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Sem maracatu, cena musical se renova
Novas bandas oscilam entre o antagonismo direto ao mangue beat e a reinvenção de ritmos populares como o brega
Numa via de mão dupla,
grupos fazem releitura de
sons globais sem sair de
Recife e buscam concretizar
carreiras internacionais
DA ENVIADA ESPECIAL A RECIFE
Quinze anos depois do lançamento de "Da Lama ao Caos",
de Chico Science e Nação Zumbi, a cena musical do Recife está
mais para o caos de múltiplas
influências trazidas pela web
do que para lama do mangue
onde brotaram os ritmos tradicionais pernambucanos.
Artistas como Zé Cafofinho e
Suas Correntes radicalizaram a
pregação do mangue beat ao
misturar Caribe, samba, sertão
e África. A maioria dos grupos,
no entanto, prefere evitar o
movimento como referência.
"Depois do mangue beat, maracatu virou aeróbica. Está em
todo lugar", polemiza a cantora
Catarina Dee Jah, 31, ironizando o que se tornou um clichê
pernambucano. "Preferi beber
no brega, que para mim é a verdadeira MPB, a música do povo. Ela nasce no cotovelo, passa
pelo coração e sai pela boca,
sem passar pela cabeça", diz
ela, que criou uma mistura divertida e satírica de rock com
batidas de dub e brega.
De dentro para fora
No outro extremo do rompimento com a herança do mangue beat estão bandas que cantam em inglês e que poderiam
ter surgido tanto em Recife
quanto no interior da Inglaterra -o que, aliás, seria um adianto pra eles. O Sweet Fanny
Adams, que faz indie rock à
Strokes, é uma delas. Depois de
tocar no CMJ, festival independente de Nova York, em outubro passado, a banda vai gravar
o primeiro CD fora do Brasil.
"Aqui não tem estúdio bom",
dispara o guitarrista Hélder Bezerra, 26. "Estamos fora dessa
cena de influências regionais.
Nossa cena é rock. E, nesse sentido, complica um pouco estar
em Recife. Nosso foco é numa
carreira fora do país."
Para grupos que reverberam
os ecos do mangue beat ao beber em fontes tradicionais, estar em Recife é bom, mas estar
no mundo é muito melhor.
É isso o que comemora a Orquestra Contemporânea de
Olinda. Em menos de três anos
de vida, teve o disco indicado ao
Grammy Latino 2009, ganhou
resenha elogiosa no "New York
Times" e se prepara para uma
turnê nos EUA em março.
De fora para dentro
Um grupo de jovens produtores foi combustível da atual cena de música. Ao criar o festival
Coquetel Molotov, que levou ao
Recife shows de bandas internacionais como Beirut (EUA) e
Peter, Björn & John (Suécia),
gerou novas influências. É o caso da Banda de Joseph Tourton, grupo de garotos de 18 anos
que faz pós-rock instrumental
com cara de Tortoise -o grupo
tocou em Recife numa das edições do evento.
(FERNANDA MENA)
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