tivesse trabalhado no
escritório do mestre, Perriand não teria conseguido o
primeiro emprego fora da
França, trampolim para toda
sua projeção internacional.
Indicada por um colega de
trabalho, ela foi para Tóquio
nos anos 40 como uma conselheira do governo japonês
para melhorar os padrões do
desenho industrial do país.
Sua filha, Pernette Perriand, lembra que a mãe muitas vezes não podia entrar
desacompanhada em prédios do governo e que muitos
no Japão resistiam a obedecer às ordens de uma mulher.
"Nunca foi fácil sua relação com os homens", lembra
a filha. "Ela não era tratada
como igual e tinha sempre
que dar muitas voltas na hora de aprovar o que queria."
Quando estourou a Segunda Guerra, Perriand tentou
voltar para a França, mas o
bloqueio naval imposto pelos Aliados impediu a fuga.
Ela passou quatro anos presa
no Vietnã, onde nasceu sua
filha. De quebra, aproveitou
para estudar técnicas locais
de marcenaria e costura.
CORTE E COSTURA
De volta à França, Perriand retomou sua parceria
com Le Corbusier, no projeto
da Unité d'Habitation, em
Marselha, e também trabalhou com o artista Fernand
Léger e o arquiteto Jean Prouvé, outro pioneiro do uso de
metais em prédios e objetos.
Mas a experiência japonesa e o tempo no Vietnã reforçaram outro lado da obra
dessa designer, filha de um
alfaiate e de uma costureira.
Perriand passou a incorporar traços da cultura e materais locais a seus desenhos.
Mesmo a célebre chaise longue acabou sendo reeditada
em bambu, madeira e tecido.
Quando seu marido, Jacques Martin, foi transferido
para dirigir o escritório da Air
France no Rio, nos anos 60,
Perriand desenhou todo o
mobiliário do apartamento
do casal no bairro do Leblon.
"Ela se enfiava na pele do
programa que devia cumprir,
executava tudo à risca", lembra Pernette Perriand. "Todos os móveis foram expressão de sua personalidade."
Uma vez no Rio, Perriand
conheceu Lucio Costa, que
também esteve às voltas com
Le Corbusier no projeto do
Ministério de Educação e
Saúde, e acabou sendo apresentada à elite intelectual e
política do país na época.
Suas viagens pelo Nordeste, a convite da família Arraes, renderam reinterpretações do artesanato local em
seus móveis. Também usou
técnicas indígenas nas estantes e divisórias que criou no
Rio -o ambiente está reproduzido na mostra paulistana.
Esse recurso a objetos populares, pinçados da cultura
local, também ajudou a aproximar Perriand da arquiteta
Lina Bo Bardi, que conheceu
em suas viagens ao Brasil.
"Ela acreditava que os objetos não deveriam perder
suas raízes", diz sua filha.
"Seu trabalho também se
pautou pela recuperação dos
materiais, como fez a Lina."
(SILAS MARTÍ)
CHARLOTTE PERRIAND
QUANDO de seg. a sex., 10h às 20h;
sáb., por agendamento; até 17/12
ONDE Escola da Cidade
(r. General Jardim, 65,
tel. 0/xx/11/ 3258-8108)
QUANTO grátis
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