São Paulo, quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

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Sem maracatu, cena musical se renova

Novas bandas oscilam entre o antagonismo direto ao mangue beat e a reinvenção de ritmos populares como o brega

Numa via de mão dupla, grupos fazem releitura de sons globais sem sair de Recife e buscam concretizar carreiras internacionais


DA ENVIADA ESPECIAL A RECIFE

Quinze anos depois do lançamento de "Da Lama ao Caos", de Chico Science e Nação Zumbi, a cena musical do Recife está mais para o caos de múltiplas influências trazidas pela web do que para lama do mangue onde brotaram os ritmos tradicionais pernambucanos.
Artistas como Zé Cafofinho e Suas Correntes radicalizaram a pregação do mangue beat ao misturar Caribe, samba, sertão e África. A maioria dos grupos, no entanto, prefere evitar o movimento como referência.
"Depois do mangue beat, maracatu virou aeróbica. Está em todo lugar", polemiza a cantora Catarina Dee Jah, 31, ironizando o que se tornou um clichê pernambucano. "Preferi beber no brega, que para mim é a verdadeira MPB, a música do povo. Ela nasce no cotovelo, passa pelo coração e sai pela boca, sem passar pela cabeça", diz ela, que criou uma mistura divertida e satírica de rock com batidas de dub e brega.

De dentro para fora
No outro extremo do rompimento com a herança do mangue beat estão bandas que cantam em inglês e que poderiam ter surgido tanto em Recife quanto no interior da Inglaterra -o que, aliás, seria um adianto pra eles. O Sweet Fanny Adams, que faz indie rock à Strokes, é uma delas. Depois de tocar no CMJ, festival independente de Nova York, em outubro passado, a banda vai gravar o primeiro CD fora do Brasil.
"Aqui não tem estúdio bom", dispara o guitarrista Hélder Bezerra, 26. "Estamos fora dessa cena de influências regionais. Nossa cena é rock. E, nesse sentido, complica um pouco estar em Recife. Nosso foco é numa carreira fora do país."
Para grupos que reverberam os ecos do mangue beat ao beber em fontes tradicionais, estar em Recife é bom, mas estar no mundo é muito melhor.
É isso o que comemora a Orquestra Contemporânea de Olinda. Em menos de três anos de vida, teve o disco indicado ao Grammy Latino 2009, ganhou resenha elogiosa no "New York Times" e se prepara para uma turnê nos EUA em março.

De fora para dentro
Um grupo de jovens produtores foi combustível da atual cena de música. Ao criar o festival Coquetel Molotov, que levou ao Recife shows de bandas internacionais como Beirut (EUA) e Peter, Björn & John (Suécia), gerou novas influências. É o caso da Banda de Joseph Tourton, grupo de garotos de 18 anos que faz pós-rock instrumental com cara de Tortoise -o grupo tocou em Recife numa das edições do evento.
(FERNANDA MENA)


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