São Paulo, terça-feira, 23 de novembro de 2010

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Tomie Ohtake completa 97 anos com exposição de obras inéditas

Em menos de 2 anos, criou 25 telas para mostra que abre hoje no instituto que leva seu nome

Artista diz que foi um desafio trabalhar com o círculo, "o primeiro desenho que os bebês fazem com dedinhos"

FABIO CYPRIANO
DE SÃO PAULO

"Faz tempo que não nos vemos. Você envelheceu, né?", disse Tomie Ohtake, às vésperas de comemorar seus 97 anos, completados anteontem, a este repórter, durante a entrevista sobre sua nova mostra, em seu ateliê.
"Acho que o Ricardo [Ohtake, seu filho] não vai gostar do que eu falei, mas eu não sei guardar as coisas, coloco tudo para fora", sorri.
A pintora costuma ser direta, mesmo que para tanto desagrade um pouco.
Desde pequena, ela queria ser artista e chegou a estudar aquarela na escola, mas o meio conservador em que cresceu no Japão, entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, não favorecia suas vontades.
A forma que ela encontrou para escapar foi convencer a mãe, em 1936, que vinha visitar o irmão no Brasil. "Eu tinha de dar um jeito de sair do Japão e prometi a ela que vinha para ficar um ano", conta. Três meses depois de desembarcar, Tomie Nakakubo se casava com o engenheiro agrônomo Ushio Ohtake, morto em 1977.

BIFE A CAVALO
Apesar da identidade japonesa, Tomie nunca foi de ficar em gueto. Ela vivia na Mooca, "onde era tudo italiano", relembra-se. Seus filhos estudaram em escola católica e sua dieta vai bem além de sushi e sashimi. "Nunca me esqueço do bife a cavalo que comi, quando desembarquei no Brasil. É uma das minhas comidas favoritas."
Persistência também é outra marca de Tomie. Teve dois filhos e, só após criá-los, quando já estava próxima dos 40 anos, começou de fato sua carreira artística, como autodidata. Então o que estava guardado por tanto tempo começou a aflorar.
E sem parar. Só para a mostra "Pinturas Recentes", que inaugura hoje, ela realizou, em menos de dois anos, 25 telas, todas de grandes dimensões, tendo o círculo como tema central.
Por que o círculo? "É uma forma muito sintética. Trabalhar só com ele é um grande desafio. E ele é também o primeiro desenho que os bebês fazem com os dedinhos", conta, repetindo o gesto.
Em um texto de 1961, o crítico Mário Pedrosa (1901-1981) escreveu que Tomie era "uma pintora que ainda está se formando, numa personalidade já desabrochada", portanto, nela, "a obra corre atrás da personalidade".
Agora, quase 50 anos depois, "Pinturas Recentes" revela como obra e personalidade estão afinadas.


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