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MÚSICA
Free jazz chega aos 50 anos com reinvenções
Estilo que sacudiu o jazz se renova com músicos como o paulista Ivo Perelman
Músicos de diferentes lugares revitalizam o legado de pioneiros como Ornette Coleman e mantêm aura radical e provocadora
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Há cinco décadas, o mundo
do jazz era sacudido por músicos cansados da mesmice a que
o estilo tinha se acomodado.
Surgia o free jazz, carregado de
dissonâncias, polêmica e rejeição -traços que o acompanham até hoje. Em meio a veteranos sobreviventes, como o
pioneiro Ornette Coleman, e
músicos mais jovens, o free jazz
tem se revitalizado, mas vem
mantendo sua aura radical.
Diversificada e abrangente, a
atual cena free jazz mostra o
quanto o estilo permanece vivo
e provocador. E a ampla leva de
discos que acaba de chegar ao
mercado internacional ilustra
esse momento: músicos de diferentes partes do mundo explorando formações instrumentais e parcerias diversas.
Um dos nomes mais atuantes
é o saxofonista sueco Mats
Gustafsson. Parceiro do guitarrista Thurston Moore, do Sonic
Youth, em diferentes projetos,
Gustafsson tem procurado fazer uma ponte entre o garage
rock e o free jazz. Com seu novo
trio, o Fire!, Gustafsson acaba
de colocar no mercado "You Liked Me Five Minutes Ago".
Gustafsson é conhecido por
suas releituras instrumentais
em alta voltagem, que já passaram por faixas como "To Bring
You My Love" (PJ Harvey) e
"Art Star" (Yeah Yeah Yeahs).
No piano, a grande figura hoje é o americano Matthew
Shipp. O músico tem emprestado seu dedilhado a inusitados
projetos, tendo gravado com os
rappers do Antipop Consortium e com o DJ Spooky. Shipp
acaba de preparar "4D", álbum
solo no qual ecoam suas andanças além do jazz, que o distanciam da pegada mais clássica de
um Brad Mehldau.
Na globalizada cena free jazzística, não faltam brasileiros.
O mais destacado é o saxofonista paulista Ivo Perelman. Radicado em Nova York, Perelman,
48, tem mantido uma intensa
produção, que supera os 30 álbuns. Acaba de lançar Mind Games, um power trio de sax-baixo-bateria. "O free jazz não
apenas permanece vivo como
também tem se embrenhado
no tecido da própria música
contemporânea, se mesclando
e ecoando em outros estilos.
Como expressão artística, está
mais vigoroso que nunca", disse Perelman, de NY, à Folha.
As mulheres estão presentes
na cena e, diferentemente do
que se está acostumado a ver
quando o assunto é jazz, não
são majoritariamente nem pianistas nem cantoras. A baixista
francesa Joelle Leandre é uma
das mais destacadas. Ao lado de
William Parker, mostra no novo "Live at Dunois" um raro e
sedutor duo de baixos.
O leque de lançamentos traz
ainda o último trabalho de Joe
Morris, considerado por muitos o grande da guitarra free
contemporânea. Morris, munido de uma guitarra sem pedais
ou efeitos, cria com seu quarteto um som que pode até parecer suave, mas que oferece
pouca facilidade de escuta.
História de cinco décadas
A gênese do free jazz está associada ao nome do saxofonista
Ornette Coleman. No fim dos
anos 50, Coleman juntou um
quarteto com o qual desafiou as
regras da época. Em outubro de
59, gravou "Change of the Century" (mudança do século), álbum que trazia a faixa "Free" e
anunciava as transformações
sonoras que se aproximavam.
No ano seguinte, Coleman
intensifica suas pesquisas e cria
o seminal álbum "Free Jazz".
Revolucionário até em sua formação, que contava com dois
bateristas e dois baixistas, além
de sopros, "Free Jazz" acabou
por batizar o estilo nascente.
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