São Paulo, terça-feira, 23 de novembro de 2010

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"Ela se metia na pele de seus projetos"

Depois da parceria com Le Corbusier, Charlotte Perriand fez objetos no Japão e projetou apartamento no Rio

Mobiliário de residência de seu marido, Jacques Martin, no Rio, está reproduzido na mostra da Escola da Cidade

DE SÃO PAULO

Demorou para Charlotte Perriand se desvencilhar da sombra de Le Corbusier, mas a associação com a obra do arquiteto ajudou a romper barreiras num mundo ainda dominado pelos homens.
Não tivesse trabalhado no escritório do mestre, Perriand não teria conseguido o primeiro emprego fora da França, trampolim para toda sua projeção internacional.
Indicada por um colega de trabalho, ela foi para Tóquio nos anos 40 como uma conselheira do governo japonês para melhorar os padrões do desenho industrial do país.
Sua filha, Pernette Perriand, lembra que a mãe muitas vezes não podia entrar desacompanhada em prédios do governo e que muitos no Japão resistiam a obedecer às ordens de uma mulher.
"Nunca foi fácil sua relação com os homens", lembra a filha. "Ela não era tratada como igual e tinha sempre que dar muitas voltas na hora de aprovar o que queria."
Quando estourou a Segunda Guerra, Perriand tentou voltar para a França, mas o bloqueio naval imposto pelos Aliados impediu a fuga.
Ela passou quatro anos presa no Vietnã, onde nasceu sua filha. De quebra, aproveitou para estudar técnicas locais de marcenaria e costura.

CORTE E COSTURA
De volta à França, Perriand retomou sua parceria com Le Corbusier, no projeto da Unité d'Habitation, em Marselha, e também trabalhou com o artista Fernand Léger e o arquiteto Jean Prouvé, outro pioneiro do uso de metais em prédios e objetos.
Mas a experiência japonesa e o tempo no Vietnã reforçaram outro lado da obra dessa designer, filha de um alfaiate e de uma costureira.
Perriand passou a incorporar traços da cultura e materais locais a seus desenhos. Mesmo a célebre chaise longue acabou sendo reeditada em bambu, madeira e tecido.
Quando seu marido, Jacques Martin, foi transferido para dirigir o escritório da Air France no Rio, nos anos 60, Perriand desenhou todo o mobiliário do apartamento do casal no bairro do Leblon.
"Ela se enfiava na pele do programa que devia cumprir, executava tudo à risca", lembra Pernette Perriand. "Todos os móveis foram expressão de sua personalidade."
Uma vez no Rio, Perriand conheceu Lucio Costa, que também esteve às voltas com Le Corbusier no projeto do Ministério de Educação e Saúde, e acabou sendo apresentada à elite intelectual e política do país na época.
Suas viagens pelo Nordeste, a convite da família Arraes, renderam reinterpretações do artesanato local em seus móveis. Também usou técnicas indígenas nas estantes e divisórias que criou no Rio -o ambiente está reproduzido na mostra paulistana.
Esse recurso a objetos populares, pinçados da cultura local, também ajudou a aproximar Perriand da arquiteta Lina Bo Bardi, que conheceu em suas viagens ao Brasil.
"Ela acreditava que os objetos não deveriam perder suas raízes", diz sua filha.
"Seu trabalho também se pautou pela recuperação dos materiais, como fez a Lina."
(SILAS MARTÍ)

CHARLOTTE PERRIAND

QUANDO de seg. a sex., 10h às 20h; sáb., por agendamento; até 17/12
ONDE Escola da Cidade (r. General Jardim, 65, tel. 0/xx/11/ 3258-8108)
QUANTO grátis


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