São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2004

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ENTRELINHAS

Um por todos

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem nenhum destaque, quase que se esquivando de holofotes, o nome mais célebre da geografia brasileira vem polinizando livros por São Paulo. Aziz Ab'Saber, 78, professor emérito da USP, entregou na quinta-feira na sede da União Brasileira das Escolas de Samba de São Paulo mais um "embrião de biblioteca", como ele chama os acervos que tem distribuído.
A história começou há um mês, quando ele entregou algumas centenas de livros para a Sociedade Amigos do Conjunto Modelar, da Cohab Adventista. Desde então, Ab'Saber já montou, na raça, bibliotecas comunitárias na comunidade de Conceiçãozinha, no litoral paulista, e na escola de samba Vai-Vai, no Bexiga. "As escolas de samba são bons espaços que ficam por vezes abandonados. A classe média só se lembra delas quando é para ver gente semi-pelada fazendo festa."
Ab'Saber diz que com esse trabalho, que faz questão de afirmar não ter (nem pretender ter) nenhuma verba pública (os livros são doações), não quer ser visto como um novo Betinho. "Só quero mostrar que com nada de dinheiro e boa vontade é possível ajudar o outro."

CHIMARRÃO GLOBAL
A balança comercial literária tem sido favorável às gaúchas: "A Casa das Sete Mulheres", de Letícia Wierzchowski, acaba de ser vendido para a editora grega Enalios. "Perdas e Ganhos", de Lya Luft, foi negociado com a Métailié, da França.

SAMBA DO JABUTI
Está pronto o "Guia de Orientação aos Jurados" do Prêmio Jabuti. Os jurados de poesia, por exemplo, que antes só escolhiam os premiados, agora terão de dar notas para dez quesitos de cada livro: criatividade, procedimentos formais, economia, essencialidade, experiência ético-estética, modificação de mundos, estratégias implícitas, sentido, código poético e "presente, passado e futuro". Ufa.

BREJO DAS ALMAS
José Mojica Marins, o Zé do Caixão, nunca pensou pequeno. Diz que está finalizando seu primeiro "grande livro", que começa em 2019 com um asteróide que vai destruir a Terra e retrocede até "15 bilhões de anos antes do Big Bang". Ele procura editora.

VERDADE TROPICAL
Alguma coisa acontece não só no coração de Caetano. No dos editores da prestigiada revista "Terceira Margem", da Universidade do Porto, também. A publicação, que já editou inéditos de João Cabral de Melo Neto, imprimiu em seu último número um poema vellosiano: "O Poeta em Dacar".

ACELERADOR
A Melhoramentos abriu a torneira para divulgar sua parceria com o Instituto Ayrton Senna (IAS). A editora está investindo R$ 700 mil para anunciar que durante o período de volta às aulas parte da renda obtida com os dicionários "Michaelis Escolar" de língua portuguesa, inglês e espanhol, vai para programas sociais do IAS.

@ - elek@folhasp.com.br

FORA DA ESTANTE

O qualificado compositor e escritor bissexto Aldir Blanc declarou certa vez publicamente que padecia da Síndrome de Huizinga. Não se tratava de doença contagiosa, nem tinha o letrista de "O Bêbado e a Equilibrista" se desequilibrado nos copos de pinga. Ele se referia à dificuldade crônica de encontrar um livro que tanto gostaria de ler, "O Outono da Idade Média" (também chamado de "O Declínio da Idade Média"), do holandês Johan Huizinga (1872-1945). Blanc, no artigo do site www.no.com.br (hoje "reencarnado" como www.nominimo.com.br), dizia ter revirado livrarias, sebos e bibliotecas, e nada de encontrar o clássico. Um dos pioneiros da chamada história das mentalidades, usa nesse livro de 1919 aspectos "micro" para desenhar a "macro" passagem da Idade Média para o Renascimento. Não é o único trabalho de Huizinga -que me dizem pronunciar-se algo como "ráuzinrra"- fora das estantes brasileiras. Autor de livros importantes, como uma biografia de Erasmo de Roterdã ou "A Civilização Holandesa no Século 17", não traduzidos para o português, ele só tem seu igualmente clássico "Homo Ludens" em catálogo, graças à brava editora Perspectiva.


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