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ARTES PLÁSTICAS
Fotógrafo autografa hoje primeira edição brasileira com suas obras e abre exposição na Pinacoteca
Vik Muniz descobre sua gramática visual
LUCRECIA ZAPPI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Vik Muniz abriu mão das matrizes de suas fotografias. Doou-as
para a Biblioteca Nacional em dezembro. "Mais que um esforço de
preservação da obra, é uma tentativa de me proteger de mim mesmo", explica Muniz, que diz ser
muito "assediado" por causa dessas matrizes, que são a base de
suas imagens. "É uma tentação,
mas eu não posso vendê-las, porque se colocasse a matriz e a foto
no mesmo plano criaria um curto-circuito ético", diz.
A partir dessa doação, a Biblioteca Nacional decidiu editar não
só as fotos das matrizes mas também fotos de todas as séries feitas
pelo artista até o momento no livro "Vik Muniz: Obras Incompletas", que será lançado hoje na Pinacoteca do Estado.
Em edição bilíngüe inglês-português de capa dura, o primeiro livro brasileiro de Muniz traz 360
imagens. A edição tem textos inéditos do curador brasileiro Moacir dos Anjos e dos críticos americanos Shelley Rice e James Elkins.
Fora do país, o artista acumula
cinco edições sobre seu trabalho.
"É a primeira vez que a biblioteca participa de um projeto de livro
de arte contemporânea, o que está
perfeitamente dentro dos nossos
objetivos porque as matrizes das
obras do Vik agora são parte do
nosso acervo", observa Pedro
Correa do Lago, presidente da Biblioteca Nacional.
Muniz também abre hoje na Pinacoteca a exposição "Retratos de
Revista". A série de 13 retratos é
feita de papel de revistas picado:
"Para fazer a pele eu usei papel de
revistas pornográficas; para o cabelo, revistas para cabeleireiros".
A relação da fotografia com o
mundo real e a ilusão da fotografia são os principais elementos de
pesquisa de Muniz. O desenho é o
primeiro elemento da sua produção criativa, mas a forma
final para todas as suas
idéias é a foto. "Tento expor os mecanismos da
interpretação da imagem, como ela é pensada,
onde estão os gatilhos
cognitivos, para descobrir novas formas de ver
a imagem e ir além delas", diz.
Muniz explora o horizonte da percepção visual dos objetos e diz gostar de "jogar com os conceitos da gramática visual". "Trabalho com o
reconhecimento de imagens arquetípicas de coisas comuns. Há a imagem que está na cabeça
da pessoa e a imagem
que foi reconstruída por
mim. Você só contribui
com a metade da obra de
arte porque ela só acontece quando tem uma
pessoa adiante, que repensa seus arquivos de
imagens."
Muniz, que mora em
Nova York há mais de
dez anos, expõe nesse
ano no Irish MOMA
(Museu de Arte Moderna
irlandês) e lança mais um
livro em setembro, através da editora especializada em fotografia, Aperture, de Nova York.
Para o artista, o mais
importante é ficar atento
às miudezas do cotidiano. Sua obra é um reflexo
dessa banalidade aparente, impressa com os elementos mais triviais como arame, açúcar, chocolate, terra, chocolate e algodão
-tudo para criar desenhos.
Cercado por quatro assistentes,
Muniz diz que o maior trabalho é
"gerenciar" a criatividade, que
aflora em alta rotatividade: desenha, escreve, esculpe ou está em
busca de algum helicóptero para
fotografar vôos livres.
As nuvens, aliás, são uma metáfora para Muniz. "Todo o mundo
olha as nuvens e imagina formas.
Eu gosto de ficar experimentando
sobre isso. Eu digo às pessoas:
"Aquela parece uma foto". Agora,
através da minha janela estou
vendo uma que parece um porquinho", diz Muniz.
VIK MUNIZ: OBRAS INCOMPLETAS.
Edição: Biblioteca Nacional. Lançamento
hoje, das 11h às 14h. Onde: Pinacoteca
do Estado (pça. da Luz, 2, Bom Retiro, tel.
229-9844). Quanto: R$ 120.
RETRATOS DE REVISTA. Abertura da
exposição hoje, das 11h às 14h. Quando:
de ter. a dom.: das 10h às 17h30. Quanto:
R$ 4. Até 28/3. Onde: Pinacoteca do
Estado.
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