São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Fotógrafo autografa hoje primeira edição brasileira com suas obras e abre exposição na Pinacoteca

Vik Muniz descobre sua gramática visual

LUCRECIA ZAPPI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Vik Muniz abriu mão das matrizes de suas fotografias. Doou-as para a Biblioteca Nacional em dezembro. "Mais que um esforço de preservação da obra, é uma tentativa de me proteger de mim mesmo", explica Muniz, que diz ser muito "assediado" por causa dessas matrizes, que são a base de suas imagens. "É uma tentação, mas eu não posso vendê-las, porque se colocasse a matriz e a foto no mesmo plano criaria um curto-circuito ético", diz.
A partir dessa doação, a Biblioteca Nacional decidiu editar não só as fotos das matrizes mas também fotos de todas as séries feitas pelo artista até o momento no livro "Vik Muniz: Obras Incompletas", que será lançado hoje na Pinacoteca do Estado.
Em edição bilíngüe inglês-português de capa dura, o primeiro livro brasileiro de Muniz traz 360 imagens. A edição tem textos inéditos do curador brasileiro Moacir dos Anjos e dos críticos americanos Shelley Rice e James Elkins. Fora do país, o artista acumula cinco edições sobre seu trabalho.
"É a primeira vez que a biblioteca participa de um projeto de livro de arte contemporânea, o que está perfeitamente dentro dos nossos objetivos porque as matrizes das obras do Vik agora são parte do nosso acervo", observa Pedro Correa do Lago, presidente da Biblioteca Nacional.
Muniz também abre hoje na Pinacoteca a exposição "Retratos de Revista". A série de 13 retratos é feita de papel de revistas picado: "Para fazer a pele eu usei papel de revistas pornográficas; para o cabelo, revistas para cabeleireiros".
A relação da fotografia com o mundo real e a ilusão da fotografia são os principais elementos de pesquisa de Muniz. O desenho é o primeiro elemento da sua produção criativa, mas a forma final para todas as suas idéias é a foto. "Tento expor os mecanismos da interpretação da imagem, como ela é pensada, onde estão os gatilhos cognitivos, para descobrir novas formas de ver a imagem e ir além delas", diz.
Muniz explora o horizonte da percepção visual dos objetos e diz gostar de "jogar com os conceitos da gramática visual". "Trabalho com o reconhecimento de imagens arquetípicas de coisas comuns. Há a imagem que está na cabeça da pessoa e a imagem que foi reconstruída por mim. Você só contribui com a metade da obra de arte porque ela só acontece quando tem uma pessoa adiante, que repensa seus arquivos de imagens."
Muniz, que mora em Nova York há mais de dez anos, expõe nesse ano no Irish MOMA (Museu de Arte Moderna irlandês) e lança mais um livro em setembro, através da editora especializada em fotografia, Aperture, de Nova York.
Para o artista, o mais importante é ficar atento às miudezas do cotidiano. Sua obra é um reflexo dessa banalidade aparente, impressa com os elementos mais triviais como arame, açúcar, chocolate, terra, chocolate e algodão -tudo para criar desenhos.
Cercado por quatro assistentes, Muniz diz que o maior trabalho é "gerenciar" a criatividade, que aflora em alta rotatividade: desenha, escreve, esculpe ou está em busca de algum helicóptero para fotografar vôos livres.
As nuvens, aliás, são uma metáfora para Muniz. "Todo o mundo olha as nuvens e imagina formas. Eu gosto de ficar experimentando sobre isso. Eu digo às pessoas: "Aquela parece uma foto". Agora, através da minha janela estou vendo uma que parece um porquinho", diz Muniz.


VIK MUNIZ: OBRAS INCOMPLETAS. Edição: Biblioteca Nacional. Lançamento hoje, das 11h às 14h. Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, Bom Retiro, tel. 229-9844). Quanto: R$ 120.

RETRATOS DE REVISTA. Abertura da exposição hoje, das 11h às 14h. Quando: de ter. a dom.: das 10h às 17h30. Quanto: R$ 4. Até 28/3. Onde: Pinacoteca do Estado.



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