São Paulo, domingo, 23 de dezembro de 2007

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Mônica Bergamo

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Isca de vip

Mulheres vestidas de onça, governador Sérgio Cabral, filhos de Luma de Oliveira e cachorro-quente com champanhe animam festa em navio no Rio de Janeiro; VIPs de São Paulo vão de avião. Por Paulo Sampaio

Danilo Verpa/Folha Imagem
O "barco-evento"


O vôo fretado pelo empresário Eike Batista para levar um grupo de VIPs de SP para a festa de inauguração do barco-evento Pink Fleet, no Rio de Janeiro, está marcado para 19h, mas são 19h e ninguém apareceu em Cumbica. Saiu às 20h.

 

O Pink Fleet tem 300 pés, está ancorado na Marina da Glória e foi "especialmente projetado para turismo, negócios, entretenimento". Um rapaz de camiseta preta com os dizeres "Les Jardins de Versailles" em letras de lantejoulas prateadas chega ao terminal de embarque. Será VIP? "Não. Estou indo para Jaci Paraná, em Rondônia", diz Vandi da Rocha. A promoter Valentina explica que a lista tinha mais de 1.300 convidados, "mas uns tiveram que ser cortados, porque não cabia todo mundo". O barco só comporta 450 visitantes por vez.
 

Dos 174 lugares do Airbus-A300, apenas 66 estão ocupados. Ninguém é famoso. No vôo, o assunto é o Réveillon. "Quer ir pra Jurerê [Internacional, Florianópolis] com tudo pago, passagem, pousada...?", pergunta a promoter para a socialite. A moça fica de pensar. Este ano, o high-society paulistano decidiu que o 31 tem de ser em Jurerê ou Punta [Del Este].
 

O avião aterrissa. Eike Batista recebe os convidados e câmeras de TV ao lado dos dois filhos que tem com Luma de Oliveira: Thor, 16, e Olin, 12. Thor, 1,87m, 74 kg, tem o cabelo muito louro de farmácia. "Passo um produto chamado Sun Tun", afirma ele, ao lado da namorada, Jéssica, 14. O garoto diz que a mãe é sua melhor amiga. "Conto tudo pra ela." Como é ser filho de um símbolo sexual? "Meus amigos dizem que minha mãe é uma gostosa [rindo]. Não ligo. Eu tenho o maior orgulho dela."
 


Eike faz uma longa preleção com elogios a Cabral. O governador segura o paletó com a mão, na altura da barriga, e ri contente.


O governador Sérgio Cabral, do Rio, chega. Sobe ao palco junto com Luciano Huck, o mestre de cerimônias, e uma fileira de políticos e empresários: o secretário de Turismo, Rubem Medina, o secretário do Desenvolvimento Econômico, Júlio Bueno, o deputado federal Eduardo Paes (PSDB-RJ), o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, o empresário Olavo Monteiro de Carvalho.
 

Huck diz que está ali como amigo e admirador de Eike. "Ele tem o dom de subverter a ordem de tudo. Poderia estar em casa aproveitando o que tem, curtindo os filhos e, no entanto, está aqui trabalhando em mais um empreendimento..." Eike faz uma longa preleção com elogios rasgados a Sérgio Cabral: "Há 20 anos não temos um governador que nos dá tanto orgulho...". Cabral segura o paletó com a mão, na altura da barriga, e ri contente.
 

"Cambada de canalhas, filhos da p...! Olha a cara deles", diz, entre dentes, uma mulher na platéia, sem parar de sorrir para o governador e o empresário. "Tenho muitos projetos", continua Eike. "Fiz o Mr. Lam [restaurante chinês], vou inaugurar um hospital para dar conforto ao morador da Barra [da Tijuca]..."
 

"Vai fazer o que esse p... desse governador não consegue", continua a mulher, que não se identifica para a reportagem porque diz que o filho trabalha com Eike. O empresário fala ainda que tem o sonho de nadar "numa lagoa Rodrigo de Freitas limpa. Quero ir da curva do Calombo ao clube Piraquê". O grupo entra no barco para uma visita.
 

Antes de se deixar fotografar na proa, como Leonardo Di Caprio em "Titanic", Eike posa para fotos com o governador e diz ao ouvido dele: "Temos muito o que conversar [referindo-se ao porto de Açu, perto de Barra de São João, no litoral fluminense, obra de US$ 700 milhões]. Precisamos falar sobre uma desapropriação necessária naquela área...". E Cabral: "Claro, está resolvido: este vai ser o meu trabalho de casa...".
 

Morena, 1,74 m, 56 kg, a advogada Flávia Sampaio, 27, namorada de Eike há três anos, assiste a tudo de longe. Ela diz que nunca foi apresentada a Luma, e não sente "complexo de sucessora".
 

"Não existe comparação. Somos completamente diferentes", afirma ela, dentro de um minivestido frente única de paetês fúcsia hiperdecotado.
 

O autor do modelo, Tony Palha, se apresenta, explica que conhece "direitinho o gosto da Flávia" e que usou 4.000 paetês na confecção do vestido. Quanto custa? "R$ 4.000."
 

Flávia diz que ela e Luma são "duas mulheres seguras". "O que houve entre eles está resolvido. Agora, o Eike é só meu."
 

Maria Paula, a do "Casseta & Planeta", chega à festa sozinha, por volta de meia-noite. Não é tarde? "Eu sou carioca, amigo." Carioca chega tarde? "Isso quando chega!"
 

Narcisa Tamborindeguy sobe ao convés. Fala a jornalistas de imprensa escrita como se estivesse olhando para uma câmera de TV invisível. "Além de louca e absurda, não chego na hora nunca!" Ela explica que seu novo livro, "Ai, que Absurdo!", é uma seleção de "crônicas do cotidiano, sobre pessoas reais, mas com os nomes subliminados [sic]". Quanto ao barco de Eike, Tamborindeguy acha que "o turista merece conhecer as baías [sic] de Guanabara. E deixar no Rio muita plata, pounds, euros...".
 

A socialite carioca Beth Pinto Guimarães, vestindo um Jean Paul Gaultier com estampa de onça, conversa com a amiga Andréa Rudge, também de onça. "Quer mais uma onça?", pergunta Beth, e chama Yara Figueiredo para a foto das três onças. O bufê de canapés de patês agridoces é reforçado por barraquinhas de hot-dog. "O argentino toma champanhe com pizza, a gente, com cachorro-quente", diz um empresário depois de uma mordida.
 

É 1h30, hora de voltar para SP. O vôo sai às 3h. Numa das vans, meio altos de champanhe, os VIPs começam a gritar "Liga o rádio!", batem palma e dançam no banco. O motorista se aborrece ("Vocês vão destruir a van!") e é xingado. Diego Rodrigues, "administrador de carreiras de modelos", diz no aeroporto: "Destruir a van, imagina! Eu deveria ter dado meu relógio [Rolex] pra ele e dito: "Toma, querido, vale mais que a van". Pobre é foda!".


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