São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 2010

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Crítica/DVD/"Os Amantes da Ponte Neuf"

Drama subverte clichês do romantismo ligados a Paris

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Das muitas vantagens trazidas pelo DVD, a mais evidente consiste em repor em circulação filmes um dia descartados, seja por avaliação apressada ou inadequada, seja por terem caído no esquecimento por algum motivo alheio a seus méritos ou deméritos. A esta categoria pertence "Os Amantes da Ponte Neuf", realizado pelo diretor francês Leos Carax em 1991.
Na época de seu lançamento, Carax sofria de superexposição, após a recepção acalorada que tiveram seus dois primeiros longas -"Boy Meets Girl" e "Sangue Ruim"-, vistos como filmes da geração de estilistas extravagantes dos anos 80 que tinha Jean-Jacques Beineix ("Betty Blue") e Luc Besson ("Subway") à frente.
Isso lhe permitiu torrar dezenas de milhões de francos numa produção acidentada que envolveu até uma caríssima reconstituição em estúdio de toda a área em torno da ponte, uma das mais centrais de Paris.
E tanto exagero para quê? Para contar a história de dois excluídos que se encontram e se apaixonam durante os trabalhos de restauração da ponte durante a comemoração do bicentenário da Revolução Francesa.
Michèle (Juliette Binoche) é uma estudante de arte que perde o rumo ao fim de uma paixão e passa a viver na rua, onde desenvolve uma doença que a faz perder a visão. Alex (Denis Lavant) é um mendigo que vive de pequenos furtos e faz apresentações como cuspidor de fogo.
O filme acompanha os devaneios amorosos do casal, do encontro à separação, no cenário quase único da ponte. Mas Carax guarda dessa história apenas o esqueleto, enquanto desdobra a vivência afetiva do par em projeções visuais em que se entrelaçam fragmentos da sofisticada cultura cinematográfica do diretor com subversões da eterna associação de Paris com os clichês do romantismo.
O resultado permanece difícil, desigual em muitos momentos, mas ainda guarda intactos instantes de fulguração, que nos ajudam a lembrar que o cinema também pode ser poesia, em vez da prosa linear e previsível que se tornou.


OS AMANTES DA PONTE NEUF

Lançamento: Lume
Quanto: R$ 39,90 (16 anos)
Avaliação: bom




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