À moda do Nascimento de "Tropa", protagonista de "The Shield" tem conduta paradoxal

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Se porventura, durante a maratona de lançamentos de "Tropa de Elite" no exterior, faltarem argumentos ao diretor José Padilha para descolar seu filme dos rótulos "fascista" e "elogio da tortura", ele já tem a quem pedir uma força: o roteirista Shawn Ryan.
É ele o criador de "The Shield: Acima da Lei", série que flagra o cotidiano de uma espécie de "Bope de Los Angeles", o Strike Team -e que agora tem suas duas primeiras temporadas lançadas por aqui em DVD.
Elogios derramados da crítica norte-americana e prêmios no Globo de Ouro e no Emmy não impediram que o programa fosse alvo de ressalvas pontuais: falou-se em apologia da brutalidade policial e chiou-se por conta do suposto perfil heróico do líder do grupo, Vic Mackey. Soa familiar.
O protagonista adota a linha "os fins justificam os meios": tortura suspeitos a fim de obter confissões e faz toda sorte de acordos com quadrilhas de traficantes para enfraquecer facções rivais e, assim, maquiar estatísticas de violência. Em casa, o casamento tropica, mas ele não mede carinhos com os filhos autistas.
Na primeira temporada, os métodos de trabalho pouco ortodoxos de Mackey são investigados pela chefia após a morte, em circunstâncias nebulosas, de um dos integrantes da divisão de elite. O segundo ano enfoca a caçada ao traficante Armadillo Quintero (e os laços obtusos de Mackey com czares das drogas), além dos preparativos do Strike Team para o saque a um trem carregado de dinheiro da máfia armênia.
Ao longo dos 26 episódios iniciais, a escalação de Michael Chiklis (de "Quarteto Fantástico") para o papel central mostra-se acertada. Diálogos enxutos e estética naturalista são outros sustentáculos; só falta prestigiar um pouco mais os enredos dos coadjuvantes.