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Mojica cria sem dinheiro nem cultura
da Reportagem Local
Nos melhores filmes
de José Mojica Marins,
os cemitérios são feitos
de isopor, e as pedras,
de papel. As imagens
são muito escuras, às
vezes claras demais.
Mais irritante, os diálogos são sempre, mas
sempre mesmo, fora
de sincronia com os lábios dos atores.
É por portar características como essas
-"sem dinheiro nem
cultura", disse Rogério
Sganzerla- que um dos mais populares autores de cinema do Brasil nunca foi aceito pelo público
intelectualizado. Mas por trás da
embalagem amassada, Mojica
criou um dos raros personagens
genuinamente brasileiros.
(IF)
"À Meia-Noite Levarei Sua
Alma" (64) - Estréia do personagem Zé do Caixão, um agente funerário que busca a mulher capaz
de gerar o filho perfeito. Traz cenas inspiradas na linguagem das
histórias em quadrinhos (na
abertura, no uso de closes e nas
narrações em off). A tomada em
que come carne de carneiro assistindo à procissão da Sexta-Feira
Santa resume o espírito de Zé,
sem que seja necessária uma única fala. Durante todo o tempo, ele
se destaca da multidão por meio
de eficientes tomadas de câmera,
sempre colocando-o um nível
acima de quem quer que seja.
Avaliação:
"Esta Noite Encarnarei no
Teu Cadáver" (67) - Mais sofisticado, conta com um elenco de
dezenas de aranhas e cobras,
além de meia dúzia de garotas de
baby-doll. Em dado momento,
Zé é arrastado para o inferno e o
filme se torna colorido. Para possibilitar a construção e a filmagem, Mojica fez o inferno de gelo
(pipoca e gesso, na verdade), e
não de fogo. Ao final, perseguido
por populares, Zé do Caixão
morria negando Deus. Os censores o obrigaram a dizer exatamente o contrário. É o filme mais
popular do diretor.
Avaliação:
"O Estranho Mundo de Zé do
Caixão" (68) - Com Zé do Caixão só no nome, traz três episódios de horror. O segundo, sem
diálogos, mostra o amor de um
mendigo por uma linda moça do
bairro. Ela morre, ele invade seu
túmulo e... você sabe. O último, o
único com a participação
de Mojica como ator, traz
uma fila de perversões e
torturas, de chumbo
quente a canibalismo. A
censura exigiu sete cortes.
O filme foi lançado com
63 minutos, em vez de 80.
Avaliação:
"O Despertar da Besta" (69) - Aqui Mojica
abandona o horror sobrenatural e faz seu filme
mais violento, ainda que
sem sangue. Ambientado
na São Paulo da contracultura, revela o terror da miséria,
da prostituição, dos penicos, dos
espancamentos, das bundas fumantes, da maconha, do LSD e da
cocaína. Atores se picam de verdade e a polícia bate, numa montagem drogada. Psicólogos discutem com Mojica o poder das drogas e a influência de Zé do Caixão
na juventude. Quatro atores tomam ácido e o filme fica colorido.
Há uma história aí, que dá para
entender lá pela metade do filme.
O tipo de obra cinco estrelas, interditada durante 16 anos.
Avaliação:
"Finis Hominis" (71) - Espécie
de negação de Zé do Caixão, Finis
Hominis só faz o bem. De bata indiana, salva uma adúltera de linchamento e faz ressuscitar um
homem. Mas, ao contrário de Jesus Cristo, recusa-se a ter seguidores. Com mais erotismo, é o
único filme colorido da leva.
Avaliação:
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