São Paulo, segunda-feira, 23 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"REBOLO 100 ANOS"

Livro articula olhares sobre artista paulistano

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

"Rebolo 100 Anos" é livro íntegro. Apesar das muitas partes, articula pontos de vista complementares com amplo repertório de imagens.
A edição propõe uma imagem de enraizamento na história da arte moderna brasileira. É composta por dois ensaios inéditos de Olívio Tavares de Araújo e Elza Maria Ajzenberg, antologia crítica, entrevista e dados biográficos.
O personagem central é construído como herói. Transita da decoração de paredes para o quadro de cavalete a partir de 1934, testemunhando a modernização do profissional das tintas rumo à autonomia e independência.
A origem classista liga Francisco Rebolo ao Grupo Santa Helena. Juntamente com Penacchi, Volpi, Graciano, Bonadei, Martins e Zanini, compartiu oficinas num edifício da Praça da Sé após 1935.
Mário de Andrade chama os Santa Helena de "artistas proletários", selando a ligação do grupo com os modernos.
O capítulo central persegue o modernismo no estilo do homenageado. Segundo Ajzenberg, a iniciação dele aos quadros coincidiria com o fortalecimento do nacionalismo entre o grupo da Semana de 22.
"Sem ser um artista envolvido nessa problemática, Rebolo estabelece sintonia com este aspecto, na medida em que se volta para uma reflexão sobre o cotidiano. Trata, nas paisagens, os contrastes e semelhanças entre a vida urbana e os pequenos sítios."
A genealogia antiacadêmica é proposta pela autora por meio de comparações com os clássicos vanguardistas. Por um lado, o contato com Hugo Adami filia Rebolo à pincelada dos realistas italianos. Por outro, viaja à Europa após premiação no Salão Nacional de Arte Moderna, em 1954.
Entretanto o primitivismo é afirmado como valor singularizante. Ajzenberg mantém interpretação consagrada afirmando que Rebolo "intui que a profunda unidade do homem e da natureza, que em outro tempo fora espontânea, ameaça desfazer-se".
Contudo a coletânea final multiplica os pontos de vista. Tarsila do Amaral, Roger Bastide, Di Cavalcanti, Sérgio Milliet e muitos outros testemunham a fecundidade da atenção da crítica sobre o desenrolar da obra.
O livro apresenta um Rebolo que soube conciliar crenças estéticas e profissionalismo na invenção do artista contemporâneo de São Paulo.


Rebolo 100 Anos
   
Coordenação editorial: Antonio Gonçalves e Lisbeth Rebollo Gonçalves
Editora: Edusp/Imprensa Oficial do Estado
Quanto: R$ 92 (304 págs.)



Texto Anterior: Artes plásticas: "Produção afirmava vitalidade da pintura"
Próximo Texto: Panorâmica - Literatura: Morre aos 80 anos o poeta espanhol José Hierro
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.