São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 2000


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Mojica cria sem dinheiro nem cultura

da Reportagem Local

Nos melhores filmes de José Mojica Marins, os cemitérios são feitos de isopor, e as pedras, de papel. As imagens são muito escuras, às vezes claras demais. Mais irritante, os diálogos são sempre, mas sempre mesmo, fora de sincronia com os lábios dos atores.
É por portar características como essas -"sem dinheiro nem cultura", disse Rogério Sganzerla- que um dos mais populares autores de cinema do Brasil nunca foi aceito pelo público intelectualizado. Mas por trás da embalagem amassada, Mojica criou um dos raros personagens genuinamente brasileiros. (IF)

"À Meia-Noite Levarei Sua Alma" (64) -
Estréia do personagem Zé do Caixão, um agente funerário que busca a mulher capaz de gerar o filho perfeito. Traz cenas inspiradas na linguagem das histórias em quadrinhos (na abertura, no uso de closes e nas narrações em off). A tomada em que come carne de carneiro assistindo à procissão da Sexta-Feira Santa resume o espírito de Zé, sem que seja necessária uma única fala. Durante todo o tempo, ele se destaca da multidão por meio de eficientes tomadas de câmera, sempre colocando-o um nível acima de quem quer que seja.

Avaliação:     

"Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver" (67) -
Mais sofisticado, conta com um elenco de dezenas de aranhas e cobras, além de meia dúzia de garotas de baby-doll. Em dado momento, Zé é arrastado para o inferno e o filme se torna colorido. Para possibilitar a construção e a filmagem, Mojica fez o inferno de gelo (pipoca e gesso, na verdade), e não de fogo. Ao final, perseguido por populares, Zé do Caixão morria negando Deus. Os censores o obrigaram a dizer exatamente o contrário. É o filme mais popular do diretor.

Avaliação:     

"O Estranho Mundo de Zé do Caixão" (68) -
Com Zé do Caixão só no nome, traz três episódios de horror. O segundo, sem diálogos, mostra o amor de um mendigo por uma linda moça do bairro. Ela morre, ele invade seu túmulo e... você sabe. O último, o único com a participação de Mojica como ator, traz uma fila de perversões e torturas, de chumbo quente a canibalismo. A censura exigiu sete cortes. O filme foi lançado com 63 minutos, em vez de 80.

Avaliação:    

"O Despertar da Besta" (69) -
Aqui Mojica abandona o horror sobrenatural e faz seu filme mais violento, ainda que sem sangue. Ambientado na São Paulo da contracultura, revela o terror da miséria, da prostituição, dos penicos, dos espancamentos, das bundas fumantes, da maconha, do LSD e da cocaína. Atores se picam de verdade e a polícia bate, numa montagem drogada. Psicólogos discutem com Mojica o poder das drogas e a influência de Zé do Caixão na juventude. Quatro atores tomam ácido e o filme fica colorido. Há uma história aí, que dá para entender lá pela metade do filme. O tipo de obra cinco estrelas, interditada durante 16 anos.

Avaliação:     

"Finis Hominis" (71) -
Espécie de negação de Zé do Caixão, Finis Hominis só faz o bem. De bata indiana, salva uma adúltera de linchamento e faz ressuscitar um homem. Mas, ao contrário de Jesus Cristo, recusa-se a ter seguidores. Com mais erotismo, é o único filme colorido da leva.

Avaliação:    


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