São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Inimigo Rumor" antecipa festa de 10 anos

ESPECIAL PARA A FOLHA

É preciso coragem para publicar uma revista de poesia. E bravura não falta aos poetas, descendentes de Orfeu, aquele que foi ao inferno e voltou. Meio chamuscado, mas voltou. Ao contrário de Orfeu, porém, cuja lira comovia mundos e fundos, os poetas de hoje não têm público e daí talvez advenha - tão necessária - sua coragem: revistas como a "Inimigo Rumor" (que ora chega ao nº 19) são fundamentais para a divulgação do gênero.
A curta sobrevivência de publicações dedicadas à criação literária tornou-se clichê lamentável, mas verdadeiro (eis outro clichê). Em geral criados por grupos de entusiastas e amigos, tais periódicos (a denominação nem sempre é correta, já que "periodicidade" não é seu forte) sofrem com problemas financeiros, de distribuição, falta de qualidade e com a indiferença dos leitores. Sem platéia com que se confrontar, não é incomum poetas digladiarem-se entre si mesmos. É assim, por cissiparidade e ódio fraternal, que novos grupos e revistas se formam.
Não é o caso da longeva "Inimigo Rumor". Dirigida pelo "bloco do rigor" liderado no início apenas por Carlito Azevedo e Julio Castañon Guimarães, a revista preferiu congregar a segregar e conta hoje com numeroso conselho editorial, além de revelar novos e velhos autores. Os "velhos" achados da edição atual incluem longo poema de Emmanuel Hocquard (Cannes, 1940), entre os principais nomes da poesia francesa contemporânea, quase desconhecido por aqui, e um ensaio incontornável de Frank O'Hara sobre a pintura de Jackson Pollock.
Mas não pára aí. Numa antecipação do clima celebratório da 20ª edição que comemorará dez anos da publicação, o show da festa ficou reservado aos amigos. A cereja do bolo é "Um a Menos", poema fragmentário e autoreferente do paulista Heitor Ferraz, raro por ser longo no trabalho de um poeta conhecido pela brevidade. O espírito da festa, no entanto, cabe à série de polaróides líricas dedicada aos amigos por Aníbal Cristobo, poeta argentino que viveu no Rio de Janeiro nos anos 90 e cuja inquietude trouxe impasses positivos: suas narrativas irônicas e rarefeitas deixaram marcas por aqui, acrescentando humor ao rigor um tanto esteticista do grupo reunido em torno de "Inimigo Rumor". (JOCA REINERS TERRON)

INIMIGO RUMOR 19     
Editora: Cosacnaify e 7Letras
Quanto: R$ 28 (160 págs.)


Texto Anterior: Livros - Crítica/prosa poética: Trevisan ainda ecoa em obra de Bueno
Próximo Texto: Historiadora politiza o desejo e a relação entre gêneros
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.