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Tomie Ohtake completa 97 anos com exposição de obras inéditas
Em menos de 2 anos, criou 25 telas para mostra que abre hoje no instituto que leva seu nome
Artista diz que foi um desafio trabalhar com o círculo, "o primeiro desenho que os bebês fazem com dedinhos"
FABIO CYPRIANO
DE SÃO PAULO
"Faz tempo que não nos
vemos. Você envelheceu,
né?", disse Tomie Ohtake, às
vésperas de comemorar seus
97 anos, completados anteontem, a este repórter, durante a entrevista sobre sua
nova mostra, em seu ateliê.
"Acho que o Ricardo [Ohtake, seu filho] não vai gostar
do que eu falei, mas eu não
sei guardar as coisas, coloco
tudo para fora", sorri.
A pintora costuma ser direta, mesmo que para tanto desagrade um pouco.
Desde pequena, ela queria
ser artista e chegou a estudar
aquarela na escola, mas o
meio conservador em que
cresceu no Japão, entre a Primeira e a Segunda Guerra
Mundial, não favorecia suas
vontades.
A forma que ela encontrou
para escapar foi convencer a
mãe, em 1936, que vinha visitar o irmão no Brasil. "Eu tinha de dar um jeito de sair do
Japão e prometi a ela que vinha para ficar um ano", conta. Três meses depois de desembarcar, Tomie Nakakubo
se casava com o engenheiro
agrônomo Ushio Ohtake,
morto em 1977.
BIFE A CAVALO
Apesar da identidade japonesa, Tomie nunca foi de
ficar em gueto. Ela vivia na
Mooca, "onde era tudo italiano", relembra-se. Seus filhos
estudaram em escola católica e sua dieta vai bem além
de sushi e sashimi. "Nunca
me esqueço do bife a cavalo
que comi, quando desembarquei no Brasil. É uma das minhas comidas favoritas."
Persistência também é outra marca de Tomie. Teve
dois filhos e, só após criá-los,
quando já estava próxima
dos 40 anos, começou de fato
sua carreira artística, como
autodidata. Então o que estava guardado por tanto tempo
começou a aflorar.
E sem parar. Só para a
mostra "Pinturas Recentes",
que inaugura hoje, ela realizou, em menos de dois anos,
25 telas, todas de grandes dimensões, tendo o círculo como tema central.
Por que o círculo? "É uma
forma muito sintética. Trabalhar só com ele é um grande
desafio. E ele é também o primeiro desenho que os bebês
fazem com os dedinhos",
conta, repetindo o gesto.
Em um texto de 1961, o crítico Mário Pedrosa (1901-1981) escreveu que Tomie era
"uma pintora que ainda está
se formando, numa personalidade já desabrochada",
portanto, nela, "a obra corre
atrás da personalidade".
Agora, quase 50 anos depois, "Pinturas Recentes" revela como obra e personalidade estão afinadas.
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