|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"REBOLO 100 ANOS"
Livro articula olhares sobre artista paulistano
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
"Rebolo 100 Anos" é livro
íntegro. Apesar das muitas partes, articula pontos de vista
complementares com amplo repertório de imagens.
A edição propõe uma imagem
de enraizamento na história da
arte moderna brasileira. É composta por dois ensaios inéditos de
Olívio Tavares de Araújo e Elza
Maria Ajzenberg, antologia crítica, entrevista e dados biográficos.
O personagem central é construído como herói. Transita da
decoração de paredes para o quadro de cavalete a partir de 1934,
testemunhando a modernização
do profissional das tintas rumo à
autonomia e independência.
A origem classista liga Francisco
Rebolo ao Grupo Santa Helena.
Juntamente com Penacchi, Volpi,
Graciano, Bonadei, Martins e Zanini, compartiu oficinas num edifício da Praça da Sé após 1935.
Mário de Andrade chama os
Santa Helena de "artistas proletários", selando a ligação do grupo
com os modernos.
O capítulo central persegue o
modernismo no estilo do homenageado. Segundo Ajzenberg, a
iniciação dele aos quadros coincidiria com o fortalecimento do nacionalismo entre o grupo da Semana de 22.
"Sem ser um artista envolvido
nessa problemática, Rebolo estabelece sintonia com este aspecto,
na medida em que se volta para
uma reflexão sobre o cotidiano.
Trata, nas paisagens, os contrastes e semelhanças entre a vida urbana e os pequenos sítios."
A genealogia antiacadêmica é
proposta pela autora por meio de
comparações com os clássicos
vanguardistas. Por um lado, o
contato com Hugo Adami filia
Rebolo à pincelada dos realistas
italianos. Por outro, viaja à Europa após premiação no Salão Nacional de Arte Moderna, em 1954.
Entretanto o primitivismo é
afirmado como valor singularizante. Ajzenberg mantém interpretação consagrada afirmando
que Rebolo "intui que a profunda
unidade do homem e da natureza, que em outro tempo fora espontânea, ameaça desfazer-se".
Contudo a coletânea final multiplica os pontos de vista. Tarsila
do Amaral, Roger Bastide, Di Cavalcanti, Sérgio Milliet e muitos
outros testemunham a fecundidade da atenção da crítica sobre o
desenrolar da obra.
O livro apresenta um Rebolo
que soube conciliar crenças estéticas e profissionalismo na invenção do artista contemporâneo de
São Paulo.
Rebolo 100 Anos
Coordenação editorial: Antonio
Gonçalves e Lisbeth Rebollo Gonçalves
Editora: Edusp/Imprensa Oficial do
Estado
Quanto: R$ 92 (304 págs.)
Texto Anterior: Artes plásticas: "Produção afirmava vitalidade da pintura" Próximo Texto: Panorâmica - Literatura: Morre aos 80 anos o poeta espanhol José Hierro Índice
|